A vacina contra a Covid-19 Sputnik V, desenvolvida pelo laboratório russo Nikolay Gamaleya, atingiu uma eficácia de 91,6% na prevenção da Covid-19 nos testes de fase 3, indica um artigo revisado por pares publicado na prestigiada revista científica Lancet nesta terça-feira. O resultado confirma os resultados preliminares divulgados no fim do ano passado e representam mais uma esperança na superação da pandemia do novo coronavírus. A vacina é produzida desde o fim de janeiro no Brasil pela farmacêutica União Química, representante do Gamaleya e do Fundo de Investimentos Direto Russo (RDIF) no país, em escala inicial. Um pedido de uso emergencial protocolado pela companhia no dia 16 de janeiro junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi negado pela reguladora por não atender pré-requisitos. A regulamentação brasileira prevê que, para liberar o uso extraordinário, é necessário que ensaios clínicos tenham sido conduzidos no Brasil, o que não ocorreu. A Sputnik V, baseada na tecnologia de vetor viral a partir de dois adenovírus — patógenos responsáveis por resfriados comuns e inofensivos para os vacinados —, já é adotada por países vizinhos, como Argentina, Bolívia e Paraguai. A publicação na Lancet com revisão de pares também ajuda a superar o ceticismo levantado em torno do imunizante após a decisão da Rússia de registrá-lo antes mesmo do início da última fase dos estudos clínicos, etapa na qual a eficácia e a segurança são atestadas. Os resultados são baseados em dados de 19.866 voluntários, dos quais 25% pertencentes ao grupo placebo, segundo o artigo da Lancet. Nos testes conduzidos em Moscou, 16 casos sintomáticos foram registrados entre os que receberam a vacina e 62% entre os que receberam doses de placebo. Os pesquisadores concluíram que, através de um regime de duas doses administradas com um intervalo de três semanas, a vacina oferece uma eficácia de 91,6%. Na primeira dose, é aplicado o composto com o adenovírus de tipo 26, também chamado de Ad26. Na segunda, é a vez do adenovírus de tipo 5. O Gamaleya sustenta que a combinação dos dois vetores garante uma resposta imunológica mais robusta do que a de outras vacinas baseadas na mesma tecnologia, como a da AstraZeneca, que utiliza um adenovírus de chimpanzé e atingiu uma taxa de eficácia de 70%. O laboratório russo e a farmacêutica anglo-sueca anunciaram em dezembro que farão testes para combinar as duas fórmulas. Em coletiva de imprensa nesta terça-feira, o diretor do Instituto Gamaleya, Alexander Ginsburg, afirmou que a proteção oferecida pela Sputnik V deve durar "não por meses ou um ano, mas por dois anos ou mais". A duração da imunidade estimulada pelas vacinas é um dos principais pontos de interrogação na campanha global contra a Covid-19, uma vez que o prazo será estipulado pelo aprofundamento dos estudos de imunizantes nos próximos anos. Na mesma coletiva, Inna Dolzhikova, responsável pela divisão do Gamaleya que projetou a Sputnik V, reforçou que a vacina pode ser mantida em refrigeradores comuns entre 2 e 8ºC. O detalhe favorece a logística de distribuição do fármaco, uma vez que o armazenamento de imunizantes se revelou um desafio logístico no caso de fórmulas como a da Pfizer/BioNTech, que precisa permanecer a -75ºC em freezers especiais. (G1)
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