O cenário para a captação de recursos no exterior deve permanecer difícil no início do próximo ano. A expectativa é que os custos, que têm afastado as companhias brasileiras dos mercados de bônus internacionais, permaneçam elevados, em meio às turbulências globais. O acesso também deve permanecer fechado para empresas de risco mais elevado.
E a quantidade de recursos que precisarão ser rolados no ano que vem não é pequena, desafio que se soma à busca de novos créditos para os grandes investimentos em infraestrutura.
Segundo dados do Banco Central (BC), a necessidade de amortização da dívida externa em 2012 para empresas e bancos privados soma US$ 35 bilhões - de acordo com dados do Balanço de Pagamentos brasileiro do mês de outubro. Incluindo as estatais e o Tesouro Nacional, esse número sobe para US$ 40 bilhões.
O mercado iniciou 2011 com condições de liquidez e apetite do investidor em situação bem mais favorável e com um desafio de rolagem bem inferior: o volume a vencer ao longo do ano foi da ordem de US$ 20 bilhões.
A estratégia usada em 2011 foi a de antecipar as operações para o começo do ano. As empresas brasileiras aproveitaram o primeiro semestre para buscar mais de US$ 30 bilhões em captações ou assinatura de empréstimos com um pool de bancos (sindicalizado).
Os investidores tradicionalmente se mostram mais suscetíveis a novos investimentos no começo do ano, quando as estratégias de alocação de ativos está no início. Mas a estratégia não parece servir para 2012.
O mercado se mantém fechado e a perspectiva não é das melhores. Nos últimos três meses, as empresas brasileiras trouxeram do exterior US$ 6,86 bilhões por meio de emissões de título ou empréstimos sindicalizados. No mesmo período do ano passado, o fluxo para o país havia sido de US$ 19,62 bilhões.
O apetite está menor e restrito a empresas de primeira linha, mas o que tem afastado de fato as empresas são os custos mais elevados. As taxas pagas para os investidores internacionais têm sido o principal impeditivo para a busca de recursos no exterior. Capitalizadas, as companhias brasileiras preferem esperar um melhor momento para acessar os mercados europeu e americano.
Uma opção que os bancos de investimentos têm aconselhado às companhias é aproveitar o último mês do ano para antecipar o orçamento de 2012. A Petrobras iniciou esta semana uma rodada de visitas a investidores internacionais para medir o apetite para uma emissão em euro ou em libra.
A empresa, no entanto, só vai fechar a operação se conseguir um custo atrativo. A resposta tem sido positiva, com uma boa recepção dos investidores. Mas a operação não é iminente, por isso não há sinalização sobre se as taxas estão atrativas. O Tesouro também sinalizou que pode acessar o mercado no início de 2012.
Sem solução para a Europa à vista, nada indica que o custo deverá ceder no curto prazo, segundo executivos de bancos de investimentos, ouvidos pelo Valor. Parte dos especialistas já acredita, inclusive, que o mercado pode ter atingido um novo patamar de juros, e as empresas terão que se acostumar aos novos níveis.
As taxas nominais estão historicamente baixas, já que a referência são os títulos soberanos do governo americano, cujos preços estão próximos das mínimas históricas. Mas quando se olha o prêmio de risco, os números apontam sensível piora.
A captação feita pelo Banco do Brasil, por exemplo, há duas semanas, foi fechada no melhor preço já conseguido pelo banco em uma operação no exterior. A instituição pagou 4% por US$ 500 milhões com prazo de 5 anos. A reabertura dos títulos de 30 anos do Tesouro Nacional também atingiu as menores remunerações já pagas.
Mas o custo relativo, ou seja, a diferença (spread) entra a taxa paga pela companhia e o preço dos títulos americanos usados como referência está mais elevado do que no passado recente. Essa medida é conhecida como prêmio de risco e mostra quanto o investidor está cobrando para comprar os novos papéis emitidos pela empresa ou banco.
No caso do BB, o prêmio de risco foi de 312,3 pontos - sobre o bônus do governo americano de mesmo prazo. Em maio deste ano, o banco pagou um spread de 287,5 pontos por uma captação no exterior de dez anos. A colocação da República também ficou mais cara. O spread, que ficou em 160 pontos agora, tinha sido de 105, em maio.
Segundo o diretor-gerente de Mercado de Capitais do HSBC, Alexei Remizov, enquanto os spread e os prêmios sobre os preço negociados no mercado secundário (new issue premiums) para as empresas de primeira linha abriram moderadamente, os juros nominais permanecem perto das mínimas históricas, fazendo com que as emissões ainda sejam bastante atrativas.
Essa é a discussão que deve permear as diretorias de grandes empresas a partir de agora. As companhias nacionais também terão que se adaptar a uma nova realidade. À medida que se aproximam de notas de risco mais elevadas, a tendência de sempre conseguir juros menores desaparece. É normal, por exemplo, empresas americanas pagarem mais caro em momentos turbulentos como agora, avalia André Silva, diretor executivo de Mercado de Capitais e Soluções de Tesouraria para América Latina do Deutsche Bank.
"À medida que se progride na escala de risco, os preços das emissões oscilam em função do mercado", diz. Ele diz que, apesar de o Brasil e as companhias serem avaliadas como BBB, muitas já pagam taxas próximos ao nível A - atingido recentemente pela Vale ("A-").
Nenhum comentário:
Postar um comentário