A Arena Fonte Nova já recebeu shows de astros internacionais como Paul McCartney e Elton John. Ali também já aconteceu o concorrido Festival de Verão Salvador, o Carnavalito e outros eventos que levaram um público muito grande à praça esportiva. E, claro, acontecem jogos de futebol que, com frequência, levam mais de 30 mil pessoas ao estádio. Porém, neste domingo (23), quem passasse por aquela área jurava que uma estrela pop internacional estava se apresentando por ali, tamanho era o engarrafamento e o empurra-empurra para entrar no estádio. Vagas no estacionamento? Nem em sonho, segundo algumas pessoas que tentaram estacionar. Muita gente ficou de fora e gritos de "libera o portão" foram ouvidos. Quem reuniu aquela multidão - segundo a Arena, foram 62 mil presentes - foi um líder religioso, que, pela sua popularidade, já pode, sim, ser comparado a um astro pop: o bispo Bruno Leonardo, da Igreja Batista Avivamento Mundial. Em seu canal no YouTube, o religioso, que viveu em Salvador, tem 15,8 milhões de seguidores. O evento começou às 9h e o ingresso era gratuito, com retirada de senha pela internet. Na entrada da Fonte Nova, as pessoas estavam divididas entre a esperança, porque desejavam um encontro com a religiosidade, e a indignação, por não conseguirem entrar, mesmo estando com o bilhete na mão. A advogada Adriana Nogueira saiu de Cajazeiras com o marido, a nora e o filho para acompanhar o culto. Na porta, frustração por não conseguir entrar, ainda que os quatro estivessem com o ingresso. "Chegamos às 8h23, mas estava muito difícil estacionar. Ainda me cobraram 40 reais para deixar o carro num posto de gasolina", disse Adriana, que queria ver o bispo para fazer uma oração contra a inveja, um dos propósitos da apresentação do bispo. Outra pessoa que estava indignada era Paula, que não quis dar o sobrenome. Chorando, ela dizia que a situação era absurda. "Uma falta de respeito! Eu tenho a pulseira que me dá passagem livre. Me disseram que quem tinha a pulseira poderia entrar. Peguei a minha na igreja, no mês passado, e o bispo dizia que, com a pulseira, a gente tinha acesso livre. Mas não estão me deixando entrar", disse ela, por volta das 9h30. Às 9h45, os seguranças liberaram o portão externo da Fonte, mas isso não era garantia de que as pessoas entrariam. Ainda assim, muitos, como a advogada Adriana, não conseguiram passar pela catraca que dava acesso ao estádio. A reportagem contou ao menos cinco pessoas com crianças de colo, incluindo uma mulher que estava na aglomeração do lado de fora. Depois que o portão foi liberado, pessoas derrubaram um gradil mais à frente, para ter acesso à área das catracas que controlavam a entrada no estádio. Enquanto isso, lá dentro, o bispo Bruno Leonardo lembrava em sua pregação que havia mais de 10 mil pessoas do lado de fora do estádio e insistia que cabia mais gente. "Que entrem mais pessoas para ajudar o evento", pediu o líder religioso. De acordo com a organização, eram 90 mil presentes. "Não se preocupem com o sol, o sol é bênção. E a partir de hoje, o choro acabou. É só vitória daqui pra frente", disse Bruno Leonardo. O bispo ainda falou do comportamento das pessoas no Carnaval, em tom crítico: "Vou dizer uma coisa aqui... Aliás, é melhor não falar. Ou falo?", perguntava aos fiéis, que pediam que ele abrisse o jogo. "Tem muitos aqui que em um momento de fevereiro... Nem vou dizer onde você estava! Aí, agora, está buscando a Deus... Em outros tempos, estava na Praça Castro Alves e tinham que segurar você, senão, você ia dar um pulo que ia subir!" Mas, apesar da confusão, teve gente que saiu satisfeita, a exemplo da despachante Renata Falheiros. "Foi a primeira vez que vi o bispo pessoalmente e vim para sentir a presença de Deus aqui. Conheço o bispo pela internet, acompanho os vídeos dele", comentou ela. "Acho boa essa opção porque tenho uma criança de 4 anos e trabalho, então, não tenho tempo de ir à igreja. Mas é muito diferente ouvir a Palavra de Deus pessoalmente. Aqui, você sente a presença do Espírito Santo e a energia do bispo quando fala", complementou. A assessoria de comunicação do evento emitiu uma nota em que tenta explicar o motivo da superlotação: "O público que não pegou senha compareceu mesmo assim e não teve como a gente deixá-los de fora, mas foi montada uma estrutura completa do lado de fora com telão, cadeira e banheiros químicos porque prevíamos que poderia acontecer essa situação".
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