Não há quem desconheça a passagem bíblica em que Jesus, em rara erupção de fúria, põe para correr os vendilhões do templo.
Está no Novo Testamento. Tome-se o relato do apóstolo Mateus (capítulo 21, versículos 12 e 13).
Ele conta que Jesus ''expulsou todos os que vendiam e compravam no templo...”
“E derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas''. Em seguida, Jesus vociferou:
''Está escrito: a minha casa é casa de oração; mas vós fizestes dela covil de salteadores''.
Se tornasse hoje à Terra, Jesus não precisaria ser levado à cruz. Morreria antes, de desgosto.
Tombaria ao notar o modo como o templo vem sendo varejado pelos vendilhões da política.
Nesta segunda (12), por exemplo, o governador José Serra (PSDB) foi à Basílica de Aparecida (SP).
O presidenciável tucano participou da missa em comemoração ao dia da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida.
Celebrou-a o arcebispo de Salvador, Dom Geraldo Magela Agnelo. Presentes algo em torno de 40 mil fiéis.
A alturas tantas, Dom Geraldo apresentou Serra aos devotos. Cedeu o microfone ao governador.
"O Brasil precisa de governantes que sejam íntegros, que sirvam ao povo, em vez de se servirem do povo”, Serra discursou.
Governantes “que tenham como preocupação central abrir oportunidades a nossas famílias...”
“...Oportunidades de trabalho, de cultura, em um ambiente de espiritualidade fraterna [...]”.
Em abril do ano passado, Dom Geraldo dera declarações que levantaram a suspeita de que esconde sob a batina uma plumagem tucana.
Fervilhava nas manchetes o caso dossiê em que a Casa Civil, sob Dilma Rousseff, detalhara gastos sigilosos da presidência de FHC.
Questionado a respeito, o acerbepisto de Salvador soara inclemente: "Se for verdade, a gente fica perplexo...”
“...Não está comprovado, mas Deus queira que não haja tanta maldade assim no mundo..."
“...Tudo serve na época de eleições para os interesses que estão em jogo, sobretudo a mentira e a fraude..."
"...Tudo isso serve para alguém que queira se eleger a qualquer custo, não tem escrúpulos e não tem fundamentos éticos".
Ao permitir que Serra injetasse política no templo de Nossa Senhora, o prelado demonstrou que, de fato, “tudo serve na época de eleições”.
A assessoria de Serra apressou-se em levar ao portal do governo de São Paulo a “notícia” de que o governador dera as caras em Aparecida.
“Serra saudou os peregrinos de todo o Brasil, que participaram das celebrações no Santuário”, informou o texto.
Em entrevista, o governador declarou-se “devoto” de Nossa Senhora. Algo até então insuspeitado.
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