sábado, agosto 08, 2020

Brasil soma 100 mil mortes de Covid, informa consórcio às 13hs

Menos de cinco meses após o primeiro óbito pelo novo coronavírus no Brasil, o país chegou à triste marca de 100 mil mortes pela Covid-19 na tarde deste sábado (8), indica boletim extraordinário do consórcio de veículos de imprensa formado por O Globo, Extra, G1, Folha de S.Paulo, Uol e O Estado de S. Paulo. Os números são consolidados a partir das secretarias estaduais de Saúde. O total de vítimas fatais é de 100.240. A soma de infectados é de 2.988.796. A iniciativa dos veículos da mídia foi criada a partir de inconsistências nos dados apresentados pelo Ministério da Saúde na gestão do interino Eduardo Pazuello. Se o País fizesse 1 minuto de silêncio em homenagem a cada vítima, teria de passar 70 dias calado. O número impressiona. É o equivalente a cair quase cinco aviões A320 lotados todos os dias, contando do primeiro óbito, em março, até hoje. Ou à capacidade de público de um estádio e meio do Morumbi, o maior de São Paulo. Com novos casos se alastrando pelo interior, duas a cada três cidades brasileiras já perderam alguém para a covid-19. Médicos e cientistas de diferentes regiões do País afirmam ao Estadão que, para conter o avanço da doença, é preciso que as ações tenham como base um tripé: identificação e monitoramento precoce dos casos; etiqueta respiratória e cuidados pessoais; isolamento social, ou até lockdown, principalmente nos locais com alta transmissão. Enquanto não houver vacina ou remédio com eficácia cientificamente comprovada, os pesquisadores alertam que a única saída é tentar reduzir a propagação da covid-19.
Coautor do livro Viroses Emergentes no Brasil, o médico infectologista da Unicamp Rodrigo Angerami demonstra que, em tese, a lógica é simples. “Diminuindo a taxa de transmissão, haverá menor número de casos, menor número de casos potencialmente graves e, consequentemente, menor número absoluto de novos óbitos.” Em todo o mundo, apenas Brasil e Estados Unidos têm mortes na casa dos seis dígitos. O terceiro país com maior volume de óbitos na pandemia, o México, tem 51 mil mortes, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins (EUA). Já são mais de 722 mil vítimas da Covid-19 em todo o planeta. O primeiro óbito do país foi registrado em 12 de março, na cidade de São Paulo, também a primeira a notificar um caso de Covid-19 no Brasil, em 26 de fevereiro. Foram quase dois meses até que número de mortes chegasse a 10 mil, em 9 de maio; com o avanço exponencial da doença, a estatística dobrou em 12 dias, quando foi ultrapassada a marca de 20 mil vítimas fatais. Dez dias depois, em 2 de junho, o Brasil já somava 30 mil óbitos. No dia 11 daquele mês, já eram 40 mil vidas perdidas. Em mais um intervalo de nove dias, as perdas somavam 50 mil. Em menos de dois meses, o volume já assombroso de mortes notificadas oficialmente dobrou em velocidade ainda mais avassaladora. Pouco a pouco, brasileiros acompanharam pelas manchetes as marcas de 60 mil (1º de julho), 70 mil (10 de julho), 80 mil (19 de julho), 90 mil (29 de julho) e, agora, 100 mil vítimas. Na última quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro comentou em uma transmissão ao vivo na internet, ao lado do ministro interino Pazuello, a eventualidade das 100 mil mortes. — Mas vamos tocar a vida, tocar a vida e buscar uma maneira de se safar desse problema — afirmou o presidente. No início da crise, no entanto, Bolsonaro procurou atenuar a gravidade da Covid-19. Em março, ele chegou a declarar que o número de vitimas fatais do novo coronavírus não superaria o total de mortes pela gripe H1N1 no Brasil em 2019, que foi de 796. Posteriormente, quando indagado sobre o aumento exponencial no número de contágios e falecimentos em decorrencia do vírus, o presidente recorrentemente desconversou. Quando o pais ainda somava 5.000 mortes e ultrapassou a China, epicentro inicial da Covid-19, no número de perdas, Bolsonaro respondeu à pergunta de uma repórter sobre o marco: — E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagre — comentou, em referência a um de seus sobrenomes. Em junho, quando o coronavírus já havia subtraído 30 mil vidas no Brasil, o presidente mais uma vez procurou isentar o governo sobre o avanço das mortes: — A gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo. Antes de a doença chegar ao país, contudo, o presidente chegou a afirmar que repatriar brasileiros que estavam quarentenados em Wuhan, onde o novo coronavírus foi notificado pela primeira vez, poderia trazer risco de morte à população brasileira: — Seria uma irresponsabilidade (repatriar os brasileiros antes da sanção de uma lei de quarentena, posteriormente aprovada pelo Congresso). Se nós temos algumas dezenas de vidas (em Wuhan), aqui nós temos 210 milhões de brasileiros. O primeiro passo, contudo, deve ser implementar um plano nacional de enfrentamento para corrigir o que, na visão dos cientistas, seria a principal falha do Brasil até aqui: o vácuo de liderança no combate ao coronavírus. Para os especialistas, a falta de sintonia entre as ações do governo Jair Bolsonaro e as administrações municipais e estaduais é a origem de boa parte do mau resultado do País. “Começamos bem, iniciamos a quarentena no momento certo, antes de termos muitos casos, mas tivemos um presidente da República jogando contra os Estados”, diz o professor de epidemiologia Paulo Lotufo, da Faculdade de Medicina da USP. “Em determinado momento, os governadores se sentiram pressionados e iniciaram a reabertura. Se tivéssemos feito um lockdown sério, mesmo que fosse por um período curto, de 10 ou 15 dias, teríamos tido uma redução expressiva de casos e entraríamos em outro patamar da pandemia.” Coordenador do núcleo de epidemiologia e vigilância em saúde da Fiocruz Brasília, o médico sanitarista Claudio Maierovitch avalia que a falta de coordenação do governo federal também acabou confundindo a população. “Cinco meses depois, continuamos sem plano e sem liderança. Se tivéssemos isso, poderíamos ter bem definidas quais medidas devem ser recomendadas em cada estágio da pandemia, o que é importante se pensarmos que há situações diferentes de transmissão de acordo com a região do País.”

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