sexta-feira, agosto 09, 2019

Aos 31, Neto Berola se vê maduro e explora atalhos do campo

Um jogador mais maduro, caseiro e religioso. É assim que Sosthenes José Santos Salles, o Neto Berola, se define. Aos 31 anos, o baiano de Itabuna é uma das peças de Felipe Conceição para recolocar o América no caminho rumo à Série A do Campeonato Brasileiro. Descoberto pelo Vitória, Berola foi uma das contratações do Atlético, de Vanderlei Luxemburgo, em 2010. Pelo alvinegro, fez 150 partidas e anotou 27 gols. Em 2013, fez parte da equipe que levantou o inédito caneco da Copa Libertadores e realizou o sonho de atuar ao lado de Ronaldinho Gaúcho, seu ídolo e com quem atuava apenas no videogame, como ele mesmo brinca. Nesta entrevista ao site Hoje em Dia, o atacante conta como surgiu para o mundo da bola, comenta o rótulo de “atleta-lesão”, fala do novo desafio em BH, desta vez no América, relembra as passagens pelo Atlético, explica as origens do nome e do apelido e analisa os treinadores da chamada “nova geração”.


Você não passou por categorias de base. Como chegou ao futebol profissional?
Eu não tive formação de base. Algumas vezes fiz testes, fui ao Vitória, aos clubes do Rio de Janeiro, mas sempre ficava um mês e depois ia embora. Aí apareceu a oportunidade de jogar um campeonato amador lá na Bahia que se chama Intermunicipal, pelo Guararema. Joguei uns 6 jogos, fiz quatro gols. Aí o time da cidade vizinha, o Itabuna, que jogava o Campeonato Baiano da Primeira Divisão, teve o interesse em mim e foi onde eu me profissionalizei. Fiquei lá de 2007 a 2009 e fui para o Vitória, onde eu joguei o Campeonato Baiano, fui vice-artilheiro e, em 2010, vim para o Atlético, com o Luxemburgo.

Por que o nome Sosthenes? A ideia foi de quem?
Sosthenes, é difícil o nome, né? É o nome do meu avô. Chegou na hora e minha mãe quis colocar esse nome aí, mas acho que Neto ficou mais fácil. Ficava com vergonha na hora que a professora falava, naquela chamada, no primeiro dia de aula, mas depois acostumava.

E o ‘Berola’?
O Berola veio quando eu jogava no Itabuna, no profissional. Meu pai jogou lá uma época e o nome dele era Zé Berola, nem sei o porquê. Aí eles colocaram Neto Berola e está até hoje.

Você chegou ao Atlético em 2010. Foi a primeira passagem. O que lembra daquele ano?
Naquele ano a expectativa era grande no Atlético, porque o time tinha grandes jogadores, o Vanderlei (Luxemburgo), mas o nosso time não encaixava de jeito nenhum, ficamos várias rodadas brigando na zona de rebaixamento. Então o Vanderlei foi mandado embora, se não me engano no jogo contra o Fluminense, e depois veio o Dorival. No começo eu tive poucas oportunidades, mas depois eu comecei a jogar um pouco com o Dorival e no finalzinho a gente conseguiu escapar do rebaixamento.

E essa experiência de defender o América? Como está sendo?
Logo que eu cheguei aqui eu fui bem recebido por todos. Era onde eu queria jogar este ano, sabe? Graças a Deus deu tudo certo. A gente começou muito bem o ano, mas saímos na semifinal (Campeonato Mineiro) contra o Cruzeiro e na Série B do Campeonato Brasileiro não estava dando liga. A gente tem um time bom, mas as coisas não davam certo. Agora, elas estão encaixando, né? Conseguimos engrenar algumas vitórias, fazer alguns pontos fora de casa, e a primeira vitória dentro de casa, que não estava vindo. Eu acho que a gente tem tudo para seguir firme e conseguir nossos objetivos.

Consegue explicar o rendimento ruim do time na Série B?
Não tem como entender. A situação que a gente estava era muito difícil, com o time bom que nós temos, estar lá na zona de rebaixamento, sem conseguir vencer é muito difícil. O Felipe deu a dinâmica dele e eu acho que está dando certo. O resultado vem mostrando que está dando tudo certinho, espero que a gente consiga continuar nessa batida.

Como vê os treinadores da ‘nova geração’?
Então, esses treinadores estão chegando aí e mostrando que são uns caras estudados, a maioria jogou bola, o Felipe (Conceição) jogou bola, então sabe como que é. Eu acho importante o treinador saber entender o jogador. Às vezes o treinador não consegue entender o atleta como ser humano, o que gosta ou não gosta, e isso atrapalha um pouco. O Felipe entende bem ali e está fazendo um belo trabalho. Espero que ele tenha continuidade e, se ele for para a Europa, espero que ele me leve (risos).

E jogar com Ronaldinho Gaúcho, no Atlético? Foi a realização de um sonho?
Então, eu jogava com ele no videogame, ele era o ídolo. O Ronaldo é o ídolo de todo mundo. Na primeira oportunidade, quando saiu que ele vinha para o Atlético, a gente ficou sem acreditar. Na hora tomamos aquele susto. Eu estava lá no DM (dia do helicóptero). Tinham as conversas, mas a gente não sabia que ele ia chegar naquela hora. Ele chegou e já foi treinar. Aos poucos você vai conhecendo a pessoa e vê a humildade, sabe? Então foi uma das maiores vitórias da minha carreira ter jogado com ele. Fizemos muita amizade, às vezes ele ia na minha casa, eu ia na casa dele, então foi uma lição para a vida. A vontade de todo jogador é um dia jogar com um cara como ele.

O que mudou do Berola, que chegou ao Atlético em 2010, para o jogador do América, em 2019?
Naquela época eu era meio... fazia coisa errada escondido, né? Mas, Graças a Deus, hoje eu estou mais calmo, mais tranquilo. Quando eu estava no Coritiba eu entreguei a minha vida a Jesus. Hoje eu sou um cara cristão, casado, tenho filho. Dificilmente você vai me ver na rua. Não gosto de sair de casa e acho que eu mudei muito. Até na carreira você aprende algumas coisas que eu fazia antigamente e não faço hoje mais e, automaticamente, ajuda muito. Dentro de campo, a maturidade, os atalhos do campo, até para jogar você se sente mais inteligente.

Você ganhou rótulo de jogador que não atua os 90 minutos, pelas cãibras e lesões. Discorda dessa imagem?
Então, as únicas lesões que eu tive foram mais por pancada, lesão muscular eu fui ter uma só agora, que eu tive uma grau 2 e fiquei 15 dias fora, mas cãibra eu tive muito e isso me prejudicou na minha carreira, pois acabei me tornando uma substituição certa. Então, por isso, muitas vezes não fui titular no Atlético e tenho melhorado bastante nisso. Como eu disse, antigamente eu fazia algumas coisas, mas hoje eu tenho me tratado mais, me cuidado. Antes eu não me hidratava, hoje eu me hidrato, fisiologia me ajuda, nutricionista, tenho melhorado bastante em relação a isso.

O que a torcida do América pode esperar desse elenco para o restante do ano?
A torcida pode esperar aquilo que aconteceu no jogo de terça-feira (Londrina), as coisas positivas. Nós vamos lutar até o final, mesmo com o placar adverso, se tiver perdendo ou empatando, a gente vai buscar a vitória a todo momento e nosso objetivo é lá em cima. Hoje nós estamos numa situação delicada, mas temos certeza de que vamos sair disso e com o apoio da torcida vamos alcançar nosso objetivo, que é o acesso.

É hora da arrancada do alviverde na temporada?
Agora, depois dessa vitória, eu tenho certeza que dificilmente não vamos conseguir os resultados dentro de casa. Daqui para frente as coisas só tendem a melhorar.

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