Depois de algumas séries bem-sucedidas no último ano — “Brasil sem cigarro” e “Medida certa”, para dar dois exemplos —, anteontem o “Fantástico” teve uma estreia totalmente equivocada. Em “A vida que pedi a Deus” só não faltou inspiração a quem inventou o título. No mais, pouco se salva. A abordagem folclorizada da velhice adotada pelo programa afogou o quadro num aflitivo tatibitate. Nos dias de hoje, com os avanços da medicina possibilitando a vida longa, tratar pessoas que têm mais de 60 anos de maneira infantilizada chega a ser insultuoso.
Os personagens de "A vida...” são em geral aposentados. O “Fantástico” acompanha duas excursões de pessoas de mais de 60 a bordo de ônibus em direção a destinos turísticos (Caldas Novas e Bonito). E mostra o dia a dia de alguns deles antes do embarque — fazendo ginástica, palavras cruzadas, brincando, enfim, engajados em atividades normais. Tudo isso, porém, é tratado como algo exótico, merecedor das exclamações de um dos narradores, Tadeu Schmidt (o outro é Cid Moreira).
Por exemplo, quando José Roberto Secco apareceu na academia praticando musculação, o narrador é enfático: “E ele não é café com leite, nããão!”. Como assim? Pior aconteceu na apresentação de dona Yolanda, de 87 anos. O “Fantástico” parecia ter descoberto a pólvora quando informou que um de seus passatempos favoritos é a navegação na internet. Um contraste com o comentário dela sobre a atividade: “É muito agradável”, disse dona Yolanda, quase em tom blasé. A última entrevistada foi Esmeralda Araújo. O programa destacou o entusiasmo dela em falar de sexo e fazer gracinhas de duplo sentido. Isso, todo mundo deveria saber, não é prerrogativa da idade.
Como informou Zeca Camargo antes do “A vida que pedi a Deus” entrar no ar, o Brasil possui 20 milhões de habitantes com mais de 60 anos. Como todo o resto da população, essas pessoas gostam de viajar, têm computador e fazem ginástica. Ué, e por que seria diferente?
Por isso, falar de adultos como se fossem crianças batendo recordes só por estarem vivendo normalmente depois dos 60 faz de “A vida que pedi a Deus” algo constrangedor.
NOTA 10
Para o concurso de gringos no samba promovido pelo “Esquenta!” anteontem. Preta Gil e Fábio Porchat, do júri, riam muito, e com razão. Foi mesmo de rolar de rir. Teve até torcida organizada pelo malaio que saiu vencedor.
NOTA 0
Para a onipresença de Diogo Nogueira nas novelas da Globo. Primeiro, ele fez uma alentada participação em “Fina estampa”, na casa de Griselda. Dias depois, animou uma festa em “Malhação”. Chaaato...
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