Da virada do ano até sábado, a dona de casa Márcia Nazaré Barbosa, de 51 anos, tentou duas vezes retirar a água e a lama que invadiram a casa onde vive e a obrigaram a sair do imóvel em Itabirito, a 55 quilômetros de Belo Horizonte. Ao passar ontem pela casa à tarde, ela descobriu que terá de limpá-la uma terceira vez. "Faz quase uma semana que estamos fora de casa. É muito difícil ", lamentou. Itabirito foi um dos municípios atingidos pelos temporais que castigaram ontem a Região Central e a Zona da Mata. A chuva tornou ainda mais difícil o trabalho de reconstrução de cidades que já haviam sido afetadas, como Ouro Preto, Brumadinho, Cataguases e Muriaé, e dificultou a tentativa de moradores de retomar a normalidade. Em Guidoval, pequeno município na Zona da Mata, a Defesa Civil fez avaliação de estragos e estimou que serão necessários pelo menos R$ 20 milhões para reerguer a cidade (leia mais na página 18). No estado, 103 municípios estão em situação de emergência. O número de desalojados e desabrigados chegou a 12.845.
Em Itabirito, a lama atingiu até um metro de altura dentro de casas às margens do rio da cidade, que transbordou pela quinta vez desde o início do ano. A rede de esgoto recém-inaugurada também foi danificada. A força da água derrubou a proteção de ferro sobre a ponte da Rua Doutor Guilherme, no Centro. "A cidade está um caos", resumiu o empresário Paulo Henrique Serra, de 52. Em Ouro Preto, onde dois taxistas morreram soterrados na semana passado por causa de deslizamento de terra sobre parte da rodoviária, a chuva na madrugada de ontem também provocou estragos. Houve desmoronamento de 250 metros cúbicos de terra (o suficiente para encher 40 caminhões) do Morro da Forca. A Rua Doutor Pacífico Homem foi interditada e uma casa precisou ser desocupada.
O muro do prédio de três andares onde mora o aposentado Geraldo Crispim de Queiróz, de 71 anos, apresenta várias rachaduras e ameaça desabar. Um terreno vago também pode cair e atingir a rua de baixo, onde é grande o movimento de veículos. "Estamos com muito medo. Locais que nunca representaram risco estão desabando agora", disse o aposentado. A chuva também provocou queda de barreiras na Rodovia MG-129, que liga Ouro Preto ao distrito de Antônio Pereira e municípios vizinhos como Catas Altas, Santa Bárbara, Barão de Cocais. Moradores do distrito ficaram ilhados na manhã de ontem.
Na ajuda à reconstrução e retomada da vida normal, que vive em Ouro Preto conta com a ajuda de vizinhos. A dona de casa Maria Imaculada Gonçalves Rosa, de 62, liberou a varanda coberta para que outras pessoas sequem as roupas. Um grupo de jovens da cidade também se uniu e criou uma comunidade na internet pedindo doações e apoio na distribuição de roupas e alimentos. Ontem, uma sala de aula da Escola Municipal João Castilho Barbosa, no Bairro Barra, ficou lotada de cestas básicas.
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