domingo, maio 17, 2020

Familiares que carregaram corpo com Covid testam negativo

A diarista Nilzete Vieira e os jovens Wesley e Nathanael, esposa e filhos do autônomo Raimundo Gilberto Planzo dos Santos, 46 anos, testaram negativo para o coronavírus. Raimundo morreu em decorrência da covid-19 no último domingo (10), em Salvador. Após a morte, os funcionários do Hospital Geral Ernesto Simões se recusaram a carregar o corpo de Raimundo e o colocarem em um caixão. Com isso, Nilzete e Wesley, filho mais velho, tiveram que carregar o morto, com a ajuda dos funcionários da funerária, sem os equipamentos de segurança necessários para a tarefa. “Não é porque morreu que deixou de ser humano. Eu não sei de onde veio força, foi algo triste de se ver. Um desrespeito com a gente”, disse Wesley, que tem 23 anos, em entrevista ao jornal Correio. “Ele era uma pessoa alegre, um pai presente, uma pessoa que gostava de ajudar o próximo. Eu não acredito, eu fico olhando e não consigo acreditar que um homem novo tenha morrido dessa doença”, contou, emocionada, a diarista Nilzete Vieira.
A internação de Raimundo durou cerca de cinco dias, mas os sintomas já haviam aparecido nove dias antes de procurar um médico. Sem querer ir à consulta, o autônomo conviveu com diarreia, fraqueza e dificuldade de respirar antes de chegar a ser entubado durante o atendimento hospitalar. Raimundo, que também era hipertenso, morreu na noite de domingo (10). No atestado de óbito: insuficiência respiratória e covid-19 Foi na última terça-feira (12), no momento de liberação do corpo, que a família se deparou com o inexplicável. “Quando a urna chegou, ele já estava no chão na maca, sem o plástico protetor, com o corpo todo exposto. Quando pedimos ajuda, porque ele era um homem grande e os funcionários da funerária não estavam conseguindo sozinhos, eu ouvi do maqueiro que ele não tinha obrigação nenhuma de ajudar a colocar o corpo no caixão, que eram normas do hospital e que eles já tinham deixado no chão para ficar mais fácil”, relata a diarista. Sem saída, com o enterro já marcado para poucas horas mais tarde, mãe e filho resolveram ajudar. “Os rapazes da funerária não conseguiam sozinhos, o enterro marcado, a gente não tinha o que fazer, pegamos luvas que a funerária deu para gente e eu e meu filho tivemos que carregar. A gente teve que pegar o corpo pra botar no caixão, todos os funcionários saíram, nos deixaram sozinhos, com mais um outro corpo lá enrolado”. Questionada pelo Correio, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), que administra o hospital, afirmou que “a diretoria do Hospital Geral Ernesto Simões Filho (HGESF) tomou ciência do relato da família e irá apurá-lo através de uma sindicância”. Segundo a nota enviada, a sindicância tem prazo de 30 dias para ser concluída. “Lamentamos o ocorrido, sobretudo, neste momento de perda de um ente. As providências cabíveis serão tomadas ao final da sindicância”, finaliza o texto enviado pela Sesab.

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