Eduardo Cunha decidiu deflagrar o impeachment depois de também detectar sinais de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, poderia pedir ainda nesta semana ao STF (Supremo Tribunal Federal) o afastamento dele da presidência da Câmara dos Deputados. Cunha acha que agora Janot fica de mãos atadas. Qualquer movimento do procurador-geral poderia voltar a ser classificado pelo presidente da Câmara como iniciativa pró-governo, para livrar Dilma Rousseff do processo de impeachment. Cunha se considerou ludibriado pelo governo. Ele acha que o ministro Jaques Wagner, da Casa Civil, sempre soube que os parlamentares do PT votariam pela abertura do processo de cassação dele. Mas fingia tentar convencê-los apenas para ganhar tempo. Um dos ministros mais próximos de Dilma confirma à coluna que a suspeita de Cunha de que foi "enrolado" tem base na realidade. "O governo precisava empurrar e evitar que ele abrisse o impeachment antes da quarta-feira [dia 2], para ter tempo de aprovar a mudança na meta fiscal, afirma. Apesar de divergências internas no governo, "a Dilma nunca quis negociar com ele", afirma o mesmo ministro. Um aliado de Cunha admite que o presidente da Câmara, nesse sentido, "vacilou". "Ele queria propor a abertura do impeachment na terça, mas decidiu esperar mais um dia na esperança de que Jaques Wagner virasse os votos do PT" na Comissão de Ética que vai julgá-lo. Num segundo momento, já desconfiado de que Wagner estava só ganhando tempo, Cunha refez o calendário. Decidiu revelar a decisão de dar seguimento ao impeachment com exclusividade a uma revista semanal e fazer o anúncio oficial na próxima segunda (7). A entrevista dos deputados do PT anunciando que votariam contra ele, no entanto, precipitou o anúncio de andamento do processo contra Dilma. Eduardo Cunha acredita que, num eventual governo de Michel Temer, poderá, com as bênçãos dele, refazer acordos na Câmara e escapar da cassação. Dois raciocínios levaram o governo a aceitar, como queria o PT, o enfrentamento com Cunha: a convicção de que o presidente da Câmara voltaria a ameaçar Dilma no futuro e a certeza de que a crise econômica vai se agravar em 2016. "Agora há chance de escapar do impeachment. Com a crise que se prevê no próximo ano, evitar a saída da presidente seria missão quase impossível", diz um senador da sigla. O governo convocou uma tropa de grandes juristas para uma reunião em Brasília na segunda (7). Vão discutir respostas jurídicas ao pedido de impeachment de Dilma. Há no Senado enorme tensão, até na oposição, com a possibilidade de o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), ser tragado de vez pela Operação Lava Jato. O STF já abriu inquérito para investigá-lo. Para piorar o clima, há rumores em Brasília de que a força-tarefa da Lava Jato prepara ação de grande impacto para antes do Natal. (Mônica Bergamo)
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