quarta-feira, março 02, 2011

Negociação sem C13 pode ser investigada


A negociação direta dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro a partir de 2012 entre times e emissoras, sem a participação do Clube dos 13, pode ser investigada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) caso haja privilégios para alguma das TVs concorrentes.
"Se houver conduta anticoncorrencial, será investigada", disse ontem o procurador-geral do Cade, Gilvandro Araújo, após se reunir com a cúpula do C13.
Isso não impede que os clubes negociem diretamente com as emissoras.
Em 2010, o Cade fez acordo com a Globo e com o C13 para suspender os processos que respondiam na autarquia.
Em troca, a emissora e a entidade se comprometeram a derrubar a cláusula de preferência, que dava poderes à Globo de sempre fazer a última oferta na concorrência pelos direitos do Brasileiro.
A emissora carioca tem a Record como maior concorrente -a Rede TV! também pretende fazer proposta.
A Record faz segredo sobre seu lance, mas ele deve superar os R$ 550 milhões.
O Clube dos 13 é quem negocia, em nome de 20 das principais equipes do país, os contratos de televisão.
Na semana passada, ocorreu um levante contra o C13, liderado pelo Corinthians e seguido por outros clubes. Os dissidentes querem negociar com as TVs sem a participação da associação.
O presidente do C13, Fábio Koff, e seu diretor-executivo, Ataíde Gil Guerreiro, foram ao Cade ontem, em Brasília, para pedir que o órgão impeça negociações individuais.
"Eles vieram aqui para saber se estão cumprindo corretamente o acordo do ano passado", disse o presidente do Cade, Fernando Furlan.
A autarquia recomendou, e o C13 acatou, a mudança de uma cláusula no edital lançado na semana passada.
Foi derrubada a cláusula que permitia à Globo vencer a licitação pela transmissão do Brasileiro mesmo oferecendo um valor 10% inferior.
O edital publicado pelo C13 exige uma oferta mínima de R$ 500 milhões por ano para a transmissão do Nacional entre 2012 e 2014.
A disputa está coberta de dúvidas, uma vez que diversos clubes ameaçam sair da entidade para negociar diretamente com as emissoras.
O Clube dos 13 usa a estratégia de negar uma crise com os clubes e com a Globo.
"Nós achávamos que a Globo [antes do encontro no Cade], por ter maior participação no mercado e penetração, poderia ter um benefício. Se ela oferecesse R$ 500 milhões, ela já entraria para concorrer com R$ 550 milhões. Agora, o que vai valer é só o valor nominal", disse o diretor-executivo do Clube dos 13, Ataíde Gil Guerreiro.
"Não existe retaliação à Globo. Foi um pedido do Cade, e estamos atendendo", disse o diretor da entidade.
"Qualquer pergunta sobre saída de clube está prejudicada porque não tenho conhecimento. Não há saída formal, só nos jornais", completou Fábio Koff.
A TV Globo reafirmou ontem que negociará separadamente com cada clube.

Dissidentes afirmam que não vão recuar
Os clubes que lideram o movimento de dissidência do Clube dos 13 não mudaram sua posição após a reunião entre a associação e o Cade, ontem.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o presidente do Corinthians, Andres Sanchez, informou que "vai consultar os advogados do clube e fazer o que está dentro da lei".
Na prática, significa que vai manter seu plano de negociar sem a intermediação do Clube dos 13.
O clube foi o primeiro a romper com a entidade. E foi o único, até agora, a oficializar um pedido de desfiliação da associação.
Os quatro grandes clubes do Rio pretendem negociar em bloco, mas também fora do C13.
"Hoje [ontem] mesmo tivemos uma reunião entre os departamentos jurídicos. Vamos ouvir as propostas de todas as TVs", disse o presidente do Vasco, Roberto Dinamite, falando por Flamengo, Botafogo e Fluminense.
Ainda há dúvidas, entre os clubes, se é preciso se desfiliar da entidade para negociar separadamente os direitos de transmissão.
O C13 diz que quem não pedir o desligamento está automaticamente concordando em ceder o direito de negociar à entidade.
Ontem à noite, o Palmeiras anunciou que vai seguir o Corinthians e negociar os direitos de TV sem a participação do C13, como a Folha antecipou na sexta-feira.
"Lembramos que nossa entidade vem sendo preterida das ultimas negociações", diz nota publicada pelo clube do Parque Antarctica ontem.

A DISPUTA PELA TRANSMISSÃO

OUT.2010
C13 se compromete com Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a tirar privilégios da Globo na venda dos direitos do Brasileiro a partir de 2012 (a edição de 2011 já é da TV carioca)

21.FEV
CBF reconhece o Flamengo como campeão brasileiro de 1987, o que desagrada o São Paulo e cria rusga no C13

22.FEV
Corinthians sai do C13 e diz querer autonomia para negociar individualmente seus direitos de transmissão

23.FEV
Os quatro grandes do Rio e o Coritiba dizem que vão negociar sem o C13. Globo diz à Folha que não apresentará proposta pelo Brasileiro. Record se mantém no páreo

24.FEV
Corinthians anuncia que vai fazer leilão para vender seus direitos de TV. C13 divulga edital e pede no mínimo R$ 500 milhões por cada temporada do Brasileiro; Globo tem preferência

25.FEV
Fábio Koff, presidente do C13, acusa Globo e CBF de provocarem racha, que já tem oito clubes dissidentes

ONTEM
C13 tira preferência da Globo na licitação, e TVs têm até dia 11 para fazer propostas. Palmeiras anuncia que também negociará sozinho
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk0203201112.htm

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