terça-feira, novembro 08, 2011

Crack é pesadelo em 7 de cada 10 cidades mineiras

Mais de 70% dos municípios mineiros consomem crack em níveis médio e alto, segundo avaliação dos prefeitos para a pesquisa Observatório do Crack, da Confederação Nacional de Municípios (CNM). Divulgada ontem em Brasília, a geografia da droga mostra que Minas Gerais acompanha o Brasil no avanço da epidemia, seja na disseminação ou no vício em pedras feitas com resto de cocaína. Em Minas, 531 cidades estão classificadas na categoria de consumo médio e alto (70,6%). Entre os 752 municípios pesquisados, 717 (95,3%) registram uso de drogas. Conforme o Estado de Minas mostrou ontem, o crack já se espalha pelo Vale do Jequitinhonha, favorecido pela miséria da população. Hoje, além do avanço no país, o EM revela como pequenas cidades, como Serra da Saudade, o município menos populoso de Minas, no Centro-Oeste do estado, já sofre com a epidemia.

A pesquisa da CNM envolve 4.430 cidades brasileiras. Deste total, 4.114, relatam problemas com consumo de drogas. Segundo o estudo, o consumo do crack está presente em 90,7% dos municípios e se aproxima do vício em outros entorpecentes em 92,5% das cidades. "O dado reforça um diagnóstico anterior e revela como o consumo de crack está disseminado em todo país, em áreas urbanas e rurais. Na verdade, é um pedido de socorro dos municípios às esferas estaduais e federais, porque se o crack ainda não é a droga mais consumida, é a aquela que mais impacta na saúde e na segurança. Não se sabe o que fazer com os usuários, como tratá-los. Fora que o comércio do crack está diretamente relacionado à violência e criminalidade. A pesquisa aponta uma demanda dos municípios e mostra que ainda não estamos fazendo direito", afirma o ex-secretário adjunto estadual de Defesa Social e secretário-executivo do Instituto Minas pela Paz, o sociólogo Luiz Cláudio Sapori.

A pesquisa também divulga o investimento dos estados para atendimentos a usuários de drogas e políticas públicas. Este ano, segundo a CNM, as prefeituras mineiras investiram juntas R$ 5.734.967 em ações antidrogas, valor muito superior aos R$ 221.520 do ano passado. Para atendimento aos dependentes químicos, em 2010 foi gasto pouco mais de R$ 1,3 milhão. A pesquisa não aponta, porém, os valores previstos para 2011. "Para reverter essa situação, só mesmo com muita prevenção para evitar novos usuários e tratamento maciço dos dependentes já existentes. Talvez seja a hora de discutir se não vale a internação involuntária para aqueles que não conseguem se recuperar sozinhos, uma vez que o sistema não oferece tratamento complementar suficiente", avalia Sapori.

MAPA DO MAL Em Minas, 680 municípios do total de pesquisados têm problemas só pela presença de entorpecentes. Desses, 473 apontam efeitos derivados da combinação de crack e outras drogas, o que representa 69,5% das cidades pesquisadas. Para criar o mapa do crack, cada gestor municipal recebeu um login e senha para preencher um formulário no site Observatório do Crack, lançado em março deste ano.

O trabalho detalha a percepção do gestor sobre a intensidade de consumo de drogas e, no caso de Minas, a variação é muito pequena entre o número de municípios que sofre com o crack e aqueles que relatam problemas com outras drogas. No que diz respeito ao consumo, o vício com crack é considerado baixo em 172 cidades mineiras, médio em 355 e alto em 176. Três não informaram. Para as outras drogas, a avaliação dos gestores é de que 157 municípios estão na categoria de consumo baixo, 361 no médio e 185 cidades em nível alto. Três não foram classificadas.

Os números atualizam o trabalho elaborado em 2010, quando 98% das cidades pesquisadas em todo o país já identificavam a presença das pedras de crack em seus territórios. Em Minas, 676 prefeituras participaram do trabalho, mas as perguntas tratavam da existência de políticas públicas, programas de apoio e tipo de ações de combate ao crack.

Este ano, a ideia do estudo é acompanhar a evolução do tema, retratando a realidade dos municípios inclusive com um mapa interativo que vai medir a intensidade do consumo de crack por cidade participante. O site publica legislação específica, artigos de especialistas, fórum de discussões e seis boas ações nessa área, uma delas em Minas, na cidade de Cordislândia, no Sul do estado. Lá, alunos das duas escolas públicas fizeram uma blitz, distribuindo material didático, adesivos e camisetas da campanha "Crack nem pensar. Tire essa pedra do meu caminho".

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