domingo, dezembro 13, 2015

Escândalos na política transformam Brasil no teatro do absurdo

Dramaturgos, cineastas, escritores e roteiristas têm muito em que se inspirar nos políticos brasileiros. Desde o início do ano, as nobres excelências, seja no Congresso, no Palácio do Planalto, nos tribunais e até mesmo nas prisões, mostram que não há ficção que supere a vida. Só a realidade brasileira conseguiu produzir, em um único roteiro, atos que beiram o absurdo, o inacreditável, o impossível. A peça da realidade traz em cena a presidente da República, Dilma Rousseff, em meio a um processo de impeachment e na mira dos principais tribunais do país. Já o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), envolvido na Operação Lava-Jato – o maior escândalo de corrupção do país, que investiga desvios de recursos na Petrobras –, tenta a todo custo evitar a cassação. E a todo custo inclui manobras, alianças e todo o seu conhecimento sobre as regras que regem o Legislativo. Enquanto isso, parlamentares se engalfinham no plenário e o vice-presidente Michel Temer (PMDB) escreve uma carta ressentida à chefe da Nação. O então líder de governo no Senado Delcídio do Amaral (PT-MS) é preso oferecendo fuga e propina a um condenado na Operação Lava-Jato. Nesse roteiro da vida real, o ex-ministro do governo Luiz Inácio Lula da Silva José Dirceu, preso no processo do mensalão, volta para a cadeia suspeito de participar da Lava-Jato. Também estão na prisão os empresários mais poderosos do país, donos de empreiteiras que pagaram propina e fraudaram licitações na Petrobras e em outras estatais brasileiras. E, para não dizer que faltou humor no espetáculo, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, enfurecida com comentário sexista do senador José Serra (PSDB), joga vinho na cara do parlamentar. Na plateia, brasileiros assistem atônitos ao tragicômico espetáculo protagonizado pelos representantes eleitos pelo povo, que constroem narrativa permeada de elementos do chamado teatro do absurdo. O movimento, surgido na Europa na década de 1950, levava para o palco personagens estranhos e bizarros, cenas que pareciam sem sentido e sentimentos como a incerteza e a falta de esperança. Mas aquilo que ocorreu na Europa era teatro. Ao Brasil, resta o absurdo...

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