Domingos Matos | redacao@otrombone.com.br
Um jogão, para duas torcidas mais que apaixonadas. Assim foi a final do Campeonato Interbairros de Futebol Amador de Itabuna, versão 2010, realizada nesse domingo (19), no Estádio Luiz Viana Filho. No fim, o selecionado do Califórnia conseguiu sagrar-se campeão, batendo o time do São Pedro por 2x1.
Não faltou nenhum ingrediente de uma final de capeonato. Desde as provocações entre as torcidas até expulsão de jogador mais 'esquentado'. Não faltou raça, técnica, tática e tudo o mais que compõe o espetáculo de um jogo de futebol.
Vi tudo isso no Itabunão, nesse domingo de sol escaldante. Vi um título inédito do Califórnia e voltei às minhas origens.
Lembrei de Pretão, um dos agitadores do futebol no Califórnia, e de sua insistência para que eu integrasse algum time seu. Sobre Pretão, há uma história engraçada. Como disse, sempre que me via passar, na rua Rio Branco, me chamava e insistia para que eu aceitasse jogar em seu time-escola.
Até aí, nada demais. O que era incomum era o seu argumento: "Você tem as pernas tortas, parece Garrincha. Você deve ser bom de bola", dizia. Era uma honra para mim mas, claro, um tremendo engano do velho Pretão.
Agradecia a comparação, mas sempre recusava. Já naquela época, início dos anos 80, meu senso de ridículo era aguçadíssimo. Eu era, sou, serei, o maior perna-de-pau que já conheci. Só Pretão não acreditava nisso, iludido pelas minhas pernas 'catrocas', qual as de Garrincha.
Mas a cada convite do técnico caça-talentos, eu subia a Santa Maria e arriscava uns dribles invocados, tentava uns traços nos meus irmãos e amigos mais próximos - os únicos que me aceitavam nos times - e me redescobria como autêntico perna-de-pau.
Pretão seguiu, tentando achar outro gênio das pernas tortas. Buscava 'valores' entre os meninos daquela várzea - na verdade, chamávamos o campo do Califórnia de "Os gringos", numa referência aos Smith, americanos aforadores de terrenos do bairro, cujo escritório ficava próximo ao campo de terra, ao lado do Colégio Ubaldo Dantas.
Talvez esse craque nunca tenha sido encontrado. Talvez o crack tenha tirado alguns de campo antes mesmo de Pretão avaliar se tinham as pernas tortas.
E eu? Segui na minha carreira de sucesso como perna-de-pau até 2008, quando joguei a última partida 'oficial', pelo time do Jornal Agora contra o da Gráfica Mesquita, há coisa de dois anos.
Lembro que fui escalado no gol. Tomei nove. Porém, vejo nisso, até hoje, um erro estratégico de nossa equipe. Se estivesse na linha, pior não seria. Quem sabe até baixasse um Garrincha e realizasse o que Pretão havia predito 20 anos atrás.
Afinal, as pernas continuam tortas - embora também e ainda, de pau...
Domingos Matos é editor do Trombone - e pereba irreconciliável com a pelota
Um jogão, para duas torcidas mais que apaixonadas. Assim foi a final do Campeonato Interbairros de Futebol Amador de Itabuna, versão 2010, realizada nesse domingo (19), no Estádio Luiz Viana Filho. No fim, o selecionado do Califórnia conseguiu sagrar-se campeão, batendo o time do São Pedro por 2x1.
Não faltou nenhum ingrediente de uma final de capeonato. Desde as provocações entre as torcidas até expulsão de jogador mais 'esquentado'. Não faltou raça, técnica, tática e tudo o mais que compõe o espetáculo de um jogo de futebol.
Vi tudo isso no Itabunão, nesse domingo de sol escaldante. Vi um título inédito do Califórnia e voltei às minhas origens.
Lembrei de Pretão, um dos agitadores do futebol no Califórnia, e de sua insistência para que eu integrasse algum time seu. Sobre Pretão, há uma história engraçada. Como disse, sempre que me via passar, na rua Rio Branco, me chamava e insistia para que eu aceitasse jogar em seu time-escola.
Até aí, nada demais. O que era incomum era o seu argumento: "Você tem as pernas tortas, parece Garrincha. Você deve ser bom de bola", dizia. Era uma honra para mim mas, claro, um tremendo engano do velho Pretão.
Agradecia a comparação, mas sempre recusava. Já naquela época, início dos anos 80, meu senso de ridículo era aguçadíssimo. Eu era, sou, serei, o maior perna-de-pau que já conheci. Só Pretão não acreditava nisso, iludido pelas minhas pernas 'catrocas', qual as de Garrincha.
Mas a cada convite do técnico caça-talentos, eu subia a Santa Maria e arriscava uns dribles invocados, tentava uns traços nos meus irmãos e amigos mais próximos - os únicos que me aceitavam nos times - e me redescobria como autêntico perna-de-pau.
Pretão seguiu, tentando achar outro gênio das pernas tortas. Buscava 'valores' entre os meninos daquela várzea - na verdade, chamávamos o campo do Califórnia de "Os gringos", numa referência aos Smith, americanos aforadores de terrenos do bairro, cujo escritório ficava próximo ao campo de terra, ao lado do Colégio Ubaldo Dantas.
Talvez esse craque nunca tenha sido encontrado. Talvez o crack tenha tirado alguns de campo antes mesmo de Pretão avaliar se tinham as pernas tortas.
E eu? Segui na minha carreira de sucesso como perna-de-pau até 2008, quando joguei a última partida 'oficial', pelo time do Jornal Agora contra o da Gráfica Mesquita, há coisa de dois anos.
Lembro que fui escalado no gol. Tomei nove. Porém, vejo nisso, até hoje, um erro estratégico de nossa equipe. Se estivesse na linha, pior não seria. Quem sabe até baixasse um Garrincha e realizasse o que Pretão havia predito 20 anos atrás.
Afinal, as pernas continuam tortas - embora também e ainda, de pau...
Domingos Matos é editor do Trombone - e pereba irreconciliável com a pelota
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