sexta-feira, janeiro 17, 2020

Projeto de extensão da Ufsb ensina fabricação de fitoproduto

A cada vez que se ouvir falar da biodiversidade brasileira e do respectivo potencial de desenvolvimento a partir do uso sustentável, é um bom exercício se perguntar de onde vem a essência vegetal do cosmético ou fitoterápico que se tem em casa, quem a coletou e processou e em que território esse trabalho rendeu dinheiro. É de produção relevante para o Brasil e de renda circulando na região que trata o programa federal Rota da Biodiversidade, gerido pelo Ministério do Desenvolvimento Regional em parceria com a RedesFito da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Desde 2019 o programa conta com o Polo Aroeirinha, designado para se tornar um espaço especializado em fitoprodutos da Mata Atlântica na Bahia. E um projeto de extensão da Universidade Federal do Sul da Bahia (Ufsb) faz parte desse esforço, capacitando trabalhadoras rurais para aproveitar conhecimentos tradicionais e com eles fabricar produtos naturais com qualidade de forma sustentável. Batizado em homenagem a uma planta medicinal nativa da região (Schinus terebinthifolius), o polo Aroeirinha é formado por 19 municípios do Recôncavo Baiano ao Litoral Sul da Bahia e está focado em mapear os produtores de plantas medicinais nessa área e auxiliá-los a estruturar uma cadeia produtiva de plantas medicinais, insumos farmacêuticos, fitoterápicos e fitomedicamentos.
A professora Jannaina Velasques, do Campus Jorge Amado (Itabuna) da UFSB, é a representante institucional na coordenação do Comitê Gestor do Polo Aroeirinha, dividida entre a UFRB e UFSB. A pesquisadora coordena as atividades no Litoral Sul, que é a área de abrangência do projeto de extensão que lidera, intitulado Fitoprodutos na Valoração Econômica da Cabruca (confira um vídeo sobre o projeto neste link). “O projeto de extensão propõe a valorização do conhecimento tradicional de mulheres assentadas para o uso e manipulação de plantas medicinais nativas e/ou adaptadas da região, incentivando-as e capacitando-as para o emprego de boas práticas de cultivo e manejo, pré-beneficiamento e processamento das plantas, visando sobretudo uma alternativa de renda para os períodos de entre-safra da cacau (principal atividade econômica dos assentamentos da região)”, explica a professora e pesquisadora. O projeto já conquistou apoio financeiro do programa Rota da Biodiversidade, no valor de R$ 225 mil que serão investidos na compra de equipamentos para as unidades beneficiadoras nos assentamentos-modelo do Polo, e mais R$ 283 mil pelo edital Bahia Produtiva, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Rural da Bahia, em parceria com a Associação Jabuticaba do Assentamento Terra de Santa Cruz. A professora Jannaina comenta que a equipe do projeto conta com um time multidisciplinar de docentes, nove alunos de graduação e uma aluna de pós-graduação. Os estudantes atuam na linha de frente, recebendo treinamento intensivo sobre normas de biossegurança, boas práticas de manipulação e formulação de fitoprodutos e levando esses saberes para as comunidades rurais, aldeias indígenas e associações comunitárias. Desde sua criação em junho de 2019, o projeto já ofereceu cinco oficinas e levou amostras do que se produziu junto com as comunidades na exposição de profissões do IEL e da Gincana de Ciências no município de Coaraci. Ela aponta o ano de 2019 como proveitoso para as atividades do projeto no contato interinstitucional, com o convite para participar do Workshop de Cadeias Produtivas de Fitoterápicos e colaborar na construção de metas do projeto GEF-BRA/18/G31, que é “uma iniciativa do Fundo para o Meio Ambiente Global (GEF) junto ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e Ministério do Meio Ambiente (MMA) que incentiva o uso sustentável, acessível e inovador dos recursos da biodiversidade e do conhecimento tradicional associado em cadeias promissoras de valor para fitoterápicos no Brasil”. A agenda para o primeiro semestre de 2020 já conta com três oficinas previstas. A segunda edição do Workshop de Plantas Medicinais e Fitoprodutos da Mata Atlântica deve ocorrer em outubro. A primeira edição do workshop foi realizada como evento integrado à SNCT [Semana Nacional de Ciência e Tecnologia]e sediada no Assentamento Terra de Santa Cruz, com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Regional, RedesFito/FioCruz, Secretaria do Desenvolvimento Rural da Bahia, Ceplac e das empresas Ayapuana e Ás d’Lilás, recebendo cerca de 60 mulheres agricultoras de diferentes assentamentos e 30 alunos inscritos como participantes/ouvintes. “A expectativa para 2020 é ampliar o número de inscritos, aproximando ainda mais o público técnico-científico do conhecimento tradicional, possibilitando maior integração e atividades de extensão que contribuam para a estruturação do setor produtivo de plantas medicinais na região”, disse a professora Jannaína, que também compõe a coordenação nacional do Grupo de Plantas Medicinais da Associação Brasileira de Horticultura (ABH).

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