quinta-feira, outubro 28, 2010

"Toda hora me batia arrependimento, um aperto no peito", diz sequestradora


Foi tudo premeditado. Ao se arrumar no domingo para visitar uma amiga internada no Hospital São José, a menor E.S.R. se vestiu de branco e, na bolsa, não deixou de levar uma touca usada quando ia ao salão de beleza, para se passar como enfermeira. Já dentro do hospital, E.S.R. se afastou da prima Érica de Jesus e quando se reencontraram, a menor já estava de posse de um recém-nascido. A intenção era “dar um filho à prima”, conforme disse, com exclusividade ao Jornal Bahia Online. Durante o encontro que manteve com as duas acusadas, o nosso repórter fez uma nova descoberta. E.S.R. não sabia que a avó do bebé, com quem ele se encontrava no ato do seqüestro, era cega.
“Cheguei até ela, pedi para levar a criança para vacinar. Pedi os documentos e pronto. Levei”, afirmou a menor ao repórter do JBO. Érica, mesmo em estado de êxtase por ver em seus braços o filho que não pôde ter, correu para as escadarias do hospital e fugiu com o recém-nascido no colo. “Ainda no corredor me arrependi. Mas fiquei com medo de voltar e ser presa”, revelou.
Há cinco meses, Érica perdeu um filho. Mas não avisou à família. O marido, pescador, só aparece em casa nos finais de semana. A família achava que a gestação ia bem e, no domingo, finalmente o mais novo integrante da casa foi apresentado como filho legítimo. “Ninguém desconfiou”, garante Érica. Ela temia que o marido a abandonasse por conta da perda do filho biológico. “Me senti incapaz de dar um outro filho a ele”, disse ao Jornal Bahia Online.
Quando foi presa em flagrante no final da tarde desta quarta-feira (27), com a criança, Érica chegou a insistir de que o bebê que carregava era seu filho biológico para, em seguida, confessar a participação no seqüestro. Elas disseram que não tiveram nenhuma dificuldade para ter acesso ao hospital. "Nem documento pediram", afirmou.
A principal pista do paradeiro da criança foi passada para a direção do hospital no final da tarde de hoje. Um homem que mora próximo à residência da seqüestradora, achou estranha a presença de um recém-nascido pelo fato de, a suposta mãe, não ter apresentado nos últimos tempos nenhum sinal de gestação. A polícia foi rápida. Logo que comunicada acionou viaturas, fez diligências e a operação foi um sucesso.
O bebê passou por exames no Hospital São José para, em seguida, ser entregue à família, dando fim a um pesadelo que já durava 4 dias. Ainda na delegacia, o recém-nascido foi amamentado pela mãe biológica, momento registrado pelo Jornal Bahia Online, primeiro veículo de comunicação a dar a notícia sobre a localização do bebê.

Acompanhe abaixo, os principais trechos da entrevista concedida pelas duas seqüestradoras ao jornalista Maurício Maron.

JBO - Você está arrependida do que fez?
Érica – Tou

JBO - E por que você fez isso?
Érica - Eu não sabia.

JBO - Você não sabia que pegar uma criança que não era sua no hospital era crime?
Érica - Sabia que era errado. Mas não sabia que ela (a prima) ia pegar.

JBO - E quando ela pegou e te mostrou a criança, por que você aceitou?
Érica - No começo falei pra ela que eu ia entregar de volta. Ainda cheguei na escada e fiquei com muito medo e voltei. Tinha medo de ser acusada mesmo entregando. Falarem pra polícia que eu roubei.

JBO - E quando foi que vocês combinaram que iriam pegar a criança?
Érica - Domingo de tarde.

JBO - Como?
Érica - Falei que ia ao hospital saber se uma colega minha já tinha deixado o hospital. Aí ela foi pra um quarto e eu pra outro. Ela falou que ia olhar os quartos.

JBO - E ela chegou com a criança nos braços pra você.
Érica - Foi.

JBO - Quando você chegou em casa, o que sua família disse?
Érica - Nada. Eles pensaram que era minha. Eu tinha perdido meu filho e eles não sabiam.

JBO - Seu marido tava te pressionando por um filho?
Érica - Meu marido é doido pra ter um filho. E eu me sentia incapaz de dar um filho a ele.

JBO - Esses dias todos você sabendo que havia uma mãe desesperada à procura da criança, por que você não se arrependeu?
Érica - Toda hora me batia arrependimento. Um aperto grande no peito, uma vontade de entregar. Mas o que mais passou em minha cabeça era o medo de ser presa.

JBO - Se você tivesse hoje que dizer alguma coisa pra verdadeira mãe desta criança, o que diria.
Érica - Pediria perdão.

JBO - Como surgiu essa idéia em sua cabeça?
Menor – Ela não sabia de nada. Ela tava numa sala e eu em outra. Aí conversei com a menina e peguei a criança.

JBO - Pegou como?
Menor - Me ajeitei (colocou o gorro para ficar parecida com a enfermeira), peguei a menina e saí.

JBO - E de onde surgiu a touca
Menor - Levei de casa. Sempre uso quando dou massagem em meu cabelo.

JBO - Você percebeu que a pessoa que estava com a criança era cega?
Menor - Não.

JBO - Você chegou e pediu como se fosse enfermeira mesmo.
Menor - Foi

JBO - Você estava com que roupa?
Menor - Uma calça e uma blusa branca. E coloquei a touca.

JBO - Descreve como você fez pra levar a criança
Menor - Dei boa tarde e disse que a enfermeira pediu para eu ver a carteira de vacinação da criança. Eu disse que a criança estava com uma vacina atrasada e precisava tomar imediatamente. Daí disse: daqui a cinco minutinhos a enfermeira traz ela de volta.

JBO - Você tem filhos?
Menor - Sim, um.

JBO - E na condição de mãe, como você se sentiria se alguém levasse seu filho?
Menor - Triste.

http://www.jornalbahiaonline.com.br/index.asp?noticia=8929

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