domingo, dezembro 25, 2016

Recifense reclama da corrupção, mas pratica ações ilícitas

Furar fila no cinema, avançar sinal vermelho, tentar negociar com guardas de trânsito para evitar infrações. As cenas parecem corriqueiras, até mesmo banais, mas encobrem transgressões a normas estabelecidas que formam um mosaico de corrupções diárias, naturalmente incorporadas ao nosso cotidiano. Os desdobramentos da Operação Lava Jato trouxeram à tona, justamente, a reflexão sobre o ato de corromper ou ser corrompido. Cada qual no seu ambiente, políticos ou cidadãos comuns dão os “jeitinhos” para obter vantagens. Esse foi o perfil encontrado no levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisas Uninassau, divulgado pelo JC em parceria com o Portal Leia Já. A pesquisa revela que comportamentos corruptos cometidos por pessoas comuns são mais corriqueiros do que se pensa, apesar de a maioria ter consciência do erro e se mostrar contra a prática. O trânsito é o terreno mais fértil para os desvios. Mais da metade dos motoristas afirmam que arrumam maneiras para escapar de punições, como ser pego sem carteira de motorista. Somente 34% dizem que aceitam a multa sem hesitação, outros 43,3% pedem compreensão ao agente de trânsito e 15,9% vão ainda mais longe e acionam “alguém importante” para escapar da punição. Percentuais semelhantes aparecem entre os condutores que param em locais proibidos. À frente da pesquisa, o cientista político Adriano Oliveira, professor da UFPE, delimita bem o espaço do que é considerado corrupção. “É tudo aquilo que transgride uma norma social ou jurídica”, explica. “As pessoas não entendem esse jeito como corrupção e não se consideram parte dela”, grifa. Em resumo, diz ele, há muita hipocrisia. Saindo do trânsito e entrando na relação política, o comportamento paternalista ainda impera na resposta dos recifenses. Se nas classes baixas, a troca do voto por itens básicos ainda é realidade; em estratos mais altos da sociedade a troca inclui, por exemplo, cargos comissionados.

Nenhum comentário: