domingo, maio 20, 2012

Crítica: 'Cheias de charme' é o retrato da Cinderela contemporânea


Que classe C chegando ao paraíso que nada. O retrato mais surpreendente feito por “Cheias de charme”, novela das 19h da Globo, é o da Cinderela contemporânea. E o príncipe não é sua principal preocupação. A história de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira bebe nas fábulas clássicas e faz isso sem reservas nem disfarce. Um dos bairros fictícios da trama, inclusive, se chama Borralho. É um conto de fadas que, carregado para os dias de hoje, deixa as princesas dos Irmãos Grimm para trás e no chinelo. Nada de ser feliz para sempre ao lado de um noivo. Rosário (Leandra Leal) quer a qualquer custo ser famosa; Cida (Isabelle Drummond) tem como máxima ambição uma carreira de jornalista; e Penha (Taís Araújo) deseja apenas pagar suas contas em dia. São aspirações pós-feministas, o primeiro movimento a realmente dar uma volta no sonho clássico de princesa. Por esse aspecto também, “Cheias de charme” é uma história realista e muito interessante. Não é à toa que os papéis principais foram dados a atrizes cheias de presença. As três são talentosas, mas vale destacar a virada de Taís Araújo depois de um malsucedido momento em “Viver a vida”. A excelente Penha que ela criou ajuda a deixar para trás aquela lembrança. A novela ocupa uma faixa considerada difícil: ninguém sabe ao certo que público está na frente da TV às 19h. Sabe-se que ela já ganhou a simpatia das crianças. Isso porque outro acerto é a orientação estética. Tanto o mundo das empregadas quanto o das patroas parece de plástico ou de galalite. É de brinquedo, como tudo numa fábula. As mulheres, entretanto, se parecem com muitas das meninas de hoje.

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