TERESÓPOLIS/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Equipes de resgate enfrentam um cenário de destruição, agravado pela chuva que voltou a cair nesta sexta-feira, para tentar socorrer vítimas ilhadas há três dias pela tragédia que deixou ao menos 544 mortos na região serrana do Rio de Janeiro.
Em Nova Friburgo, a cidade mais afetada pelo temporal que caiu na noite de terça-feira, o número de mortos subiu para 247. Teresópolis vem a seguir, com 235 mortes, enquanto Petrópolis teve 43 e Sumidouro, 19, segundo informações de autoridades locais e da Defesa Civil.
Esses números devem aumentar, estimam autoridades, uma vez que ainda há dificuldade no resgate em certas áreas. Mais de 13.500 pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas.
"A chuva não parou de madrugada e agora também chove e para, o que dificulta o trabalho de resgate. Ainda temos muitos locais inacessíveis e muita gente soterrada", disse por telefone o tenente Rubens Halfeld Plácido, do Corpo de Bombeiros em Nova Friburgo.
Em locais atingidos onde só é possível chegar após longas caminhadas, os bombeiros necessitam da ajuda de máquinas para remover a enorme quantidade de lama e pedras que soterrou casas. Não se pode precisar o número de pessoas que estariam debaixo da terra, mas centenas de casas foram destruídas, de acordo com autoridades e moradores que seguem procurando desaparecidos.
Na localidade de Campo Grande, onde a prefeitura de Teresópolis acredita que ao menos 150 casas foram soterradas pelo deslizamento de pedras e lama, as equipes ainda encontram dificuldades para localizar as vítimas. As casas foram cobertas por ao menos três metros de lama, segundo autoridades municipais.
Diante da enorme quantidade de rochas e destroços das casas, é impossível levar o maquinário necessário ao local para remover a lama e abrir caminho para os bombeiros procurar os corpos desaparecidos.
No meio de destroços de casas, carros revirados e montanhas de lama, três pessoas de uma mesma família usavam pás e enxadas para procurar dois familiares que estão desaparecidos.
"A chance de encontrar sobreviventes é zero", disse Leandro Vabo, chefe da equipe médica que atua no local. Segundo ele, o número de desaparecidos é muito grande e o número de mortos vai aumentar.
Por conta das dificuldades de acesso, os bombeiros vão utilizar técnicas de rapel em helicópteros para levar ajuda a pessoas que ficaram isoladas pela tragédia.
"Os helicópteros, às vezes por serem de grande porte não conseguem aterrissar em um local seguro", disse à Reuters por telefone o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão. "Por enquanto, em alguns locais, vamos usar rapel para socorrer as pessoas e levar mantimentos e água", acrescentou Pezão, que está na região serrana.
CORPOS ABANDONADOS
O cenário de tragédia se espalhou por diferentes pontos da cidade. No distrito rural de Santa Rita, em Teresópolis, que ficou isolado após a queda de uma ponte, moradores relataram ter visto dezenas de mortos que ainda não foram resgatados.
"Você anda por Santa Rita e vê corpos agarrados nas cercas de arame farpado. Tem corpo de crianças na beira da estrada, já está até cheirando mal", contou por telefone à Reuters o pastor evangélico Carlos Cardoso, que está ajudando a retirar desabrigados e feridos da localidade com cerca de 400 habitantes.
No centro da cidade, o policiamento teve que ser reforçado após relato de saques, e várias lojas fecharam as portas com medo de arrastão. Além disso, segundo relatos de moradores, o custo de alimentos e de água subiu em decorrência da escassez.
Cerca de 17 mil pessoas na região serrana também estão sem fornecimento de energia, e ainda há instabilidade nas linhas telefônicas.
O governador Sérgio Cabral, que visitou a cidade nesta sexta, voltou a criticar prefeitos que ao longo dos últimos anos permitiram a ocupação de encostas e áreas de risco
"Muito mais de metade dessas vidas poderia ser economizada se não houvesse ocupação irregular. O número (de mortos) só é esse por conta da irresponsabilidade da ocupação do solo urbano", disse Cabral a jornalistas. "Mas a hora agora é de salvar vidas e não de encontrar culpados."
Na quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff sobrevoou a região afetada e visitou Nova Friburgo. Ela classificou o momento de "muito dramático".
O governo federal anunciou nesta sexta a liberação imediata de 100 milhões de reais para ajudar as cidades atingidas pelas chuvas no Estado do Rio. O dinheiro faz parte de um total de 780 milhões de reais liberados por Dilma, por meio de Medida Provisória, para as cidades e Estados prejudicados pelas chuvas.
De acordo com o governo fluminense, o Estado receberá 35 milhões de reais para o pagamento de aluguel social a 5 mil famílias de desabrigados em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, choveu entre terça e quarta-feira na região serrana do Rio o equivalente ao previsto para um mês inteiro. Para o fim de semana, a previsão do tempo indicava probabilidade de 90 por cento de chuva na região.
(Reportagem adicional de Sérgio Queiroz, da Reuters TV, em Teresópolis, e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário