'Não adianta procurar vida inteligente fora da Terra'
Estamos sós, garante o astrofísico inglês John Gribbin, autor de Alone in the Universe: Why Our Planet is Unique (Sozinhos no Universo: Por que Nosso Planeta É Único, sem edição no Brasil). No livro recém-lançado nos Estados Unidos, o cientista joga um balde de água fria na crença de que há vida inteligente fora da Terra. Gribbin defende que a vida pode existir em outros planetas, sim, porém não complexa e inteligente como em nosso planeta. Para ele, é praticamente impossível que outro astro tenha passado pelos estágios necessários ao desenvolvimento de uma civilização. "A vida surgiu na Terra cerca de 4 bilhões de anos atrás. Mas a civilização só apareceu há cerca de 10.000 anos, e a era industrial, apenas há poucas centenas de anos", justifica.
O que torna o planeta Terra único, na visão de Gribbin, é uma série de acasos que criaram o ambiente ideal para o surgimento da vida inteligente. A Terra teve a "sorte" de estar relativamente a salvo de uma série de perigos, como buracos negros, estrelas que emitem radiação mortal e supernovas, as enormes explosões de estrelas de grande massa. Além disso, a posição da Terra no Sistema Solar é relativamente protegida das grandes nuvens de meteoritos.
Gribbin também refuta o argumento mais usado pelos defensores de vida extraterrestre: de que em um universo com tantas estrelas e planetas é quase impossível que não exista vida inteligente em pelo menos um deles. "Apesar de a Via Láctea provavelmente ter cerca de um trilhão de estrelas, a enorme maioria delas não possibilita a existência da vida", diz.
O senhor afirma que deve existir alguma forma de vida fora da Terra, mas não vida inteligente. Por quê? A vida deve ser extremamente comum no Universo, mas a vida inteligente, não. Uma maneira de entender isso é que a vida surgiu na Terra cerca de 4 bilhões de anos atrás, logo após o planeta se formar, mas a civilização só surgiu cerca de 10 000 anos atrás, e a era industrial ainda mais tarde, há poucas centenas de anos.
Um dos argumentos que o senhor usa é o de que existem bilhões de estrelas na Via Láctea, mas 95% delas têm menos massa do que o Sol, o que, se não impossibilita, dificulta muito a vida. Mesmo assim sobram muitas estrelas onde a vida pode ser possível, certo? A maioria das estrelas é menor que o Sol e isso faz com que seja improvável que possibilitem o surgimento de vida. O mesmo ocorre com estrelas muito maiores, que existem em menor número. Mas mesmo nas estrelas parecidas com o Sol, o surgimento da vida é difícil. Nosso Sol apresenta uma variação de brilho muito menor que estrelas similares a ele, e esse é um fator que favorece a vida.
O principal argumento dos defensores da possibilidade de vida inteligente fora da Terra é o número incrivelmente grande de estrelas e planetas. Não é um argumento forte? Não. É um argumento razoável para se dizer que ou somos os únicos ou que a inteligência é algo corriqueiro. E o que sabemos é que há oito planetas e várias luas no Sistema Solar e a vida só é conhecida em um deles.
Há bilhões de galáxias no universo. Qual é a chance da vida ter evoluído de forma inteligente em algumas delas? A discussão no meu livro está limitada à nossa própria galáxia, a Via Láctea. Em um universo infinito, tudo é possível. Mas a vida em galáxias distantes não é palpável para nós. Assim como nós não somos para os seres que possivelmente vivem a milhões de anos-luz de nós. Não vejo como poderíamos superar tamanha distância. A Via Láctea é uma ilha no espaço fora da qual não temos a esperança de conseguir explorar nada fisicamente em nenhuma escala de tempo possível.
O impacto de um meteorito 65 milhões de anos atrás mudou o modo como a vida evoluiu na Terra, extinguindo os seres dominantes e dando a chance para que outros tomassem seu lugar. Esse evento foi o gatilho para o desenvolvimento da vida inteligente? Este é apenas um de muitos fatores. Impactos assim costumam trazer mais danos do que benefícios. Defendo que uma forma diferente de inteligência, evoluída dos dinossauros, poderia ter surgido 60 milhões de anos atrás se esse meteorito não tivesse atingido o planeta.
Mesmo em face de argumentos que o senhor aponta no livro, muitos astrônomos mostram otimismo sobre a possibilidade de encontrar vida inteligente. Essa crença é mais baseada na fé do que na ciência? É baseada mais na fé do que na ciência sim. E não acho que seja uma boa maneira de angariar fundos para pesquisa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário