Enabli reuniu 1.300 participantes na UFSB de Porto Seguro

O III Encontro Nacional dos Bacharelados e Licenciaturas Interdisciplinares (Enabli) reuniu cerca de 1.300 participantes entre alunos, técnico-administrativos, professores e reitores de várias universidades brasileiras e, também, convidados de outros países como França, Portugal, Bélgica, EUA, Argentina, Canadá. O Encontro discutiu o processo de implantação do modelo dos Bacharelados e Licenciaturas Interdisciplinares no Brasil e proporcionou a reflexão sobre a universidade contemporânea e suas transformações. O Enabli aconteceu de 12 a 15 de novembro no campus de Porto Seguro da recém criada Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), organizada no regime de ciclos com a totalidade de vagas para os BI’s e LI’s.

No ano de 2007, o início do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais Brasileiras (Reuni) provoca as Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) à reestruturação da arquitetura curricular na graduação e fomenta debates sobre a reforma acadêmica da educação superior brasileira. Neste contexto, o modelo dos Bacharelados Interdisciplinares ganha espaço numa reformulação do sistema universitário que aponta para uma formação superior de interação entre os saberes e de maior convergência entre academia e século XXI. Inspirado na organização proposta pelo baiano Anísio Teixeira e pelo mineiro Darcy Ribeiro para a concepção da Universidade de Brasília no início da década de 1960, no Processo de Bolonha e nos colleges norte-americanos, o Bacharelado Interdisciplinar é uma modalidade de graduação de natureza geral organizada por grandes áreas do conhecimento como Artes, Ciências da Vida, Ciência e Tecnologia, Ciências Naturais e Matemáticas, Ciências Sociais, Humanidades e outros. Os BI’s proporcionam uma formação com foco na interdisciplinaridade e no diálogo entre as áreas de conhecimento e entre componentes curriculares. O projeto da UFSB prevê a oferta de três ciclos, sendo o primeiro correspondente aos Bacharelados e Licenciaturas Interdisciplinares, constituindo uma formação geral em áreas de conhecimento. O segundo ciclo será de formação específica, direcionado à carreira profissional e o terceiro ciclo compreenderá cursos de pós-graduação stricto sensu (mestrados e doutorados). O percurso em ciclos proporciona uma formação sólida e favorece a flexibilidade nos percursos formativos. Nesse contexto, a UFSB apresenta ainda a inovação da rede de Colégios Universitários, com previsão final de implantação em 48 municípios do Sul da Bahia. Essa rede significa grande capilaridade na presença da universidade em toda a região, sendo um instrumento de inclusão para muitos estudantes, que poderão iniciar seu percurso acadêmico nas suas próprias cidades. O III Encontro Nacional dos Bacharelados e Licenciaturas Interdisciplinares discutiu vários temas que precisam ser cuidadosamente analisados neste processo de implantação permanente do modelo, como a situação dos cursos e programas de formação em regime de ciclos, sua consolidação e integração no cenário da educação superior. Em paralelo, eventos relacionados abordaram aspectos da internacionalização, da integração aos sistemas de ensino médio público e das conexões com saberes populares e movimentos sociais. Com participação de todas as regiões brasileiras, o público foi constituído por representantes de universidades que já possuem os BI’s como opção de ingresso e de universidades que se interessam pela implantação do modelo. “Eu e meus colegas da Física viemos para nos informar mais sobre os BI’s já que o modelo nos atrai e estamos analisando a possibilidade de implantá-lo na nossa universidade. Não acredito na política do aluno “coitadinho”, onde precisamos oferecer tudo já pronto para ele. Acredito na sua autonomia e no seu interesse que deve ser despertado por métodos mais flexíveis para seu melhor desempenho”, afirma o professor João Francisco Liberato, do curso de Física do campus de Caruaru da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A participação dos estudantes foi um ponto relevante do Enabli por mostrar o entusiasmo e o engajamento do corpo discente pelo aperfeiçoamento do modelo, considerado pelo MEC em fase de avaliação. Outra universidade que se destaca nesse cenário é a Universidade Federal de Juiz de Fora, que oferece 920 vagas em seus BI’s. “A UFJF participa com destaque do processo de renovação dos cursos de graduação brasileiros. A nossa universidade ousou avançar e, hoje, é uma das principais referências do país na implantação de uma arquitetura curricular já adotada pelas principais universidades do mundo. O desafio é grande, porque o peso da tradição do modelo convencional é muito forte. Por isso, se torna cada vez mais necessário acompanhar, monitorar, avaliar e ajustar as experiências em curso”, avalia o professor Eduardo Magrone, ex-pró-reitor de Graduação da UFJF que é, também, membro do Grupo de Trabalho de Monitoramento e Acompanhamento dos BI’s da Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação. A primeira edição do Encontro, em 2012 na Universidade Federal do ABC em Santo André, SP, contou com cerca de 100 participantes; a edição seguinte, no campus de Poços de Caldas da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), com aproximadamente 400 e esta última, realizada na UFSB, em torno de 1.300 participantes. Esta progressão revela a expansão no Brasil do modelo dos Bacharelados e Licenciaturas Interdisciplinares.