quinta-feira, novembro 17, 2011

Gaúchas chefiam 39% das famílias


A voz de comando nos lares gaúchos vem mudando de tom rapidamente. Em uma década, a proporção de domicílios sob a chefia de mulheres no Estado deixou de ser raridade e cresceu 58% – somando quatro em cada 10 residências. Porto Alegre, linha de frente da marcha feminina, tornou-se a primeira capital do país a praticamente igualar os índices de ambos os sexos como líderes domésticos.

Conforme dados do Censo 2010 divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), perfis como o da professora universitária e moradora da Capital Márcia Del Corona, 45 anos, marcam a revolução feminina nos lares gaúchos. Em dois casamentos, ela assumiu o papel de provedora, além de dar a última palavra em decisões como a compra de um novo imóvel.

– Sempre tomei decisões, arquei com despesas, organizei a casa, escolhi onde morar – exemplifica.

Em 2000, apenas 25% das casas visitadas pelos pesquisadores se encontravam sob responsabilidade de mulheres. Elas eram apresentadas como a referência na casa, por razões que podem variar entre o custeio da maior parte das despesas familiares, a tarefa de comandar e organizar a casa ou um maior peso na tomada de decisões do dia a dia. No mais recente censo, o índice pulou para 39% – um ponto percentual acima da média nacional.

– É inegável que a presença no mercado de trabalho vem sendo fundamental para isso – avalia o supervisor de informações do IBGE no Estado, Ademir Koucher.

Além da contrapartida financeira, o fato de muitas mulheres viverem sozinhas ou apenas com os filhos – sem a presença do homem – contribui para multiplicar a estatística. Márcia, assim como 14,4% das famílias gaúchas, separou-se e vive com a filha Luísa, seis anos. A proporção de homens vivendo apenas com filhos, em contrapartida, é de apenas 2,2%.

O Estado ostenta o segundo maior índice de pessoas que vivem sozinhas (15,2%), atrás do Rio. Nesse caso, quando o único morador é mulher, cabe a ela a chefia da residência. O fenômeno da feminilização dos domicílios é liderado, entre as capitais brasileiras, por Porto Alegre. A cidade, muitas vezes citada como berço do machismo, apresenta índices praticamente iguais para homens e mulheres no comando de domicílios.

Em 2000, havia 38% de casas sob regência de mulheres – proporção que cresceu quase um terço em 10 anos até atingir o patamar atual de igualdade. Entre as possíveis explicações para isso estão melhores oportunidades para o sexo feminino no mercado de trabalho, uma cultura menos machista e o alto índice da Capital de mulheres vivendo com filhos, mas sem marido (20%).

Um dos obstáculos a serem vencidos pelas chefes de família, é a desigualdade salarial. Em média, no Estado, um homem ganha 40% a mais do que elas.

– É importante que as mulheres não assumam tantas tarefas que acabem apagando o papel social dos homens. É preciso saber compartilhar tudo – orienta a professora com experiência em chefiar lares Márcia Del Corona.

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