terça-feira, junho 16, 2009
Dona Anália, 103 anos, está há 5 dias na fila à espera de vaga na UTI
“Eu quero sair daqui, meu filho. Sou velha, mas ainda quero viver”. As palavras de angústia são da idosa Anália Rodrigues de Jesus, 103 anos, que está há cinco dias em uma maca no Centro de Saúde Dr. Rodrigo Argolo, em Tancredo Neves.
A ex-cozinheira de voz mansa, natural de Itapetinga (a 580 km de Salvador), aguarda vaga em um leito de unidade de terapia intensiva (UTI). Depois de tomar o café da manhã com biscoitos e leite, na quinta-feira passada, dona Anália sentou-se no sofá e começou a sua atividade diária: a costura.
Porém uma forte dor na região abdominal e dificuldades respiratórias impediram que ela continuasse a costurar uma colcha com retalhos coloridos. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) deu os primeiros socorros à paciente ainda dentro da residência de sua filha, Valdiva Souza Rodrigues, 68 anos.
“Ela estava se queixando muito de dor para respirar há vários dias. Quando a Samu chegou, ela ainda ficou um tempo consciente, mas depois acabou desmaiando”, relata Valdiva, que aprendeu as técnicas culinárias com a mãe.
Elas vivem juntas há oito anos em uma pequena casa da Travessa Canuto, em Mata Escura. A equipe médica encaminhou a paciente para o centro de saúde, onde foi acomodada em uma maca de 40 centímetros de largura dentro da sala de reanimação.
A chefe administrativa do posto, Adriana Barreto, explica que o local deveria servir apenas para atendimento de urgência. “Temos que acomodar os pacientes aqui por que não há vaga nos hospitais. É preferível que ela fique aqui recebendo assistência do que estar em casa correndo risco de morte. O problema é que, enquanto acomodamos alguém, estamos deixando de socorrer outros”, relata.
Dona Anália trabalhou metade de sua vida nas cozinhas de fazendas da região de Itapetinga. “Meu pai morreu quando eu era muito pequena. Ela criou os cinco filhos do trabalho que fazia nas casas. Depois que todos casaram, ela viveu dez anos em São Paulo e depois ficou uns tempos com outros filhos em Vitória da Conquista”, conta Valdiva.
Correio da Bahia
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