O editorial abaixo foi publicado originalmente na edição de 28/9/2006 neste LANCE!. Na ocasião, o Brasil ainda não havia sido escolhido oficialmente como palco da Copa do Mundo de 2014, mas era o único candidato e a homologação era uma questão de praxe. Passaram-se quase cinco anos e agora, faltando exatos 1000 dias para a Copa, o texto segue tão atual como sempre. O que leva o LANCE! a republicá-lo.UM BLEFE DE TEIXEIRA EM CIMA DO BRASIL
A chance de organizar uma Copa no Brasil, mais que uma questão de mérito, é um sonho de todos os brasileiros que gostam de futebol. Contudo, pelo nível de investimento que uma Copa exige, esse projeto necessita de um caráter transformador, como deveria ter sido a organização dos Jogos Pan-Americanos e como precisa ser o projeto da candidatura olímpica.
Para realizar esses megaeventos é preciso investir em aeroportos, transportes, telecomunicações, hotelaria, meio ambiente e segurança. E com exceção da Copa dos EUA, em 1994, todas as demais receberam dinheiro público para a sua concretização.
Para hoje, está marcado um encontro entre o presidente Lula, Joseph Blatter e Ricardo Teixeira. O que se espera é que o presidente reafirme o apoio à candidatura brasileira à Copa de 2014. Teixeira tem anunciado aos quatro ventos que espera do governo somente investimentos em infraestrutura e que os novos estádios, segundo ele de dez a 12, serão erguidos com dinheiro privado.
Este LANCE! gostaria que isso fosse viável, mas, por uma série de razões, não acredita que seja. Em todo o mundo só há dinheiro privado para construir arenas quando associado aos times, os donos do show. Afinal, quem investiria mais de cem milhões de dólares sem garantia de que a arena receberia jogos por muitos anos? Para a efetivação da parceria, seria preciso que os clubes tivessem credibilidade e perspectiva de retorno econômico suficientes para atrair tanto capital.
Mas, na situação atual, em que os clubes rasgam contratos e desrespeitam compromissos, não existe um mínimo de segurança jurídica e financeira para que financiadores privados possam apostar num retorno saudável para seu investimento. O objetivo de Teixeira é seduzir Lula e o Brasil com a proposta e, depois que o compromisso de realizar a Copa for assumido, deixar o país refém de uma nova realidade: não haverá investidores e o governo terá de bancar os estádios.
O Brasil não pode assumir o compromisso de realizar a Copa sem saber no que está se metendo. Por isso, é preciso que o presidente da CBF ponha as cartas na mesa e mostre quem são os investidores e o modelo de negócio. Ou, pelo menos, que mostre de forma clara como pretende conseguir atraí-los. O Brasil precisa saber logo se a "mão" de Teixeira é boa ou se ele está blefando.
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