Ilheenses, por favor, não morram! Não há vagas nos cemitérios da cidade. "Chegamos a um ponto crítico", revelou nesta sexta-feira, ao Jornal Bahia Online, o administrador municipal do setor, Marcos Clement. " Já estamos enterrando pelos cantinhos", completa, revelando ainda que, muitas vezes, com autorização das famílias dos mortos, "tem se chegado alguns túmulos mais para o ladinho" para caber mais sepultamentos e amenizar a crise. Mas isto tem prazo de validade para dar certo.
Em Ilhéus, são feitos, em média, 1.300 sepultamentos ao ano. E a cidade, para piorar ainda mais a situação, tem sepultado alguns indigentes, pessoas mortas e não identificadas pela polícia, que são encaminhados pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT) de Itabuna. "Eles alegam que foram cidadãos que morreram em território ilheense e não temos como negar o enterro", explica o administrador municipal de cemitérios públicos.
Há décadas a cidade - que cresceu bastante - não recebe nenhum investimento no setor. O cemitério do Pontal, por exemplo, hoje o de maior índice de sepultamentos, surgiu antes mesmo do bairro. O JBO apurou que Ilhéus conta com 29 cemitérios, mas a administração só consegue dar conta de 15. E olhe lá. Falta servidor. Falta ainda mais recurso. Resultado: a maioria funciona de forma irregular, em terrenos particulares invadidos desde o século passado. Boa parte deles é centenária e funciona na zona rural. "Alguns apresentam registros de sepultamentos do início do século passado. São áreas onde indígenas e quilombolas eram enterrados e que até hoje atendem às populações próximas", afirma Marcos Clement, que realiza um minuncioso levantamento da situação dos cemitérios ilheenses. Hoje quem controle que é ou não enterrado nestas locais são os administradores distritais.
Não há um levantamento sobre a origem dos principais cemitérios da cidade. O que já se sabe é que o cemitério do Basílio foi criado pelo então prefeito Herval Soledade. O do Pontal, é centenário. E o da Vitória é do tempo em que a cidade ainda era administrada por Intendente, uma espécie de prefeito àquela época. O trabalho de Clement já apresenta alguns resultados estarrecedores. Por exemplo: muitos corpos sepultados no Cemitério do Pontal são desconhecidos. Não aparece uma viva-alma para visitar alguns túmulos. "Fiz um levantamento e constatei que só há registros dos corpos a partir a partir de 1982". De lá pra cá, cerca de 10 mil pessoas já foram enterradas no local.
Jaime Mendes de Souza, tem 61 anos. Trabalha como coveiro há 27. É testemunha viva da falta de investimento nos cemitérios da cidade. Aliás, diga-se de passagem, coveiro é coisa rara na estrutura administrativa da Prefeitura de Ilhéus. Além de Jaime, existe apenas um outro em atividade. Para atender a população, a medida paliativa de sempre. Servidores do setor administrativo da Prefeitura é que pegam na enxada e executam os sepultamentos. Funcionários do cemitério confirmam que, por algumas vezes, chegaram a parar na delegacia de polícia. Abriram covas erradas e fizeram sepultamentos em locais trocados por totalo desconhecimento do que estavam fazendo.
Até 1972, o município disponibilizava " túmulos perpétuos" no Cemitério da Vitória, no alto da Piedade. No local, estão sepultadas pessoas importantes, políticos e coronéis dos tempos áureos da economia cacaueira. Mas de 72 pra cá, muita coisa mudou. Não se compra mais espaços. Paga-se pelo aforamento e toda e qualquer família de cidadãos mortos, para garantir espaço nos cemitérios ilheenses, têm que possuir um Termo de Concessão que é gerado a partir do segundo ano de morte e pagar as taxas e anuidades ao erário público. Mas, o JBO apurou, que grande parte das família não aparece rotineiramente no cemitério, nem para cuidar do túmulo do ente querido, uma obrigação que, diga-se de passagem, não é da administração municipal.
No Cemitério da Vitória, em alguns pontos, não há mais sequer corredores de acesso aos mausoléus tamanha a ocupação de mortos. Aqui ainda consegue sepultar pessoas, familiares que já têm mausoléus na colina da Piedade. É também na Vitória, onde há o maior registro de violação de túmulos nos cemitérios da cidade. Ladrões investem em mausoléus portentosos para retirar obras de arte e peças de identificação em bronze. O administrador geral Marcus Clement chegou a pensar em acionar o SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para viabilizar uma maior proteção ao local. Há peças centenárias sendo destruídas ou roubadas.
Ainda na Vitória, o muro lateral ameaça cair. E este mausoléu, aos poucos, está inclinando com a erosão, segundo os funcionários, provocada por uma obra particular realizada próximo ao muro de proteção do cemitério.
Outro problema verificado pela reportagem do JBO, diz respeito à invasões em áreas próximas dos cemitérios. No Basílio, por exemplo, pôde ser localizado o muro de uma casa construído recentemente e que avançou o limite legal da construção. Depois disso, o morador resolveu viabilizar uma garagem. Resultado. Para garantir a manobra do carro, alargou a rua, mexeu em uma significativa fatia de terreno do cemitério e caixões enterrados já começam a aparecer numa área, agora, residencial.
No cemitério do Pontal, a própria administração se encarregou de escrever uma mensagem na entrada principal. "Aqui se acaba o orgulho, a riqueza, a autoridade, o preconceito, as feiúras, a ganância, a valentia, as bonitezas, a mentira, as censuras, o amor, o desamor e a impunidade". Só esqueceram de dizer que, hoje, diante do total abandono, também acabaram com o respeito aos mortos e aos seus familiares!
http://www.jornalbahiaonline.com.br/index.asp?noticia=17221
Há décadas a cidade - que cresceu bastante - não recebe nenhum investimento no setor. O cemitério do Pontal, por exemplo, hoje o de maior índice de sepultamentos, surgiu antes mesmo do bairro. O JBO apurou que Ilhéus conta com 29 cemitérios, mas a administração só consegue dar conta de 15. E olhe lá. Falta servidor. Falta ainda mais recurso. Resultado: a maioria funciona de forma irregular, em terrenos particulares invadidos desde o século passado. Boa parte deles é centenária e funciona na zona rural. "Alguns apresentam registros de sepultamentos do início do século passado. São áreas onde indígenas e quilombolas eram enterrados e que até hoje atendem às populações próximas", afirma Marcos Clement, que realiza um minuncioso levantamento da situação dos cemitérios ilheenses. Hoje quem controle que é ou não enterrado nestas locais são os administradores distritais.
Não há um levantamento sobre a origem dos principais cemitérios da cidade. O que já se sabe é que o cemitério do Basílio foi criado pelo então prefeito Herval Soledade. O do Pontal, é centenário. E o da Vitória é do tempo em que a cidade ainda era administrada por Intendente, uma espécie de prefeito àquela época. O trabalho de Clement já apresenta alguns resultados estarrecedores. Por exemplo: muitos corpos sepultados no Cemitério do Pontal são desconhecidos. Não aparece uma viva-alma para visitar alguns túmulos. "Fiz um levantamento e constatei que só há registros dos corpos a partir a partir de 1982". De lá pra cá, cerca de 10 mil pessoas já foram enterradas no local.
Jaime Mendes de Souza, tem 61 anos. Trabalha como coveiro há 27. É testemunha viva da falta de investimento nos cemitérios da cidade. Aliás, diga-se de passagem, coveiro é coisa rara na estrutura administrativa da Prefeitura de Ilhéus. Além de Jaime, existe apenas um outro em atividade. Para atender a população, a medida paliativa de sempre. Servidores do setor administrativo da Prefeitura é que pegam na enxada e executam os sepultamentos. Funcionários do cemitério confirmam que, por algumas vezes, chegaram a parar na delegacia de polícia. Abriram covas erradas e fizeram sepultamentos em locais trocados por totalo desconhecimento do que estavam fazendo.
Até 1972, o município disponibilizava " túmulos perpétuos" no Cemitério da Vitória, no alto da Piedade. No local, estão sepultadas pessoas importantes, políticos e coronéis dos tempos áureos da economia cacaueira. Mas de 72 pra cá, muita coisa mudou. Não se compra mais espaços. Paga-se pelo aforamento e toda e qualquer família de cidadãos mortos, para garantir espaço nos cemitérios ilheenses, têm que possuir um Termo de Concessão que é gerado a partir do segundo ano de morte e pagar as taxas e anuidades ao erário público. Mas, o JBO apurou, que grande parte das família não aparece rotineiramente no cemitério, nem para cuidar do túmulo do ente querido, uma obrigação que, diga-se de passagem, não é da administração municipal.
No Cemitério da Vitória, em alguns pontos, não há mais sequer corredores de acesso aos mausoléus tamanha a ocupação de mortos. Aqui ainda consegue sepultar pessoas, familiares que já têm mausoléus na colina da Piedade. É também na Vitória, onde há o maior registro de violação de túmulos nos cemitérios da cidade. Ladrões investem em mausoléus portentosos para retirar obras de arte e peças de identificação em bronze. O administrador geral Marcus Clement chegou a pensar em acionar o SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para viabilizar uma maior proteção ao local. Há peças centenárias sendo destruídas ou roubadas.
Ainda na Vitória, o muro lateral ameaça cair. E este mausoléu, aos poucos, está inclinando com a erosão, segundo os funcionários, provocada por uma obra particular realizada próximo ao muro de proteção do cemitério.
Outro problema verificado pela reportagem do JBO, diz respeito à invasões em áreas próximas dos cemitérios. No Basílio, por exemplo, pôde ser localizado o muro de uma casa construído recentemente e que avançou o limite legal da construção. Depois disso, o morador resolveu viabilizar uma garagem. Resultado. Para garantir a manobra do carro, alargou a rua, mexeu em uma significativa fatia de terreno do cemitério e caixões enterrados já começam a aparecer numa área, agora, residencial.
No cemitério do Pontal, a própria administração se encarregou de escrever uma mensagem na entrada principal. "Aqui se acaba o orgulho, a riqueza, a autoridade, o preconceito, as feiúras, a ganância, a valentia, as bonitezas, a mentira, as censuras, o amor, o desamor e a impunidade". Só esqueceram de dizer que, hoje, diante do total abandono, também acabaram com o respeito aos mortos e aos seus familiares!
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