sexta-feira, dezembro 30, 2011

Fim do mundo em 2012

Ao misturar arqueologia, ciência e religião, teorias apocalípticas ganham popularidade e fazem crescer o número de pessoas que se preparam para o juízo final
Aos 71 anos, o relojoeiro aposentado Tikao Tanaka passa seus dias contando as horas que lhe restam até o mundo acabar. O senhor de gestos contidos e sorriso tímido, natural da cidade de Guararapes, no interior de São Paulo, diz estar se preparando para o fim dos tempos, marcado para o dia 21 de dezembro de 2012. Junto de sua família, Tanaka comprou uma propriedade de 20 mil metros quadrados no município de Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros, um dos poucos lugares, que, segundo ele, serão preservados após um tsunami devastar a costa brasileira no dia fatídico. “Quando a hora chegar, vou me mudar para lá de vez”, diz. Acreditando na mesma teo­ria apocalíptica, a irmã e o cunhado do relojoeiro já estão na cidade goiana há pelo menos três meses.
A exemplo dos discípulos do professor Hirota, muita gente acredita que o mundo pode acabar em 2012. Ou pelo menos que catástrofes e tragédias de proporções nunca antes vistas estão marcadas para ocorrer no próximo ano, mais especificamente no dia 21 de dezembro. A data, que assinala o fim do calendário solar dos maias – uma das mais importantes civilizações pré-colombianas –, levantou toda sorte de teorias apocalípticas e desencadeou um fenômeno cuja magnitude se compara aos desastres previstos. Segundo um relatório da “Missão Interministerial de Luta contra Seitas” (Miviludes), da França, foram registrados mais de 2,5 milhões de sites que propagam profecias sobre 2012. Já existe até uma rede social exclusiva para aqueles que acreditam nas teorias fatalistas e desejam se preparar para o dia final. Chamado “2012 Connect”, o portal conta com mais de 1,5 mil membros. O site da Nasa (Agência Espacial Americana) recebeu nos últimos três anos milhares de mensagens de pessoas desesperadas para saber se há possibilidade de o mundo acabar em breve. Seitas que aguardam o fim dos dias se proliferam em vários cantos do planeta e até o governo do México, região onde viveram os maias, quer tirar proveito da febre do fim do mundo. As cidades que conservam as ruínas da antiga civilização devem receber 52 milhões de turistas em 2012, 30 milhões a mais do que o habitual.
Mais ao Sul do País, na cidade de Porto Belo, em Santa Catarina, a migração de turistas é motivada por uma seita chamada “Movimento Salvai Almas”, fundada em 1997 pelo aposentado Cláudio Heckert, 66 anos. Católico e pai de sete filhos, Heckert diz receber mensagens de Nossa Senhora constantemente, entre elas um alerta de que o mundo passará por uma terceira guerra mundial em maio de 2012. “Três bombas nucleares serão detonadas”, diz Arnaldo Haas, porta-voz do grupo, que garante ter respaldo bíblico para todas as previsões que chegam de Maria, mãe de Jesus, através de Heckert. Segundo o suposto profeta, quem sobreviver à hecatombe atômica terá ainda de escapar da queda de uma estrela, em setembro, e do juízo final, marcado para 25 de dezembro do mesmo ano. “Será rápido e fulminante, mas os filhos de Deus não têm o que temer”, diz Haas. Confiantes, os membros do movimento nem irão se preparar para a tragédia. “Quando a hora chegar”, diz Haas, “Deus garantirá proteção e multiplicará, apenas para os fiéis, provisões como alimentos e água.”
Contar com o auxílio divino no momento final, no entanto, não tem sido o suficiente para todos que esperam terremotos, tsunamis e outras calamidades em 2012. O americano Dennis McClung, morador da cidade de Phoenix, no Arizona, ganhou fama por transformar a casa em que vive com a mulher, Danielle, e os filhos, Caden, 4 anos, e Vedah, 2, num verdadeiro refúgio antiapocalipse. Desde 2009 a família se prepara para uma possível explosão solar em 2012, que comprometeria o funcionamento de serviços básicos como luz, água e comunicações aqui na Terra. “Se os Estados Unidos saírem do ar por causa de uma explosão solar, todos terão apenas alguns dias de água, pouca comida e em uma semana viveremos no caos”, diz McClung. Para aumentar suas chances de sobrevivência, o webdesigner desenvolveu uma estrutura autossuficiente no fundo do quintal, que inclui a criação de tilápias, galinhas e cabras e o cultivo de vegetais e folhas. Caso tenha que fugir de casa, comprou máscaras e roupas à prova de substâncias tóxicas e radioativas. O americano Peter Larson também construiu um bunker a uma hora de sua casa, em Salt Lake City, no Utah, para os 12 membros da sua família. A porta suporta até 36 toneladas de pressão e há comida para dois anos. O medo de Larson é que o mundo acabe num ataque nuclear. “As chances de um holocausto estão maiores com o ingresso do Irã e da Coreia do Norte no clube de países nucleares”, diz.
O americano Harold Camping, um dos arautos do fim dos tempos mais fracassados do mundo, já previu e errou o dia do juízo final três vezes.
A data do fim do mundo da vez, 21 de dezembro de 2012, se tornou popular após interpretações de escritos maias encontrados no templo de Palenque, no sul do México. Ali está registrado que um dos calendários maias, a roda calendária, terminaria neste dia. O marco teria sido calculado através da observação astronômica e da análise de outros dois calendários maias, o Zolkin, que pautava a vida religiosa, e o Haab, ligado às guerras e à vida civil. “Mas os maias não deixaram nenhum registro de que o mundo acabaria”, diz Alexandre Navarro, doutor em arqueologia pela Unam (Universidad Nacional Autónoma de México) e professor de história da América da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). “O fim da roda calendária representa apenas o término de um ciclo”, diz.

Nenhum comentário: