A enfermeira Rúbia Rodrigues da Silva coordena o posto do Programa Saúde da Família (PSF) na cidade goiana, na divisa com a Bahia. Está acostumada a atender moradores de Posse com a doença de Chagas e a tentar encaminhamentos para centros médicos especializados, em Brasília e em Goiânia. "Aqui, é difícil achar uma família que não tenha Chagas." Os pais e um irmão de Rúbia têm a doença. A família da enfermeira, a exemplo dos pacientes da unidade do PSF, não teve privilégios: ninguém consegue o medicamento indicado para casos agudos e crônicos. "O que nos dizem é que não está fabricando mais. Fico preocupada com meus pais e meu irmão."
O que "dizem" a Rúbia e o que vive sua família são o reflexo de uma falha grave do governo brasileiro e do desinteresse da indústria farmacêutica por uma doença associada exclusivamente à pobreza, nada lucrativa. Por sete meses, pelo menos, o Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (Lafepe) deixou de produzir o benznidazol, praticamente o único medicamento utilizado no tratamento de casos agudos e até mesmo crônicos da doença de Chagas. A interrupção da produção ocorreu entre abril e outubro do ano passado. Os problemas gerados pela paralisia quase passaram despercebidos, não fosse o manifesto de setores da comunidade científica e de entidades do terceiro setor, como os Médicos sem Fronteiras.
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