A dois dias de a ocupação policial na Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, em São Conrado, completar um mês, moradores das três comunidades carentes e do asfalto veem a valorização imobiliária ferver feito as temperaturas do verão. No Vidigal, um terreno com 10 casas, no alto do morro, está sendo vendido por R$ 1 milhão. Em São Conrado, empreendimento recém-lançado no espaço onde ficava uma concessionária de carros já vendeu 90% dos apartamentos em 48h.
A disparada dos preços é o cenário mais visível dos benefícios que a expulsão do tráfico levou a mais de 130 mil pessoas que vivem na região. Da janela de casa, colocada à venda no alto do Vidigal, a dona de casa Lúcia Rodrigues Cabral, 47 anos, e filha, a estudante Isabela Cabral, 20, enumeram outros benefícios, além da oportunidade se mudar para uma casa melhor, ‘perto do asfalto’: desde o dia da operação policial, em 13 de novembro, não ouvem barulho de fogos na favela.
“Os fogos anunciavam a chegada da polícia. Isso acabou. O sonho da paz aconteceu. Agora, planejamos mais mudanças para essa nova vida”, conta Lúcia, contemplando uma das mais belas vistas do Rio. “Vamos nos mudar, mas, sair do Vidigal, nunca”, completa a estudante.
Sem o poder do tráfico, moradores reconquistaram, além do território, a liberdade, o que pode ser percebido quando são analisados os números de atendimento na UPA da Rocinha. Comparando outubro e dezembro, há aumento de 20% no atendimento de casos de menor gravidade após 22h, o que, segundo médicos na unidade, não acontecia antes da pacificação.
O terreno de R$ 1 milhão no Vidigal, segundo os corretores da MS Imobiliária, pode render ainda mais. “O dono pensa em desmembrar as casas. Separadas, podem render o dobro”, avalia o corretor local, Jonas Barcellos.
Na Rocinha, um imóvel pode custar até R$ 130 mil, mesmo em becos ou vielas. “Os preços aqui no bairro, no asfalto, subiram 40%, já no dia seguinte à ação policial. Vivemos realmente um renascimento, após anos de desvalorização”, conta o presidente da Associação de Moradores de São Conrado, José Britz.
Fila de espera: Aluguel custa R$ 2 mil por mês
A MS Imobiliária é a única que oferece esse tipo de serviço no Vidigal. E por lá já tem até fila de espera para quem quer alugar ou comprar um imóvel. “Temos 18 casas disponíveis e uma fila de 14 pessoas que querem comprar uma casa e mais 34 pessoas dispostas a alugar. Mas, para locação, só temos notícia de um apartamento”, explica o corretor Marcos Vinícius Rocha.
Para alugar o apartamento disponível, o futuro inquilino terá que desembolsar quase R$ 2 mil por mês. Já na Rocinha, quem procura aluguel vai precisar de mais sorte. Por lá, segundo corretores de três imobiliárias da comunidade, não há mais casas.
“Temos fila de espera por aqui também e há uma dificuldade grande em encontrar imóveis para a locação. Por aqui, os imóveis já haviam sido valorizados com as obras do PAC. Agora, aumentou mais”, explica o corretor Fábio Ricardo, da Rocinha.
Investimentos
Na expectativa por mais melhorias, os moradores da Rocinha aguardam, agora, a nova fase do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, que terá um total de investimento de R$ 700 milhões. As obras de complementação do PAC 1 da favela, que estão paradas, também devem ser retomadas, para a construção, por exemplo,do plano inclinado com três estações, ligando o acesso principal, na Autoestrada Lagoa-Barra, ao Túnel Zuzu Angel.
A Rocinha também vai ganhar um mercado público com três andares, 49 lojas e praça de alimentação no Largo do Boiadeiro. Já no Vidigal, a esperança é que a comunidade também receba intervenções do PAC, o que ainda não está previsto.
Moradores da região também comemoram a primeira festa de Réveillon na Praia de São Conrado, como antecipou dia 2. As atrações ainda não foram definidas pela prefeitura. “Torcemos ainda pela construção do teleférico ligando a Rocinha ao Vidigal”, diz o corretor Jonas Barcellos, ex-presidente da Associação de Moradores do Vidigal.
Números
446 Kg de cocaína foram apreendidos na ocupação, assim como mais de 5 mil kg de maconha e mais de 6 mil pedras de crack, além de ecstasy e cheirinho da loló
259 armas de grosso calibre foram apreendidas — 91 delas, fuzis. Além de 239 explosivos e mais de 60 mil balas de diversos calibres
70 criminosos foram presos em um mês de ocupação. Ao todo, 11 menores foram apreendidos e outros oito criminosos, mortos
64 mil é o número de veículos que passam pelo Túnel Zuzu Angel aos domingos. No dia da operação, foi reduzido para 36 mil.
1.903 pessoas, com casos de baixa complexidade, foram atendidas na UPA, após 22h, nos primeiros dias de dezembro. Em outubro, foram 1.602 atendimentos.
90% dos apartamentos de um empreendimento foram vendidos em 48h. Mais três prédios comerciais serão construídos em São Conrado.
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