quinta-feira, dezembro 12, 2019

Polícia Civil de Ilhéus erra ao prender homem inocente

A luta do Estado brasileiro para diminuir a violência contra as mulheres levou a Policia Civil de Ilhéus a cometer um erro. No último sábado (7), o servente Ivanildo Coelho da Cruz, 35 anos, ajudado por alguns amigos, colocava alguns móveis num caminhão. Ele, o único filho de 8 anos e a esposa Leonildes dos Santos Silva, 29 anos, moradores de Una, mudavam de residência. Por volta das 21 horas, Leonildes passou mal subitamente e caiu no chão. Como ela estava fora da casa, a queda foi presenciada pelas pessoas que faziam a mudança. Auxiliado pelos amigos, Ivanildo levou a esposa para o Hospital de Una que, ao perceber a gravidade do estado de saúde da paciente, fez o encaminhamento para o Hospital Regional Costa do Cacau, em Ilhéus. Após ser socorrida no Costa do Cacau, Leonildes faleceu por volta das 3 horas da madrugada de domingo (8). A médica Candice Messias, por meio de uma receita, que consta no inquérito policial, não conseguiu definir a causa da morte e encaminhou o corpo para o Departamento de Polícia Técnica de Ilhéus. O levantamento cadavérico realizado pelo DPT apontou evidências de morte violenta, com lesão interna na traquéia de Leonildes em vários pontos, com intenso sangramento dentro do pescoço e com uma lesão no couro cabeludo. Conforme o resultado, há indícios de que Leonildes foi esganada e morta por asfixia mecânica. Segundo o advogado Mesaque Soares, Ivanildo acompanhou o sofrimento da esposa do início ao fim. Quando saiu o resultado do levantamento cadavérico, ele estava no DPT. Diante dos indícios de morte violenta revelados pelo laudo, policiais civis prenderam Ivanildo em flagrante nas dependências do DPT de Ilhéus. Ele foi levado para a delegacia da 7ª Coorpin, onde ficou preso na carceragem.
A prisão de Ivanildo, acusado de ter matado a esposa, surpreendeu vários moradores de Una, onde o servente é tido como homem tranquilo, educado e introspectivo. Relatos das testemunhas afirmam que o casal vivia em paz e harmonia. Os dois eram adeptos da Igreja Pentecostal “Uma Palavra de Vida”. O pastor da agremiação religiosa, Eronildo Silva de Jesus, disse em depoimento nunca ter percebido sinais de violência doméstica no relacionamento do casal. Os três rapazes que ajudaram Ivanildo na mudança, e que presenciaram a queda de Leonildes, prestaram depoimentos na delegacia de Una com afirmações sobre a inocência do acusado. Uma das testemunhas, um adolescente de 15 anos, afirmou ter presenciado o tombo de Leonildes. Disse que após ser avisado, o marido imediatamente tentou destravar a boca da esposa em convulsão. Conforme o inquérito, mais duas mulheres que também acompanharam a mudança testemunharam a favor da inocência de Ivanildo, que trabalha na empresa Prest Service, prestadora de serviços do Hotel Transamérica, em Comandatuba (Una). Sua patroa, Wilma Souza, disse ao delegado Renato Ribeiro que o comportamento do funcionário sempre foi exemplar. No inquérito não há nenhum depoimento que tenha desmentido a versão das testemunhas que presenciaram a queda de Leonildes. Funcionários do Hotel Transamérica e blogueiros de Una ouvidos pelo Blog do Gusmão disseram não acreditar que Ivanildo tenha sido violento com a esposa. Segundo familiares, Leonildes teve convulsões na infância e na adolescência. Segundo o advogado Mesaque Soares, a defesa de Ivanildo trabalha com a hipótese de ter ocorrido erro nos procedimentos de primeiros socorros realizados pelo Hospital Regional Costa do Cacau. A médica Candice Messias afirma em receita médica que foram realizadas duas tentativas de intubação da paciente. Mesaque Soares acredita que a primeira tentativa, sem sucesso, pode ter gerado as lesões internas na traquéia e o sangramento dentro do pescoço. Sobre a lesão no couro cabeludo, o advogado afirma que provavelmente foi gerada pela queda, pois Leonildes era obesa. Segundo uma das testemunhas, foram necessárias três pessoas para colocá-la no carro que a levou para o Hospital de Una. Mesaque Soares disse ao BG que a Polícia Civil adotou a “lei do menor esforço”. A atuação da polícia, neste caso, destoou totalmente da normalidade. Com o resultado do laudo cadavérico, a polícia deveria ter investigado o caso em Una, ouvido vizinhos e parentes para detectar provas de violência doméstica. Segundo o advogado, o resultado do exame apontou a causa da morte, mas não revelou o autor do suposto feminicídio, por isso, a prisão em flagrante foi ilegal. “Na dúvida, a polícia decidiu prender, quando o correto é investigar para apontar possíveis culpados”. Mesaque Soares explicou que provavelmente o corpo de Leonildes será exumado para que ocorra um exame mais detalhado sobre a causa da morte. O blog tentou ouvir um representante da Polícia Civil e a assessoria do Hospital Regional Costa do Cacau, sem sucesso. Na última quarta-feira (11), o juiz Eduardo Gil Guerreiro, da Vara Criminal de Una, mandou soltar Ivanildo. O servente ficou três dias encarcerado na 7ª Coorpin e não acompanhou o velório e o sepultamento da esposa. Os dois foram casados durante sete anos. O delegado Evy Paternostro, coordenador da 7ª Coorpin de Ilhéus, confirmou a inocência do servente. Evy também confirmou que Eronildes (esposa de Ivanildo) teve o esôfago perfurado após a primeira tentativa de intubamento realizada no Hospital Regional Costa do Cacau. Leia as explicações enviadas pelo delegado. "O plantão Regional foi informado pelo DPT sobre uma situação extraordinária de uma vítima encaminhada pelo HRCC, que veio de Una, a princípio segundo informado pelo marido, a esposa tinha passado mal com crise epilética nervosa. Na autópsia foi constatado: intenso sangramento dentro do pescoço, anormal em situações de morte natural e característico de morte especificamente por asfixia mecânica por constricção (provável esganadura). Diante da situação os policias civis do plantão regional deram voz de prisão e apresentaram [o acuado] ao plantão policial. Ivanildo negou o crime. O auto de prisão em flagrante foi lavrado tendo por base o princípio de indícios citados na necropsia. Seguindo a investigação, foi verificado o álibi e testemunhas foram ouvidas, sendo descoberto que no atendimento do pronto socorro duas intubações foram tentadas, e que uma dessas furou o esôfago. A polícia enviou novas informações ao juízo criminal que diante dos fatos emitiu alvará de soltura. A investigação está sendo concluída ficando claro que não houve homicídio."

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