quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Menor que ficou preso a poste diz ter sido agredido por 30

“É ele? É ele?”, gritava em tom raivoso um grupo que bebia em um bar ao lado da 9ª DP (Catete) na noite desta quarta-feira. Naquele instante, deixava a delegacia o menor X., 16 anos a serem completados em abril, que prestou depoimento sobre as agressões sofridas na madrugada do último sábado, quando chegou a ser preso pelo pescoço a um poste no Flamengo, na Zona Sul do Rio. À delegada Monique Vidal, o adolescente contou ter sido perseguido por um grupo de cerca de 30 homens em motocicletas que faziam musculação — um deles portava uma “nove nariguda”, maneira que ele descreve uma pistola 9 milímetros. Além de levar joelhadas e pancadas com os capacetes, X. perdeu um pedaço da orelha durante a sessão de espancamento. Segundo Monique Vidal, o menor não reconheceu a foto de nenhum dos 14 detidos na segunda-feira, acusados de tentar agredir dois moradores de rua no Aterro do Flamengo. X., no entanto, disse se lembrar do rosto dos integrantes do grupo que o atacou, formado por frequentadores de uma academia ao ar livre localizada no início da Enseada de Botafogo — a “academia dos pitbulls”, na palavras dele. A delegada irá conduzir dois inquéritos paralelos: um sobre o incidente de segunda, outro sobre a agressão de sábado. Na madrugada em que foi espancado, X. seguia com três colegas negros, por volta de 2h30m, para tomar um banho de mar na Praia de Copacabana. Quando o grupo aproximou-se, dois dos adolescentes correram. O terceiro, que também chegou a apanhar, fugiu minutos depois. “Você vai pagar pelos outros”, disseram os agressores, todos brancos e apenas um moreno (conta o menor que este último, num dado momento, pediu desculpas pela brutalidade coletiva). X. se apresentou no próprio sábado, assim que deixou o Hospital Municipal Souza Aguiar, a um abrigo da Prefeitura do Rio. Lá, permaneceu anônimo até a manhã desta quarta-feira, quando uma diretora retornou de férias e o reconheceu das fotos sobre o caso que circularam pela internet. “Sou eu mesmo”, respondeu, meio acanhado e logo dando início a um choro compulsivo. Ele foi, então, orientado a contar sua história na delegacia, onde chegou acompanhado de funcionários da Secretaria de Desenvolvimento Social.

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