Secretário considera racista publicidade institucional do governo da Bahia
O vídeo de uma propaganda do governo da Bahia, comandado pelo PT, vem causando polêmica sobre um suposto caso de racismo na Bahia. Na peça, que divulga o programa Saúde em Movimento, uma idosa negra comemora o fato de poder voltar a enxergar após fazer cirurgia de catarata. Ela fica feliz por finalmente conhecer os bisnetos, também negros, a quem chama, aos risos, de “feinhos”. A publicidade já deixou de ser veiculada na televisão desde o dia 6 de maio mas ainda está disponível na internet. Mesmo assim, no último dia 11, o Secretário da Reparação da Prefeitura de Salvador (Semur), Ailton Ferreira, protocolou um ofício à Secretaria Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) pedindo a revisão do texto da peça publicitária achando que a frase da idosa não é politicamente correta. Segundo nota publicada no site da secretaria municipal “o mesmo não contribui pedagogicamente para combater o racismo e ajudar a elevar a auto-estima das crianças negras” e vai de encontro ao apoio que o município dá à campanha da Unicef de combate ao racismo infantil. Nenhuma resposta oficial foi dada à Ferreira. “Uma propaganda na TV de uma mulher dizendo que seus bisnetinhos são feinhos não eleva a autoestima do negro. Acho que deveria ter uma revisão do texto, dizendo algo mais agradável. 'Meus netinhos são lindos, bonitinhos.' Os pequenos negros já crescem se sentindo feios, não queridos, todo mundo dizendo que seu cabelo é feio, seu nariz é grande. Uma propaganda do governo da Bahia não pode chamar uma criança negra de feia, destrói todo o trabalho que estamos fazendo.” - afirmou o titular da Semur.
Segundo o coordenador de propaganda da Secom, Antonio Assis, nem a pasta nem a Sesab foram notificadas a respeito do conteúdo do vídeo. Ele afirma que houve apenas uma conversa informal entre o gestor e o titular da Sepromi, Elias Sampaio, que afirmou não ter percebido o tom racistano vídeo. “Ninguém se manifestou, a não ser a Sepromi, nem o movimento negro. Não surgiram comentários nas redes sociais, que estamos monitorando sempre.” Tanto Assis como a coordenadora da agência que confeccionou a peça, Karina Teixeira, confirmam que o vídeo foi feito a partir de depoimentos espontâneos. “Não cabia ao governo ou à agência censurar os depoimentos. Não houve cunho racista, dá para ver do jeito que ela fala, rindo.” - afirma Karina, que acrescenta não ter recebido advertência. O coordenador de propaganda da Secom acrescenta que não havia atitude a ser tomada a respeito do caso. “Mesmo que tivéssemos reconhecido conotação racista na peça, o que não aconteceu, não havia o que fazer, pois a peça está fora do ar desde o dia 6 de maio.” Para o coordenador geral do Fórum de Entidades Negras na Bahia, Walmir França, a idosa faz apenas uma brincadeira com seus bisnetos. “Não vi nenhuma ofensa à comunidade negra na propaganda. Não é um texto decorado, é a forma dela se comunicar. Está explícito que uma gozação com os bisnetinhos dela, pois ela ri. Se ela ficasse séria, poderia dar uma ideia de rejeição.” Entretanto França reconhece que apesar de soar exagerado, essa é apenas uma forma de reação de uma parte do movimento negro. “É a vigilância contra a discriminação, é importante porque coloca a preocupação da militância em causa. Uns entendem o vídeo de uma forma, outros de outra.” Conforme o secretário Ferreira, esse tipo de brincadeira deve ser extinto para que pensamentos preconceituosos não se perpetuem.” Ninguém nasce racista ou preconceituoso, aprende isso em família, na igreja, na escola, na sociedade. Não é necessariamente uma ofensa.. Se fosse uma avó branca tenho minhas dúvidas que ela diria de seus netos não-negros 'feinhos, feinhos'. A gente brinca disso com quem acha que pode.” - conclui. Veja o vídeo polêmico:
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