segunda-feira, maio 17, 2021

Itabunense faz "vakinha" para cursar Mestrado em Lisboa

Foi numa terça-feira de abril que Jhonatan recebeu a notícia de que passou na seleção do Mestrado em História da Universidade de Lisboa, em Portugal. Quando viu o resultado no e-mail, estava na empresa de telemarketing onde trabalha, em Itabuna. “Comecei a chorar como um bebê. A primeira coisa que fiz foi ligar para minha mãe, e choramos juntos ao telefone. É um sonho que compartilhamos”, relembra o estudante, que conversou com o site Pimenta nesta segunda-feira (17). Nascido em Itabuna, o jovem de 26 anos cresceu no bairro Califórnia, onde vive com a mãe, Elenita da Silva, hoje separada do pai dele, José Queirós. O estudante conta que seus pais sempre lutaram para garantir o básico em casa e lhe deram todo o apoio ao longo da sua trajetória acadêmica, desde os primeiros anos de escola até a graduação em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), concluída no ano passado. “Tenho origem na classe trabalhadora, sou de família humilde, pai desempregado e mãe que trabalha em serviços gerais”, resumiu o historiador. Durante a graduação, ele vendeu brigadeiro e doce de leite para levantar a grana das xérox do material de estudo e o transporte entre Itabuna e o Campus Soane Nazaré. Depois, as bolsas de um estágio administrativo e da iniciação científica se sucederam no custeio das despesas cotidianas. Com as economias, bancou um cursinho de inglês. Jhonatan da Silva Queirós é gay e dedicou o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) ao projeto Escola sem homofobia, com ênfase nas formas de organização social e política de defesa do direito à educação para a comunidade LGBT. Ele lembra que sofreu homofobia quando era criança, inclusive no ambiente escolar. “Assim, na escola eu não era assumido, mas as pessoas comentavam sobre meu jeito de andar, de falar e, até mesmo, de enfrentar meus colegas maiores e mais velhos. Era tipicamente tachado de viadinho, boiola e outras ofensas”. Apesar da hostilidade comum no ambiente muitas vezes cruel das escolas, no caso dele a violência verbal não descambou para a física. Nesta segunda-feira (17), o mundo civilizado comemora os 31 anos do dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade – ou o homossexualismo, como os afetos entre pessoas do mesmo sexo eram tratados até então – da sua lista de enfermidades, a Classificação Internacional de Doenças (CID). A decisão da OMS foi uma mudança de paradigma tardia para a Medicina, mas, segundo Jhonantan, deve ser celebrada como marco histórico. “[A comemoração da data] tem o intuito de conscientizar as pessoas dentro e fora dessa comunidade sobre a diversidade da sexualidade e do combate à discriminação contra a comunidade LGBT. Durante o período de vigência dessa interpretação preconceituosa, muita gente teve que esconder quem era, sob o risco de prisão, demissão do emprego, dentre outras coisas que nos impediam de ter acesso a coisas básicas”, explica. De certa perspectiva, Jhonantan pode ser visto como um ator social do seu próprio campo de estudo. Por isso, enquanto se move, movimenta consigo as relações afetivas e políticas sobre as quais se debruça – a história que investiga também se passa num espelho. Agora, ele quer aprofundar no mestrado a pesquisa iniciada sob a orientação da professora Graciela Rodrigues Gonçalves, do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da Uesc. No entanto, a viagem, a estadia na Europa e as mensalidades da pós-graduação implicam em despesas em euros. Dessa vez, a conta não fecha com a venda de brigadeiro em real. Por isso, o estudante criou uma campanha, no site Vakinha, para o financiamento coletivo do sonho de estudar na primeira universidade portuguesa, cuja origem remete ao século 13. Apesar de ser pública, a Universidade de Lisboa cobra mensalidades que, somadas, chegam a 1.200 euros por ano, algo em torno de R$ 7.660,00. Pelos cálculos do itabunense, com R$ 50.000,00, valor que pretende arrecadar, é possível se manter durante 12 meses na metrópole. Seu parâmetro é o salário mínimo português (740 euros). O estudante procurou o PIMENTA porque, segundo ele, a campanha perdeu o impulso do lançamento, feito no último dia 25, nas redes sociais. Até as 19h50min desta segunda-feira (17), 37 colaboradores doaram o total de R$ 3.024,00. Para fazer doações, clique aqui.

Nenhum comentário: