Policiais civis de São Paulo são investigados sob suspeita de exigir propinas milionárias de traficantes internacionais em atividade no Brasil.
Ao menos 12 policiais do Denarc (departamento de narcóticos) e do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), considerados órgãos de elite da Polícia Civil, estão na mira.
Segundo 1.771 páginas de documentos sigilosos do Gise-SP (Grupo Especial de Investigações Sensíveis em São Paulo), da Polícia Federal, esses policiais pegaram R$ 3 milhões dos traficantes, entre dólares, reais, carros e armas.
Trata-se de um valor superior aos R$ 2,5 milhões que o megatraficante colombiano Juan Carlos Abadia diz ter pago a policiais civis paulistas antes de ser preso, em 2007.
As extorsões ocorreram entre agosto de 2010 e março deste ano, diz o inquérito.
Segundo os federais, as propinas foram exigidas para livrar quatro criminosos da prisão -um deles, João Alves de Oliveira, o Batista, tido como chefe de uma quadrilha internacional de traficantes.
Ainda segundo a investigação, traficantes eram pegos e mantidos reféns dentro das sedes do Denarc e do Deic sem que houvesse registro oficial de que estivessem ali. Acabavam liberados após o acerto, afirma a investigação.
As negociações das propinas para os policiais foram feitas, segundo a PF, pelo advogado André Luiz Bicalho Ferreira. Há conversas telefônicas gravadas com autorização da Justiça e imagens captadas pelos agentes federais.
Em 8 de novembro de 2010, os federais fotografaram a hora em que, diz o inquérito, um traficante leva R$ 500 mil de propina para o advogado Ferreira, que está com policiais ao lado do prédio do Deic, na zona norte de São Paulo. O dinheiro serviu, afirma a PF, para liberar o traficante Batista.
Em março de 2011, Batista aparece num grampo conversando com o advogado a respeito de outro traficante preso. "Pegaram ele e estão levando para o prédio lá", afirma Batista. O advogado pergunta: "Mas qual prédio?". Ele responde: "Denarc".
Em seguida, segundo a PF, Ferreira repassa a proposta dos policiais civis: "Os caras estão querendo fazer aqui o seguinte: 100 [mil] para amanhã; daqui 15 dias, 50 [mil]; mais 15 dias, 50 [mil]; mais 15 dias, 100 [mil]; mais 15 dias, 100 [mil]. [Total de] 400 [mil]".
Até agora, os policiais civis não foram presos porque isso alertaria os traficantes. A operação, que começou em junho de 2010, já prendeu 105 pessoas -entre elas os líderes da quadrilha internacional- e apreendeu 9,5 toneladas de drogas (4,3 t de cocaína).
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