domingo, fevereiro 05, 2012

Entre o medo e a morte

O depoimento da sobrevivente é forte: "Nunca senti prazer, nem tive intenção sexual com meu marido. Fazia sexo por medo, coagida". Ainda assim a mulher, de olhos negros, profundos, tímida e assustada, teve filhos com o homem que a ameaçava. Durante a maior parte do tempo em que esteve diante da equipe do Estado de Minas, Mariza – novo nome recebido do serviço social de proteção – manteve as mãos tensas, entre os joelhos, na sala de um edifício no Centro de Belo Horizonte. Ao mesmo tempo em que ela descrevia sua trajetória, a procuradora da Advocacia Geral da União (AGU) Ana Alice Moreira de Melo buscava medidas protetivas contra o marido, o empresário Djalma Brugnara Veloso. Não deu tempo.
O trágico desfecho do drama vivido pela bela e bem-sucedida advogada de 35 anos todos já sabem: morta, ao que tudo indica esfaqueada pelo pai de seus dois filhos, em um condomínio de luxo de Nova Lima. As duas histórias revelam que o medo não escolhe classe social para tomar o lugar do amor. Pobre, pouco estudada, Mariza, hoje abrigada em casa secreta na Região Metropolitana de BH, também sabe bem o que é dormir com o inimigo. Procuradora e dona de casa engrossam a estatística dos mais de 30 mil pedidos de proteção baseados na Lei Maria da Penha, voltada para a defesa da mulher, só no ano passado.

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