Às vésperas de uma cúpula que visa a atacar na raiz os problemas da crise da dívida, a agência de classificação de risco Standard & Poor"s (S&P) colocou em perspectiva negativa, para um possível reabaixamento, a nota de 15 países do bloco - inclusive os "AAA", como Alemanha, França e Holanda. Só ficaram fora a Grécia, que tem a pior nota na região, e Chipre, que já estava sob revisão para rebaixamento. A nota é usada para orientar investidores sobre o grau de risco de títulos postos à venda no mercado. Quanto mais baixa a nota, mais altos os juros exigidos pelos investidores para comprar os papéis. O anúncio foi feito horas depois de o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã, Angela Merkel, informarem que chegaram a um acordo para o novo tratado para a União Europeia (UE) e salvar o euro.
O comunicado da S&P afirma que a decisão se deveu à observação de que "o estresse sistêmico na zona do euro aumentou nas últimas semanas". Segundo a agência, esse estresse se deve ao aperto do crédito na região; à alta do retorno sobre os bônus soberanos (inversamente proporcional à procura dos investidores); à falta de acordo entre os líderes europeus sobre medidas contra a crise; ao elevado endividamento dos países da região; e ao elevado risco de uma recessão na zona do euro em 2012. A S&P disse que a revisão terminará depois da reunião de cúpula da União Europeia (UE) na sexta-feira. E informou que o rating de Alemanha, Áustria, Bélgica, Finlândia, Holanda e Luxemburgo pode ser reduzido em um grau. O dos demais países, em dois.
Depois da divulgação do comunicado da S&P, Alemanha e França soltaram uma nota conjunta reforçando que tomarão "todas as medidas necessárias, junto a seus parceiros e às instituições europeias, para assegurar a estabilidade da zona do euro".
França diz que não haverá 3º pacote
A mesma S&P foi responsável pelo histórico rebaixamento dos Estados Unidos, em agosto deste ano, de "AAA" para "AA+". A possibilidade de as grandes economias da zona do euro terem a nota reduzida fez o colunista James Mackintosh, do "Financial Times", afirmar que o "AA+" é o novo "pretinho básico". "Para os investidores, isso (o rebaixamento) será uma declaração do óbvio: não há mais qualquer ativo livre de risco na zona do euro".
A França já vinha enfrentando rumores de que perderia sua classificação "AAA". No início de novembro, um erro interno da S&P fez circular a informação de que o país teria sido rebaixado, o que foi rapidamente corrigido. E outra agência de classificação, a Moody"s, alertou no mês passado que o país pode ser colocado em revisão devido a seu elevado endividamento.
Mas o ministro de Finanças francês, François Baroin, disse ao canal France 3 que o alerta da S&P não levará o governo a decretar um terceiro plano de austeridade.
- Temos margem para uma eventual desaceleração econômica - afirmou Baroin. - Tudo foi feito para proteger os franceses e suas economias. Tudo foi feito para permitir que os bancos mantenham a irrigação da atividade econômica.
Já a Bélgica, que fora rebaixada no mês passado devido a seu impasse político - o país ficou quase 19 meses sem governo - nomeou ontem Elio di Rupo como novo primeiro-ministro.
A notícia, só divulgada oficialmente após o fechamento do mercado americano, foi antecipada pelo jornal britânico "Financial Times", que afirmou em seu site, citando fontes, que a S&P pretendia revisar a nota de seis países da zona do euro com rating "AAA". Com isso, acabou pesando no fim dos negócios na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e em Wall Street. O impacto, porém, foi limitado, já que ainda não havia confirmação oficial.
O Ibovespa, índice de referência do mercado brasileiro, fechou em alta de 1,77%, aos 58.910 pontos, após chegar a avançar 2,35% no fim da tarde. O dólar comercial, que caminhava para uma leve queda no pregão, fechou em alta de 0,22%, a R$1,792, interrompendo uma sequência de seis quedas seguidas.
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