sábado, outubro 08, 2011
Dinossauros estão de volta à tv brasileira, em dose dupla
Os dinossauros estão de volta à TV brasileira, em dose dupla. Reino dos dinossauros, um documentário em quatro episódios do Discovery Channel, será transmitido de 17 a 20 de outubro, sempre às 20 horas. A série usa técnicas avançadas de computação gráfica para recriar mais uma vez os grandes répteis desaparecidos. Seu grande destaque é ser sustentado nas mais recentes descobertas paleontológicas. Segundo o paleontólogo americano Thomas Holz, da Universidade de Maryland, isso confere à nova série autoridade científica. Holz fez parte da equipe de consultores científicos da produção. Graças aos especialistas, a representação dos dinossauros é radicalmene diferente de tudo o que se viu até hoje. Dependendo da espécie, o animal ganhou plumagem, uma crista vermelha ou um papo azulado. É o caso do velociraptor, que agora mais parece um avestruz com crista de galo e enormes presas no lugar do bico. Ou do gigantoraptor, um velociraptor com esteroides. Fartamente emplumado, ele viveu na Mongólia há 70 milhões de anos. Imagine uma ema com a altura de um elefante, a plumagem de avestruz e a ferocidade de um crocodilo africano.
Nem todos os dinossauros eram dotados de penas ou eram predadores. É o caso do dinheirossauro (é isso mesmo!) que viveu na região do atual Portugal, há 150 milhões de anos. Tratava-se de um gigante quadrúpede e herbívoro. Seu curioso nome se deve ao vilarejo de Porto Dinheiro, onde seus fósseis foram achados em 1987. Na série, um bando de dinheirossauros liderado por um macho de 25 metros migra à procura de pastagens. Os animais adultos vivem em alerta, perscrutando o horizonte e protegendo o indefeso filhote contra o ataque dos alossauros – um predador bípede que a série apresenta como um caçador solitário, paciente e eficaz. Ele segue a trilha das vítimas em potencial, mantém-se à espreita, fica de tocaia e se agacha, imóvel, antes do bote certeiro. Parece um leão ou um tigre, mas é um dinossauro.
O mesmo primor de computação gráfica – com muito menos ciência – é usado para reviver os répteis de Terra Nova, o seriado da Fox que estreia no dia 10 de outubro. Não se trata de documentário, mas ficção científica. Em 2149, a poluição tornou o planeta inabitável. A chance de sobrevivência é viajar no tempo e voltar ao passado, à Era Mesozoica, quando reinavam os dinossauros. É a opção da família Shannon: voltar 85 milhões de anos no passado e sobreviver à sombra dos T. rex e de vários outros répteis inventados. Qualquer semelhança com a realidade será coincidência. Convivem em Terra Nova bichos de períodos geológicos e continentes diferentes. É como se alguém colocasse cangurus e leões desfilando na mesma pradaria. De qualquer forma, é apenas um cenário para que a família Shannon exiba sua virtudes e dificuldades – como a família Robinson, da série de televisão Perdidos no espaço, fez antes dela, nos anos 1960.
O terreno dos dinossauros televisivos foi aberto por Steven Spielberg. Em 1993, o cineasta americano investiu dezenas de milhões de dólares para resgatar os dinossauros (os animais extintos mais amados por crianças e adolescentes) do limbo de 65 milhões de anos decorridos desde sua extinção. O resultado foi espetacular. O parque dos dinossauros extasiou a plateia mundial ao exibir um tiranossauro real e assustador. Quem pode esquecer a cena do T. rex de 4 metros de altura que disparava em perseguição a um jipe a toda a velocidade? Como apagar da memória os velociraptores superdotados que caçavam em bando, tocaiavam a presa e esperavam o momento exato para dilacerar suas vítimas?
O filme de Spielberg uniu diversão de qualidade com fundamentação científica. Seu sucesso foi tamanho que, em 1999, a rede britânica BBC investiu milhões de dólares para transportar os dinossauros computadorizados do cinema para a televisão. A série Walking with dinosaurs tornou-se um novo marco representativo do bestiário mesozóico. Antes de Jurassic park, a visão dos dinossauros sofria da deficiência das técnicas de animação analógica.O exemplo mais antigo é King Kong, de 1933, no qual o gorila colossal luta contra um tiranossauro de igual porte, desengonçado e cinzento (leia o quadro ao lado). Em 1954, o cinema B japonês descobriu um novo filão com monstros de aparência pré-histórica.Criou-se o mutante Godzilla, na verdade um figurante trajando uma fantasia emborrachada esverdeada. Ele fora um lagarto inofensivo dos mares do sul, atingido pela radiação dos testes nucleares americanos no Pacífico. Após doses maciças de radiação, o calango se agiganta e fica maior que qualquer arranha-céu. Em sua sanha vingativa, Godzilla quer destruir a civilização que o deformou. Em sua trilha de destruição está Tóquio, representada por risonhas maquetes de edifícios despedaçados e tambores de petróleo saltando em chamas.
Durante décadas, a representação cinematográfica de dinossauros e assemelhados andou em descompasso com o avanço do conhecimento paleontológico. Nos anos 1960, enquanto os cientistas voltavam à hipótese original formulada pelo naturalista inglês Thomas Huxley em 1870 – os dinossauros seriam aparentados às aves –, a televisão japonesa inundava os lares ocidentais com monstros desengonçados, de aparência bovina, em luta contra uma linhagem de super-heróis liderada por Ultraseven e Spectreman. Não havia neles sinais do parentesco aviário. Esses monstros continuaram a destruir cidades até os anos 1990, enquanto os paleontólogos há muito desconfiavam que o comportamento dos dinossauros seria bem mais tranquilo e inofensivo. Uma pista foram ninhos com ovos achados na Mongólia e na Argentina. Na Mongólia, o fóssil de um oviraptor revelou que o animal morrera soterrado ao tentar proteger a ninhada de uma avalanche. Devia ser mãe ou pai zeloso.
A atual visão renovadora não se restringe aos dinossauros. Ela também abarca seus primos alados, os pterossauros, assim como os mosassauros, bichos marinhos. Na série Reino dos dinossauros, surge o ranforrinco, um pequeno pterossauro que pousa na cabeça do temível alossauro. Como as aves fazem no dorso dos búfalos e do gado, o ranforrinco cisca o couro da fera à procura de piolhos e insetos. O gigante não se importa com o visitante, aliviado por ver-se livre das pragas. Os mosassauros eram lagartos marinhos gigantes. Diferentemente dos pterossauros, dos crocodilos, dos dinossauros e de seus descendentes vivos (as aves), os mosassauros não punham ovos. Seus filhotes nasciam vivos, num parto marinho, como acontece hoje com baleias e golfinhos – uma imagem que a televisão não poderia perder. (Época)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário