Um cabeleireiro leva uma sapatada na cabeça, desmaia e, ao acordar, descobre que não é mais gay. Infelizes no amor, duas amigas trabalham numa loja que aluga vestidos de noiva. No escritório de uma empresa, a secretária faz tudo, de apostas no jogo do bicho à definição da escala de plantão.
Argumentos e sinopses pobres não são, necessariamente, impedimentos para bons programas de televisão.
No caso, porém, de "Macho Man", "Tapas & Beijos" e "Batendo Ponto", três das cinco novas séries que a Globo estreou em 2011, a dificuldade em divertir parece estar diretamente relacionada à obviedade das propostas.
Não basta emendar piadas em roteiros que não se sustentam em pé para produzir entretenimento de qualidade. É preciso propor algum tipo de cumplicidade ao espectador, seja com temas ou situações que digam respeito ao seu universo, seja com atores e atrizes encantadores, seja com produções bem cuidadas, fascinantes.
A palidez dessas três séries fica ainda mais evidente no confronto com "Lara com Z" e "Divã", as outras duas estreias de 2011. Goste-se ou não, identifique-se ou não com as suas temáticas, são muito mais ambiciosas e nitidamente mais bem estruturadas e bem produzidas.
O texto de "Macho Man" chega a ser constrangedor na sua proposta de "autoajuda" e combate à intolerância.
Jorge Fernando causa embaraço com a única maneira que conhece de interpretar, balançando os braços e fazendo caretas.
"Tapas & Beijos" aposta tudo na sua afiada dupla de atrizes, Fernanda Torres e Andrea Beltrão, mas tenho dúvidas se foram a melhor opção neste momento.
O público ainda guarda muito presente lembranças das duas em outras séries cômicas, "Os Normais" e "A Grande Família", e tende a ver, ainda que sem razão, repetição em cena.
Fosse encenado num palco, como "Sai de Baixo", "Batendo Ponto" poderia até funcionar, com seus personagens caricaturais. Mas o formato escolhido resultou tão simplório que não dá nem para dizer que a série "The Office" seria uma inspiração do programa.
Repare como os protagonistas dessas três séries fazem caretas em cena. Grandes atores (Marisa Orth, Fernanda Torres, Andréa Beltrão, Pedro Paulo Rangel) parecem numa disputa forçada e permanente pela atenção do público, tentando preencher o vazio oferecido pelos textos que estão encenando.
Menos cômica das séries, "Divã" dirige-se a um público segmentado (mulheres acima de 30 anos), com um argumento testado com sucesso no cinema.
APOSTA MAIOR
O capricho da produção indica se tratar de uma aposta maior da Globo. Lilia Cabral está ainda melhor do que no cinema no papel da mulher separada, que se sujeita a ser amante (primeiros dois episódios), enfrenta a rejeição e vai à luta.
Já "Lara com Z", um desdobramento de "Cinquentinha", exibida em 2009, centra-se em uma das personagens da série anterior, a atriz decadente Lara Romero (Suzana Vieira).
Em que pese o excesso de maldades, piadas internas e bobagens do texto, seria injusto comparar o porte dessa série com o das outras comédias noturnas da Globo.
A aposta da emissora em comédias leves e de curta duração, no formato de seriados com temporadas de 15 capítulos, em média, segue uma tendência internacional. São produtos mais baratos e fáceis de realizar que novelas, geram filhotes (DVDs) e, quando bem-sucedidas, novas temporadas.
São também mais fáceis de esquecer. Ficam no ar por pouco tempo (três ou quatro meses) e, se não agradam público e mercado publicitário, simplesmente desaparecem, sem deixar vestígio. (MAURICIO STYCER é repórter e crítico do portal UOL)
DIVÃ (ter., 22h30)
AVALIAÇÃO bom
LARA COM Z (qui., 23h15)
AVALIAÇÃO bom
TAPAS & BEIJOS (ter., 23h)
AVALIAÇÃO regular
BATENDO PONTO (dom., 23h05)
AVALIAÇÃO ruim
MACHO MAN (sex., 23h30)
AVALIAÇÃO péssimo.
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