Eles nasceram há uma década, junto com o surgimento do Piscinão de Ramos, e durante toda a infância o tiveram como referência de lazer e diversão. Ao longo dos anos, colecionaram lembranças das brincadeiras, dos piqueniques com a família e os amigos, dos domingos de água e areia lotados. Porém, às vésperas do aniversário do lago artificial — que acontece na próxima sexta — a "geração piscinão" diz não ter motivos para comemorar.
De férias, a criançada não pode contar com o espaço, sem água há cerca de dois meses.
— Fico muito triste porque o piscinão está vazio. Vazio de gente e de água. A gente de férias e sem ter como brincar aqui — lamentou Natália Cabral Rodrigues.
Segundo ela, além dos moradores de Ramos, gente que vive em outras regiões também vem sofrendo com a decadência do lago artificial:
— Vinha muita gente de outros lugares para cá, só para conhecer o piscinão. As pessoas tinham curiosidade de saber como ele funciona. Agora, não vem mais ninguém.
Kethellyn Cristine Moreira Sayão fez coro às reclamações da coleguinha e aproveitou para fazer um pedido.
— Gente, enche logo o piscinão, por favor! — disse.
Mas frisou que, junto com a água, devem chegar também mais gente para fazer a limpeza da areia e dos banheiros:
— Aquilo lá fede muito. Ninguém aguenta nem chegar perto. Por isso tem gente que faz xixi na água.
Michel Douglas da Silva Cabral não deixou de jogar futebol com os colegas na areia. Mas o grupo teve que achar outras maneiras de se refrescar.
— A gente ou toma banho no chuveirinho ou faz guerra de sacolé de água. Se não for assim, morre de calor — contou.
Apesar das dificuldades, todas as crianças foram unânimes ao serem perguntadas se trocariam o piscinão por uma das praias das zonas Sul ou Oeste do Rio. Todas gritaram um sonoro "Não!".
— Essa aqui é a nossa praia. Só precisa de mais cuidado — disse Thainá da Silva.
Mesmo com o piscinão mais parecendo um deserto — tem gente que já o apelidou de "areião" —, ainda há quem vá ao local em busca de um bronzeado. É o caso da garçonete Cristina Dourado Costa, de 26 anos. Ela trabalha no Leme, bairro da Zona Sul carioca, mas bate ponto em Ramos em suas folgas, às quintas-feiras.
— Moro no Parque União e gosto de vir aqui para pegar um solzinho. A única vantagem de o piscinão estar vazio é que a gente fica mais à vontade — contou ela.
Para driblar o calor, uma cervejinha gelada e um banho de chuveirinho:
— É o jeito né? Sempre que venho, pergunto ao pessoal quando vai encher de água novamente e ninguém sabe me responder.
Frequentador assíduo da área, Jorge José Nascimento, conhecido como Feijão, de 48 anos, vive a mesma incerteza.
— Nos últimos dois meses, todos os dias venho para saber quando finalmente vamos ter água. Mas nada. Dá uma tristeza ver esse lugar tão abandonado. Se o piscinão tivesse cheio, com um sol desses de hoje (a última quinta-feira), isso aqui estaria lotado — disse.
Ele fez ainda uma crítica às autoridades, alegando que o piscinão só recebe atenção nos anos eleitorais:
— Na hora de pedir voto, todo mundo sabe o caminho para cá.
A placa fala das obras, que já se arrastam há dois meses Foto: Bruno Gonzalez / Extra
Lago artificial cheio na quarta, diz Rio-Águas
Enquanto moradores e frequentadores reclamam da demora para o enchimento do piscinão, o presidente da Rio-Águas — órgão da Secretaria Municipal de Obras responsável pela manutenção do lado artificial — acena com uma boa notícia: segundo Mauro Duarte, ele não passará o aniversário de dez anos vazio. A previsão é que esteja cheio até quarta-feira.
— O prazo foi fora do normal porque tivemos que fazer uma raspagem do fundo do piscinão e também um preenchimento com areia, que teve que ser clorada. Além disso, houve a recuperação dos tubos de transporte de cloro no entorno do lago artificial. Mas agora a área já está liberada. Só falta encher — disse.
Quanto à época em que foi feita essa manutenção — geralmente ela acontece em julho, quando as temperaturas estão mais baixas — Mauro explicou que houve demora no processo de licitação para escolher os responsáveis pelo serviço:
— Também tivemos que buscar uma areia que tivesse o mesmo grão que a do piscinão para fazer o preenchimento. Essa é uma exigência ambiental.
Voz dissonante
Garoto-propaganda do piscinão, o cantor e compositor Dicró é a voz dissonante no coro de reclamações de moradores de Ramos. Para ele, o lago artificial continua sendo um símbolo de desenvolvimento da região e só tem a ganhar com a Copa do Mundo e as Olimpíadas:
— Imagine só a quantidade de gente que vai visitar aquilo lá!
Dicró disse, ainda, que a reclamação dos moradores, na verdade, é um reflexo da perda de lucros com o comércio:
— Os frequentadores são de fora de Ramos. Os moradores, na verdade, lucram trabalhando como ambulantes e nos quiosques. Por isso estão reclamando do piscinão vazio. Mas tem que esvaziar para limpar mesmo.
O cantor fez ainda uma brincadeira com os moradores da Zona Sul.
— Quem deve estar comemorando muito esse aniversário é o pessoal de Copacabana, de Ipanema. Com o piscinão, os farofeiros sumiram de lá — disse.
Dicró foi um dos artistas que se apresentaram no primeiro réveillon do piscinão. Este ano, também haverá festa com apresentação de MCs e da cantora Sandra de Sá. Está prevista, também, uma queima de fogos de dez minutos.
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