segunda-feira, março 14, 2011

CRÍTICA: Fagundes faz a diferença em ‘Insensato coração’


Mesmo quem está há anos no teatro e na televisão e possui uma ficha corrida de bons serviços prestados às plateias tem suas modulações. Antônio Fagundes não é diferente. Vem sendo uma alegria acompanhar o trabalho dele em três produções no ar atualmente: em “Insensato coração”, como Raul; e em “Vale tudo”, como o Ivan, e em “O rei do gado”, como Bruno Mezenga, ambas no Viva. Nestas novelas dá para perceber a entrega e o prazer dele em cena.
Tudo isso fica ainda mais valorizado pelo fato de o ator ter atravessado um mau pedaço recentemente em “Tempos modernos”, de Bosco Brasil. O projeto como um todo não deu certo, a história era fraca e pretensiosa. Fagundes carregou Leal, um dos principais personagens, até o fim sem fazer feio. Mas esbarrou na impossibilidade de fazer bonito. Parecia desanimado em cena.
Agora, na trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, dirigida por Dennis Carvalho, ele está em grande forma novamente. Raul é totalmente positivo, trabalhador, se aferra às suas convicções morais. Não se trata de um sujeito elástico: recusa concessões, não alivia para o filho (Léo/Gabriel Braga Nunes) e dispensou um casamento que era mais ou menos com Wanda (Natália do Vale). O empresário, agora falido, é alguém que todo espectador já conheceu um dia na vida. Raul — pelo seu texto e pelo trabalho do ator — é um dos troncos da novela.
Em “Insensato coração”, muitos personagens têm uma “escada”. A de Camila Pitanga é Paloma Bernardi; o de Hérson Capri, Eduardo Galvão; Tamara Taxman cumpre este papel hoje para Glória Pires, na próxima prisão será outra atriz. Fagundes conta com Cláudio Tovar, o advogado Borges. O ator e bailarino, talvez iluminado por seu colega, vem surpreendendo no melhor sentido.
A novela das 21h tem alguns núcleos que precisam de um reforço. Certamente não este.

Os mil e um horários loteados
Concessões públicas, as TVs têm certas obrigações constitucionais, uma delas, a de transmitir cultura. Talvez este seja um dos 357 motivos que provocam profunda exasperação quando o espectador sintoniza na CNT. Tente passar uma semana estudando a grade do canal em horários diferentes (falo da grade carioca). Você vai esbarrar em faixas loteadas da manhã à noite. A programação é inaugurada diariamente com “O poder
sobrenatural da fé”, cujo título é autoexplicativo. Em seguida, pode vir “Fala Baixada” (produção de terceiros) ou o trepidante “Vida e missão”. No início da madrugada, eles atacam com “1001 noites”. Mil e uma é só uma força de expressão: o televendas de joias e tapetes deve estar no ar há muito mais noites que isso. São inúmeros os horários negociados, o que resulta na total falta de linha editorial e
deixa evidente que o critério é o de um leilão, quem dá mais leva. Mas o mais revoltante é a saga “Smart quiz”, que arranca dinheiro dos incautos, todo mundo sabe, e nenhuma providência é tomada. A cota de cultura deve ficar por conta das novelas “Acorrentada” e “Alma indomável”. Entre uma e outra imagem esverdeada — porque o sinal da CNT é horrível —o espectador pode saborear diálogos impressionantes de tramas dramáticas e tonitruantes.

Conta que fecha
Satisfeito com o faturamento do “Programa do Ratinho ”(cerca de R$1,5 milhão mensais), Silvio Santos esticará seu tempo de exibição quando “Ana Raia e Zé
Trovão” terminar. Como se sabe, Silvio e os apresentadores do SBT dividem custos e lucros.

GABINO (Guilherme Piva) vai flagrar Kléber (Cassio Gabus Mendes) jogando num cassino
clandestino, em “Insensato coração”. O jornalista chegará a roubar para sustentar o vício.

Nota 10
Para Nathalia Timberg, pela Vitória de “Insensato coração”. A atriz, que dispensa apresentações, mais uma vez está brilhando numa personagem que parece ter sido escrita para ela. Destaque também para o seu figurino.

Nota 0
Pela enésima vez, para os programas de caça-níqueis que prosperam na CNT e na RedeTV!. Na semana passada, chegaram ao cúmulo de produzir uma edição temática de carnaval intitulada “Quiz folia”, com um apresentador dançante. É um absurdo. (Patricia Kogut)

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