terça-feira, novembro 29, 2011

Aids ainda mata 12 mil por ano e só não sobe no Sudeste

Aids matou no ano passado 11.965 pessoas no Brasil. O número de novos casos aumentou em todo o país entre 1998 e 2010, menos na região Sudeste. E a tendência de alta se manteve este ano no Norte e no Nordeste. Há 12 anos, a quantidade de novos registros de Aids no Norte foi de 729, uma taxa de 6,1 para cada 100 mil habitantes; em 2010, o número subiu para 3.274, elevando a taxa para 20,6 para cada 100 mil habitantes. O Ministério da Saúde ainda não fechou a taxa deste ano, mas já contabiliza 1.391 novos casos na região. No Nordeste, 3.020 novos casos foram registrados em 1998, e no ano passado o número mais do que dobrou: 6.702. A taxa no período subiu de 6,6 por 100 mil habitantes para 12,6.

Os dados divulgados ontem no novo Boletim Epidemiológico Aids/DST mostram também que a incidência de infectados na população em geral se manteve estável no período, registrando até uma pequena queda, de 18,7 pra 17,9 casos para cada 100 mil habitantes. A diminuição foi possível graças à redução registrada no Sudeste, que concentra 56,4% de todos os infectados pelo HIV no país. Na região, o número de casos caiu de 19.167 para 14.142 e a taxa, de 27,8 para 17,6 entre 1998 e 2010. O Sudeste também foi a única região a registrar redução no número de mortos.

Segundo o ministério, no Brasil o vírus atinge 0,6% da população entre 15 e 49 anos. De 1980 a junho de 2011, 608.230 pessoas foram registradas com o vírus da Aids no país.

O governo explica que o aumento da doença no Norte e no Nordeste se explica porque mais testes passaram a ser feitos em áreas onde antes não havia acesso ao diagnóstico e também porque muitas pessoas só procuram o serviço de saúde para fazer o exame quando começam a sentir os sintomas da doença, o que acontece em média dez anos após a infecção.

O ministério está mais preocupado, no entanto, com o aumento da contaminação entre rapazes gays de 15 a 24 anos. Embora o percentual de casos em jovens desta faixa etária tenha diminuído em 12 anos, entre os jovens homossexuais desta idade, o percentual aumentou 10,1%. No ano passado, para cada 10 heterossexuais com esta idade contaminados, havia 16 homossexuais infectados pelo vírus da Aids. Para se ter uma ideia, em 1998, foram computados 364 casos de Aids entre jovens gays, o que representava 20,5% do total. E no ano passado, os casos saltaram para 514, 27% do total.

Campanha vai focar em
gays e travestis

Diante desta nova realidade, o governo decidiu focar neste público a próxima campanha, que terá início na próxima quinta-feira, Dia Mundial de Luta contra a Aids. Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o problema se intensificou entre os jovens gays porque a geração deles não vivenciou o início da epidemia, nas décadas de 80 e 90, quando a face mais cruel da doença foi revelada. O ministério vai usar as redes sociais para divulgar os alertas.

- Existe uma geração jovem no Brasil que não viveu a luta contra a Aids, 20 anos atrás. E por isso nós temos que ter cada vez mais estratégias de comunicação, de mudanças de atitude, entender cada vez melhor os meios onde esse setor se comunica para dialogar com esses jovens. Noventa e cinco por cento da nossa população sabe que a melhor forma de prevenir o HIV é o sexo seguro com o uso da camisinha, mas precisamos mudar a atitude dos nossos jovens. Nossa próxima campanha vai focar nos jovens gays e travestis - disse Padilha.

Para Mário Scheffer, presidente da Grupo Pela Vidda, a primeira organização especializada no assunto fundada no Brasil, o fato de os gays serem mais vulneráveis do que o restante da população não é novidade. Ele acusa o governo de ter abandonado esse grupo, ao não montar estratégias específicas para o público homossexual. Ele aponta que os gays em geral têm 11 vezes mais chance de pegar a doença do que os heterossexuais. Entretanto, nos locais de convivência não se veem cartazes alertando para o problema do HIV.

- Independentemente de ser jovem, o homossexual é mais afetado por conta de uma cultura própria de práticas específicas. Eles são mais vulneráveis, nunca deixaram de ser. No momento que você fala que a Aids é um problema de todo mundo, diminui um pouco o estigma, mas joga o problema para debaixo do tapete - apontou Scheffer.

A boa notícia é que a transmissão vertical - quando a mãe passa a doença para o bebê - diminuiu consideravelmente de 1998 a 2010. Entre crianças com até cinco anos, o número de novos casos foi 40,7% menor. Há 12 anos eram 5,9 infecções para cada 100 mil crianças nessa faixa etária, passando para 3,5 em 2010.

Para o ministro da Saúde, esse resultado se deve ao aumento de testes rápidos feitos no país - modalidade de exame que pode ser realizada em postos de saúde, nas áreas rurais e durante campanhas de prevenção. Com o aumento do diagnóstico, as mães infectadas começaram a ter acesso ao tratamento mais cedo, reduzindo a contaminação do bebê durante a gravidez e no parto. O governo quer acabar com esse tipo de transmissão nos próximos três anos.

- Queremos chegar até 2015 com a meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde, que é menos de 1% de transmissão vertical - disse Padilha.

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