RÁDIO ITABUNENSE

domingo, maio 20, 2012

Vidas secas

Espinosa, Mamonas, Monte Azul e Porteirinha – O sertanejo é antes de tudo um forte. A constatação de Euclides da Cunha não deixou de ser verdade, mas nem a resistência que chamou a atenção do autor de Os sertões tem sido capaz de vencer o desânimo frente a uma das maiores secas de todos os tempos no Norte e Nordeste de Minas. No seus 78 anos, Celestina de Andrade, moradora da comunidade de Cabeceiras, na zona rural de Mamonas, calejada pelas dificuldades, jamais viu coisa igual. Estiagem houve outras. Muitas. Mas nada, nenhuma, como agora. "Antigamente, a gente perdia os mantimentos (plantações), mas o rio corria. Agora secou. Não tem mais água", diz a aposentada. A barragem do Rio Cabeceiras está lá, no fundo da casa, para provar. Antes responsável por fornecer água para abastecimento da cidade, está vazia. Com isso, para os 6,3 mil habitantes do município, água, só a que brota dos caminhões-pipa. E ela é pouca. O drama em Mamonas é apenas uma das consequências daquela que já é apontada pelos meteorologistas como uma das maiores estiagens da história do estado. A mancha de sede que ela espalha pelo mapa de Minas só faz crescer: já engoliu 96 municípios, todos em estado de emergência, a grande maioria no Norte e no Vale do Jequitinhonha. No seu rastro, a lavoura teve perda que supera 70%; quando não morre, o gado mingua com fome e sede; prefeituras escavam o solo atrás de água para a população, mas pouco encontram. Quando acham, em muitos casos o líquido que chega à superfície é salobro. Banho virou luxo, mantido graças a água de aspecto duvidoso, buscada cada vez mais longe.

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