Danann nasceu menino, biológica e geneticamente. Isso significa que ela possui um cromossomo X e um Y, que define desde a fase embrionária os machos da espécie humana (as fêmeas são XX), e órgãos sexuais masculinos, interna e externamente. Mas, desde que começou a se expressar, aos dois anos, identifica-se como menina.
Quem a vê de legging e camiseta de paetês saltitando pela casa confortável onde mora, na região californiana de Orange County, falando sobre musicais da Broadway ou abraçando o interlocutor com um afeto espontâneo que meninos da mesma idade não costumam demonstrar, não escapa da pergunta feita por Danann diante do espelho. Como alguém pode olhar para aquele rosto e achar que possa ser de um menino?
Afinal, em poucas horas ao seu lado se constata que tudo, em Danann, é feminino, ou ligado àquilo que a sociedade identifica como feminino. E, não raramente, ao extremo: o tom dramático, o gosto por teatro e musicais, o talento vocal treinado em montagens locais amadoras das peças que adora, as roupas cor-de-rosa, os sapatinhos de salto, os brinquedos, os livros, os desenhos, a forma de andar, de falar, de pensar e de se expressar.
Paxton, uma doutora pela Universidade da Califórnia que leciona na unidade local da mesma instituição e atende crianças e adolescentes há mais de 15 anos, lembra que, historicamente, a maioria dos meninos que gostam de se travestir ou de brincar com brinquedos de meninas crescem e se tornam homens gays. "Mas uma pequena porcentagem, e não sabemos qual é esse numero com precisão, cresce como Danann", diz. "Suspeito que ela vá sempre se identificar como mulher, embora não dê para garantir. Ela se mostra coerente."
Danann diz que sempre teve certeza de que era menina. Por seis anos, essa certeza foi solitária.
Do momento em que a criança começou a se expressar até seguirem a orientação da terapeuta e de médicos decidirem pela transição --passar a vesti-la e tratá-la como garota, sem intervenção cirúrgica--, seus pais, a instrutora de ioga Sarah, 40, e o policial Bill, 43, se viram envoltos em dúvidas.
O mais natural, os especialistas explicam, é os pais acreditarem que aquela insistência em vestir-se e apresentar-se e comportar-se como alguém do sexo oposto seja uma fase. E, sem evidências físicas ou genéticas de que haja algo diferente com seus filhos, entender o que está acontecendo com a criança torna-se ainda mais difícil.
"Até o aparecimento da internet, os pais de crianças transgênero tinham certeza de que eram os únicos no planeta a enfrentar o dilema da variação de identidade de gênero diante do sexo genotípica, fenotípica e bioquimicamente coerente do filho", escreve Norman Spock, endocrinologista do Hospital Pediátrico de Boston e professor da Universidade Harvard, no prefácio de "The Transgender Child" (a criança transgênero, Cleis Press, 2008).
Não há estatísticas confiáveis sobre quantas crianças nos Estados Unidos (e menos ainda no mundo) sejam transgênero. Na literatura especializada, médicos, psicólogos e sociólogos evitam palpites, ressaltando que, como não se permitem pesquisas populacionais a esse respeito (por exemplo, não há pergunta sobre filhos transgênero no Censo), muitos casos permanecem encobertos.
As tentativas de fazer a transição, como no caso de Danann, são relativamente recentes: nos EUA, ocorrem há cerca de uma década. A amostragem de adultos e jovens submetidos ao processo --que em crianças e adolescentes de até 16 anos não envolve procedimentos cirúrgicos e se baseia na questão da identidade-- não é suficiente para um estudo mais elaborado.
Um levantamento de 2011, feito pela escola de direito da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e muito citado, estima que 0,3% da população adulta dos EUA, ou cerca de 700 mil indivíduos naquele ano, seja transgênero. Os números se apoiam em pesquisas nos Estados de Massachusetts e Califórnia e em dados reunidos por instituições ligadas à comunidade LGTB (lésbicas, gays, transexuais e bissexuais).
Em "The Transgender Child", as autoras Stephanie Brill e Rachel Pepper citam especialistas que calculam o percentual de crianças transgênero no país em 0,2% --mas alertam que o dado possa estar subestimado. A projeção mais consensual diz que três em cada quatro dessas crianças sejam meninas transexuais (nascidas meninos). Como Danann, observa Cindy Paxton, elas costumam manifestar muito mais cedo o desconforto com o próprio corpo do que os meninos trans, os quais muitas vezes passam a infância como molecas e a adolescência como mulheres lésbicas até concluírem ser homens transexuais.
PERSPECTIVA Nos últimos cinco anos, porém, os casos de crianças transgênero têm se tornado mais proeminentes. "Talk shows", programas de reportagens com grande audiência e o noticiário cotidiano deram visibilidade à questão e acabam ajudando pais como Sarah e Bill a ganharem perspectiva e compreenderem que seu caso está longe de ser um fato isolado e intransponível.
Neste ano, o caso da garotinha transgênero Coy Mathis, 6, mereceu longos minutos na TV americana e manchetes em jornais e sites quando seus pais passaram a educá-la em casa porque a escola onde estudava, no Colorado, proibiu-a de usar o banheiro feminino por considerá-la um menino.
Há duas semanas, Mark e Pam Crawford, da Carolina do Sul, abriram um processo contra o Estado porque seu filho adotivo, nascido com órgãos reprodutivos femininos e masculinos, teve o pênis e os testículos removidos aos 16 meses, sob anuência dos assistentes sociais responsáveis. Hoje, aos oito anos, a criança --adotada pelo casal após o procedimento cirúrgico-- se manifesta como menino, e não como menina.
"Dos poucos arrependimentos que tenho, o que mais me incomoda é não ter sabido como lidar [com Danann] mais cedo", diz Sarah Tyler, que mantém um grupo de apoio, o ShiftHappens ("a transição acontece", um trocadilho com a expressão americana "shit happens", algo como "às vezes, dá merda"), criado com uma amiga cuja filha adolescente, nascida homem, se matou.
Sarah e a amiga se conheceram em um seminário que a Igreja Unida em Cristo, frequentada pela mãe de Danann, organizou para informar os fiéis sobre o tema e para acolher os Tyler. De quatro pessoas no início, o grupo que se reúne uma vez ao mês em Orange County hoje tem 38, incluindo pais ou irmãos de uma mesma criança ou adolescente.
Sarah repassa com frequência a imensa solidão de descobrir aos poucos que seu filho ou filha tem uma incongruência de gênero --termo com que o novo DSM-5 substituiu o criticado "transtorno de identidade de gênero" usado nas versões anteriores do manual de estatística e diagnósticos da psiquiatria. Hoje o que sua filha tem não é considerado uma doença psiquiátrica, embora, como explica Cindy Paxton, o diagnóstico de transtorno muitas vezes seja exigido pelos seguros médicos americanos para cobrirem as despesas.
"Naquela época", lamenta a instrutora de ioga, não tinha nada sobre o assunto na internet. "Nunca tive amigos transgênero. Tenho amigos gays, mais gays do que lésbicas. Mas não transgênero. Muito menos crianças."
Foi, então que, sem saber como as coisas foram dar naquela cena, ela viu Danann tentar se mutilar aos quatro anos. Sarah conta que o flagrou --a mãe ainda mistura os pronomes ao falar do passado-- com uma tesoura infantil nas mãos, o pênis sangrando. "Tentando resolver sozinho o problema'", relembra. "Tirei a tesoura, ele não relutou. Liguei para a emergência. Não sabia o que fazer."
O corte era superficial, mas a situação ia se tornando progressivamente assustadora para os Tyler. Meses mais tarde, no episódio que culminaria com a consulta a Cindy Paxton e a conclusão, logo de cara, de que a criança era transgênero, Danann tentaria se matar.
Naquela altura, Danann já gostava de se fantasiar de personagens femininos e, na festa de Dia das Bruxas daquele ano, havia escolhido ser uma Southern Belle --as moças sulistas do século 19 e início do 20, das quais a personagem Scarlett O'Hara é o ícone maior. O pai achou que eram babados demais. A fase dos vestidos, disse Bill, precisava acabar.
Não era o que Danann achava. A criança saiu arrastada pela mãe da loja de fantasias. Gritou, mordeu, chorou. No caminho de volta, batia com força a cabeça no vidro do carro. "Ela dizia que queria morrer, e eu pensava a qual hospital deveríamos levá-la", lembra Sarah.
Quando a mãe estacionou diante da casa, a criança saltou repentinamente e correu para o meio da rua. Um motorista freou, e, apavorado, pediu desculpas. Danann revidou com tapas e a pergunta: "Por que você freou? Eu quero morrer!".
ROMARIA Depois disso, a romaria por psicólogos e psiquiatras se tornou intensa. Transtorno de deficit de atenção e hiperatividade, bipolaridade: os diagnósticos eram tão variados quanto imprecisos. Até que, no Hospital Infantil de Orange County, um painel de psiquiatras, pediatras e endocrinologistas levantou a hipótese de Danann ser transgênero. "Meu marido queria saber o que diabos isso significava", diz Sarah, que, de sua parte, sentiu-se aliviada por descartar outro dos diagnósticos aventados, o de esquizofrenia.
A suspeita foi confirmada depois pela psicóloga Cindy Paxton, mas para Bill Tyler (e de certa forma, para Sarah) a compreensão do que a filha vivia só viria mesmo com um documentário de TV apresentado pela veterana Barbara Walters, "My Secret Self" ("meu eu secreto") e levado ao ar em 2007.
No programa, a personagem central é Jazz Jennings, uma menina dois anos mais velha que Danann, também transgênero e também segura de sua identidade. Jazz, hoje adolescente, tem página no Facebook, sua própria ONG para crianças transgênero (TransKids Purple Rainbow, algo como "o arco-íris roxo das crianças transgênero"), e é convidada assídua de "talk shows" vespertinos.
"Foi uma revelação", conta Sarah. "Essa garotinha tinha muita coisa igual à Danann, até a queda por sereias [psicólogos atribuem a predileção ao fato de as sereias serem femininas da cintura para cima e indiferenciadas da cintura para baixo]. Ficou óbvio que tínhamos de fazer a transição."
No quarto de Danann não há sereias, ao menos não visíveis. Há uma pilha de livros sobre teatro e musicais. Em uma caixinha, ela guarda seus CDs preferidos. "Esse, do Fantasma da Ópera', você já ouviu? Eu adoro, adoro. É lindo."
Quase tudo no cômodo remonta a musicais e filmes clássicos. "Quero trabalhar na Broadway" é a resposta imediata que Danann dá à pergunta que toda criança ouve inúmeras vezes na infância.
Ela diz ter escolhido o que vai ser quando crescer aos cinco anos, ao ver "O Fantasma da Ópera". No dia da visita da Folha, ensaiava para uma montagem amadora de "Annie", clássico sobre uma garotinha órfã dos anos 30. A história teve uma versão no cinema em 1982, 21 anos antes de Danann nascer. "Também gosto de desenhar. E de ler. Sou bem artística."
E de moda? "Eu gosto", diz, explicando aspectos dos figurinos das peças; conhece de cor os detalhes de diferentes montagens do musical "Wicked", baseado em "O Mágico de Oz", de L. Frank Baum; mostra vídeos de maquiagem da peça e, num palco em miniatura, como uma casinha de bonecas, faz marcações para os atores.
A curiosidade com que Danann enche o interlocutor de perguntas e o vigor com que fala de seus interesses cessa quando o assunto é sua vida de antes da transição. "A escola e as pessoas eram chatas".
Após levarem-na à psicóloga, os pais decidiram tirá-la da escola particular de orientação luterana onde Danann estudava e onde, segundo a família, sofria bullying por querer usar peças de roupa mais femininas ("tops sob a camiseta, pulseirinhas; não vestidos", detalha Sarah). Na escola nova, um colégio público da região, ela se apresenta como menina sob consentimento da direção. Ali, ela tem amigos e, se lhe perguntamos se está feliz, consente com a cabeça, sorrindo, antes de desconversar.
De todos os pertences que tomam seu quarto, o preferido é o pôster com dedicatória de Ricki Lake, uma humorista que tem um "talk show" matutino e com quem, conta a mãe, a menina mantém contato. Danann e Sarah foram duas vezes ao programa. "Eu adoro a Ricki", confirma a criança.
Ela também esteve no programa vespertino do jornalista Anderson Cooper, no ano passado. A aparição rendeu críticas e mensagens agressivas para Sarah, acusando-a de "fazer" aquilo com o filho.
DIVAZINHA A professora de ioga diz que nunca quis ter uma menina. "Queria ser a rainha da minha casa, sozinha. E hoje tenho essa divazinha aí", brinca. "Mas é claro que nenhum pai pode fazer isso com um filho. Você não faz uma pessoa mudar de gênero, não dá. Isso é ela. É Danann."
De nome, aliás, ela não precisará trocar. O que os pais escolheram antes de ela nascer, de origem gaélica, em consonância com a ascendência irlandesa da família, é unissex. Remete ao "Tuatha dé Danann", povo da divindade Danu, espécie de mãe dos deuses e da terra na mitologia celta. O nome, conta Sarah, "pode ser traduzido também como criança de Deus' ou criança das fadas', conforme a versão". "Combina mais com ela do que eu poderia imaginar."
Sarah e Bill têm outro filho, William James, dois anos mais velho que Danann. Mais reservado, o adolescente conhecido como Jamie quando pequeno passou a pedir para ser chamado de James, nome mais másculo, quando a irmã fez a transição. Hoje ele se apresenta como Will e parece entediado com a atenção dispensada a Danann. "Mas ele a defende, e os dois se dão bem", avalia a mãe.
Com o resto da família, a relação não é tão natural. A mãe e a avó de Sarah, que a criaram, aceitaram a transição de pronto. Seu pai e sua avó paterna nunca entenderam o processo, e a família rompeu. Os pais de Bill mantêm contato, mas evitam encontrar a neta.
Danann está sendo monitorada pela endocrinologista pediátrica Susan Clark, do Hospital Infantil de Orange County, para detectar o início da puberdade.
Por decisão da família, dos médicos e sobretudo da própria criança, Clark vai usar inibidores hormonais para "frear" o desenvolvimento das características sexuais secundárias --voz grossa, pelos, pomo-de-adão. É como apertar um botão de pausa, para atenuar o dimorfismo sexual (a diferença de características físicas básicas, como altura) e permitir que, aos 15 ou 16 anos, Danann possa decidir se quer continuar a transição ou manter o sexo com o qual nasceu.
REVERSÍVEL "Tudo feito nessa idade tem de ser reversível; isso é fundamental", enfatiza a psicóloga Paxton. O processo, diz, só pode ser iniciado depois do diagnóstico, e o diagnóstico implica descartar todas as possibilidades de transtornos psiquiátricos. "A criança, por exemplo, não pode ter delírios; tem de ter conexão com a realidade." A terapeuta explica que a conclusão apontada deve ser de que se trata de uma criança típica, cuja única incongruência é estar no corpo errado.
Depois dos supressores, que Danann tomará por toda a vida caso se mantenha na sua decisão, ela poderá, já adolescente, receber hormônios femininos --estrógeno, essencialmente-- para desenvolver seios e outras características das mulheres. Não se fala ainda na eventual cirurgia de mudança de sexo --ou de confirmação de sexo, no jargão dos ativistas (eles também preferem os termos "disforia de gênero" e "variância de gênero" em vez de "incongruência", embora a WPath, maior associação médica de saúde transexual, tenha visto a recente mudança no DSM como um progresso).
Em mais de quatro horas de conversa, apenas uma vez --ao falar das contas da casa-- Sarah mencionou um "fundo de cirurgia de Danann", encadeando-o com um "fundo para a faculdade".
Nos EUA, a legislação quanto à questão cirúrgica e o custo das operações variam conforme o Estado; há casos de adolescentes de 16 anos que passaram pelo processo. Os valores sobem segundo o grau de intervenção; mas, em geral, a retirada do pênis, com a criação de uma vagina revestida com partes do órgão masculino e mais algumas cirurgias plásticas complementares, é estimada em US$ 50 mil (R$ 107 mil), parcialmente cobertos por alguns seguros-saúde.
Em março, a administração do Medicaid --o programa de assistência médica para a população mais pobre mantido pelo governo federal norte-americano-- chegou a anunciar que abriria um debate público sobre a cobertura da cirurgia, mas recuou após 24 horas, preferindo examinar a questão em um procedimento interno sem participação popular.
No Brasil, o SUS cobre a operação, que há dois meses passou a poder ser realizada a partir dos 18 anos, em vez de 21 --o tratamento hormonal pode ser iniciado aos 16.
Sarah especula sobre como será, no futuro, a aparência de Danann, sua aceitação e sua integração à sociedade.
Apesar de haver uma tradição de respeito e admiração por pessoas como Danann em algumas comunidades indígenas dos EUA --à semelhança do que acontece na Tailândia, onde transexuais são vistos como uma alma elevada que alia ambos os sexos (e onde as cirurgias de mudanças de sexo são oferecidas em panfletos distribuídos nas ruas)--, a sociedade americana ainda as vê, em geral, como estranhas, mesmo na comunidade ativista gay e lésbica. A própria Sarah perdeu o emprego em uma proeminente academia de ioga após levar os filhos ao trabalho, em um dia sem babá, e uma das alunas incomodar-se com a criança transexual.
Casos em que a pessoa transgênero é proibida de usar o banheiro destinado ao sexo com o qual se identifica têm proliferado, mas a expectativa dos envolvidos é que a exposição leve à informação e à aceitação. Danann não tem tido esse problema, mas foi expulsa do grupo de bandeirantes após descobrirem que ela nascera menino.
Nos momentos em que visualiza o futuro de Danann com mais otimismo, Sarah cita o exemplo de Christine McGinn. Hoje cirurgiã plástica especializada em mudança de sexo, McGinn, nascida homem, foi membro da Marinha americana e cirurgião de bordo em duas missões da Nasa. "A dra. McGinn, você precisa ver, é linda. Nós a conhecemos na gravação do documentário Trans', e ela disse que, se Danann quiser, fará todo o possível por ela [em termos de cirurgia] no futuro."
Entre seus planos para a Broadway, suas certezas espantosamente maduras para a idade e o que conseguiu até agora, Danann não se enxerga de outra forma, no futuro, que não como mulher.
Sua sexualidade ainda não se manifestou, e não é possível saber, ainda, qual a sua orientação. Paxton e outros estudiosos explicam que o vasto espectro da orientação sexual nem sempre está ligado à identidade de gênero (no passado, chegou-se a descrever os transexuais como homofóbicos radicais: pessoas que sentiam atração sexual e afetiva pelo mesmo sexo, mas não aceitavam esse sentimento e, por isso, achavam que seu sexo biológico estava "errado").
Neste momento, Danann não se interessa por meninos. Para ela, garotos "são muito chatos". Por causa do ativismo, tem duas amiguinhas trans, de sete e nove anos. Sarah, porém, diz que transexualismo nunca é um assunto mencionado entre elas. "Quando se encontram, são apenas menininhas brincando." (Ilustríssima/FSP)
Quem a vê de legging e camiseta de paetês saltitando pela casa confortável onde mora, na região californiana de Orange County, falando sobre musicais da Broadway ou abraçando o interlocutor com um afeto espontâneo que meninos da mesma idade não costumam demonstrar, não escapa da pergunta feita por Danann diante do espelho. Como alguém pode olhar para aquele rosto e achar que possa ser de um menino?
Afinal, em poucas horas ao seu lado se constata que tudo, em Danann, é feminino, ou ligado àquilo que a sociedade identifica como feminino. E, não raramente, ao extremo: o tom dramático, o gosto por teatro e musicais, o talento vocal treinado em montagens locais amadoras das peças que adora, as roupas cor-de-rosa, os sapatinhos de salto, os brinquedos, os livros, os desenhos, a forma de andar, de falar, de pensar e de se expressar.
Paxton, uma doutora pela Universidade da Califórnia que leciona na unidade local da mesma instituição e atende crianças e adolescentes há mais de 15 anos, lembra que, historicamente, a maioria dos meninos que gostam de se travestir ou de brincar com brinquedos de meninas crescem e se tornam homens gays. "Mas uma pequena porcentagem, e não sabemos qual é esse numero com precisão, cresce como Danann", diz. "Suspeito que ela vá sempre se identificar como mulher, embora não dê para garantir. Ela se mostra coerente."
Danann diz que sempre teve certeza de que era menina. Por seis anos, essa certeza foi solitária.
Do momento em que a criança começou a se expressar até seguirem a orientação da terapeuta e de médicos decidirem pela transição --passar a vesti-la e tratá-la como garota, sem intervenção cirúrgica--, seus pais, a instrutora de ioga Sarah, 40, e o policial Bill, 43, se viram envoltos em dúvidas.
O mais natural, os especialistas explicam, é os pais acreditarem que aquela insistência em vestir-se e apresentar-se e comportar-se como alguém do sexo oposto seja uma fase. E, sem evidências físicas ou genéticas de que haja algo diferente com seus filhos, entender o que está acontecendo com a criança torna-se ainda mais difícil.
"Até o aparecimento da internet, os pais de crianças transgênero tinham certeza de que eram os únicos no planeta a enfrentar o dilema da variação de identidade de gênero diante do sexo genotípica, fenotípica e bioquimicamente coerente do filho", escreve Norman Spock, endocrinologista do Hospital Pediátrico de Boston e professor da Universidade Harvard, no prefácio de "The Transgender Child" (a criança transgênero, Cleis Press, 2008).
Não há estatísticas confiáveis sobre quantas crianças nos Estados Unidos (e menos ainda no mundo) sejam transgênero. Na literatura especializada, médicos, psicólogos e sociólogos evitam palpites, ressaltando que, como não se permitem pesquisas populacionais a esse respeito (por exemplo, não há pergunta sobre filhos transgênero no Censo), muitos casos permanecem encobertos.
As tentativas de fazer a transição, como no caso de Danann, são relativamente recentes: nos EUA, ocorrem há cerca de uma década. A amostragem de adultos e jovens submetidos ao processo --que em crianças e adolescentes de até 16 anos não envolve procedimentos cirúrgicos e se baseia na questão da identidade-- não é suficiente para um estudo mais elaborado.
Um levantamento de 2011, feito pela escola de direito da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e muito citado, estima que 0,3% da população adulta dos EUA, ou cerca de 700 mil indivíduos naquele ano, seja transgênero. Os números se apoiam em pesquisas nos Estados de Massachusetts e Califórnia e em dados reunidos por instituições ligadas à comunidade LGTB (lésbicas, gays, transexuais e bissexuais).
Em "The Transgender Child", as autoras Stephanie Brill e Rachel Pepper citam especialistas que calculam o percentual de crianças transgênero no país em 0,2% --mas alertam que o dado possa estar subestimado. A projeção mais consensual diz que três em cada quatro dessas crianças sejam meninas transexuais (nascidas meninos). Como Danann, observa Cindy Paxton, elas costumam manifestar muito mais cedo o desconforto com o próprio corpo do que os meninos trans, os quais muitas vezes passam a infância como molecas e a adolescência como mulheres lésbicas até concluírem ser homens transexuais.
PERSPECTIVA Nos últimos cinco anos, porém, os casos de crianças transgênero têm se tornado mais proeminentes. "Talk shows", programas de reportagens com grande audiência e o noticiário cotidiano deram visibilidade à questão e acabam ajudando pais como Sarah e Bill a ganharem perspectiva e compreenderem que seu caso está longe de ser um fato isolado e intransponível.
Neste ano, o caso da garotinha transgênero Coy Mathis, 6, mereceu longos minutos na TV americana e manchetes em jornais e sites quando seus pais passaram a educá-la em casa porque a escola onde estudava, no Colorado, proibiu-a de usar o banheiro feminino por considerá-la um menino.
Há duas semanas, Mark e Pam Crawford, da Carolina do Sul, abriram um processo contra o Estado porque seu filho adotivo, nascido com órgãos reprodutivos femininos e masculinos, teve o pênis e os testículos removidos aos 16 meses, sob anuência dos assistentes sociais responsáveis. Hoje, aos oito anos, a criança --adotada pelo casal após o procedimento cirúrgico-- se manifesta como menino, e não como menina.
"Dos poucos arrependimentos que tenho, o que mais me incomoda é não ter sabido como lidar [com Danann] mais cedo", diz Sarah Tyler, que mantém um grupo de apoio, o ShiftHappens ("a transição acontece", um trocadilho com a expressão americana "shit happens", algo como "às vezes, dá merda"), criado com uma amiga cuja filha adolescente, nascida homem, se matou.
Sarah e a amiga se conheceram em um seminário que a Igreja Unida em Cristo, frequentada pela mãe de Danann, organizou para informar os fiéis sobre o tema e para acolher os Tyler. De quatro pessoas no início, o grupo que se reúne uma vez ao mês em Orange County hoje tem 38, incluindo pais ou irmãos de uma mesma criança ou adolescente.
Sarah repassa com frequência a imensa solidão de descobrir aos poucos que seu filho ou filha tem uma incongruência de gênero --termo com que o novo DSM-5 substituiu o criticado "transtorno de identidade de gênero" usado nas versões anteriores do manual de estatística e diagnósticos da psiquiatria. Hoje o que sua filha tem não é considerado uma doença psiquiátrica, embora, como explica Cindy Paxton, o diagnóstico de transtorno muitas vezes seja exigido pelos seguros médicos americanos para cobrirem as despesas.
"Naquela época", lamenta a instrutora de ioga, não tinha nada sobre o assunto na internet. "Nunca tive amigos transgênero. Tenho amigos gays, mais gays do que lésbicas. Mas não transgênero. Muito menos crianças."
Foi, então que, sem saber como as coisas foram dar naquela cena, ela viu Danann tentar se mutilar aos quatro anos. Sarah conta que o flagrou --a mãe ainda mistura os pronomes ao falar do passado-- com uma tesoura infantil nas mãos, o pênis sangrando. "Tentando resolver sozinho o problema'", relembra. "Tirei a tesoura, ele não relutou. Liguei para a emergência. Não sabia o que fazer."
O corte era superficial, mas a situação ia se tornando progressivamente assustadora para os Tyler. Meses mais tarde, no episódio que culminaria com a consulta a Cindy Paxton e a conclusão, logo de cara, de que a criança era transgênero, Danann tentaria se matar.
Naquela altura, Danann já gostava de se fantasiar de personagens femininos e, na festa de Dia das Bruxas daquele ano, havia escolhido ser uma Southern Belle --as moças sulistas do século 19 e início do 20, das quais a personagem Scarlett O'Hara é o ícone maior. O pai achou que eram babados demais. A fase dos vestidos, disse Bill, precisava acabar.
Não era o que Danann achava. A criança saiu arrastada pela mãe da loja de fantasias. Gritou, mordeu, chorou. No caminho de volta, batia com força a cabeça no vidro do carro. "Ela dizia que queria morrer, e eu pensava a qual hospital deveríamos levá-la", lembra Sarah.
Quando a mãe estacionou diante da casa, a criança saltou repentinamente e correu para o meio da rua. Um motorista freou, e, apavorado, pediu desculpas. Danann revidou com tapas e a pergunta: "Por que você freou? Eu quero morrer!".
ROMARIA Depois disso, a romaria por psicólogos e psiquiatras se tornou intensa. Transtorno de deficit de atenção e hiperatividade, bipolaridade: os diagnósticos eram tão variados quanto imprecisos. Até que, no Hospital Infantil de Orange County, um painel de psiquiatras, pediatras e endocrinologistas levantou a hipótese de Danann ser transgênero. "Meu marido queria saber o que diabos isso significava", diz Sarah, que, de sua parte, sentiu-se aliviada por descartar outro dos diagnósticos aventados, o de esquizofrenia.
A suspeita foi confirmada depois pela psicóloga Cindy Paxton, mas para Bill Tyler (e de certa forma, para Sarah) a compreensão do que a filha vivia só viria mesmo com um documentário de TV apresentado pela veterana Barbara Walters, "My Secret Self" ("meu eu secreto") e levado ao ar em 2007.
No programa, a personagem central é Jazz Jennings, uma menina dois anos mais velha que Danann, também transgênero e também segura de sua identidade. Jazz, hoje adolescente, tem página no Facebook, sua própria ONG para crianças transgênero (TransKids Purple Rainbow, algo como "o arco-íris roxo das crianças transgênero"), e é convidada assídua de "talk shows" vespertinos.
"Foi uma revelação", conta Sarah. "Essa garotinha tinha muita coisa igual à Danann, até a queda por sereias [psicólogos atribuem a predileção ao fato de as sereias serem femininas da cintura para cima e indiferenciadas da cintura para baixo]. Ficou óbvio que tínhamos de fazer a transição."
No quarto de Danann não há sereias, ao menos não visíveis. Há uma pilha de livros sobre teatro e musicais. Em uma caixinha, ela guarda seus CDs preferidos. "Esse, do Fantasma da Ópera', você já ouviu? Eu adoro, adoro. É lindo."
Quase tudo no cômodo remonta a musicais e filmes clássicos. "Quero trabalhar na Broadway" é a resposta imediata que Danann dá à pergunta que toda criança ouve inúmeras vezes na infância.
Ela diz ter escolhido o que vai ser quando crescer aos cinco anos, ao ver "O Fantasma da Ópera". No dia da visita da Folha, ensaiava para uma montagem amadora de "Annie", clássico sobre uma garotinha órfã dos anos 30. A história teve uma versão no cinema em 1982, 21 anos antes de Danann nascer. "Também gosto de desenhar. E de ler. Sou bem artística."
E de moda? "Eu gosto", diz, explicando aspectos dos figurinos das peças; conhece de cor os detalhes de diferentes montagens do musical "Wicked", baseado em "O Mágico de Oz", de L. Frank Baum; mostra vídeos de maquiagem da peça e, num palco em miniatura, como uma casinha de bonecas, faz marcações para os atores.
A curiosidade com que Danann enche o interlocutor de perguntas e o vigor com que fala de seus interesses cessa quando o assunto é sua vida de antes da transição. "A escola e as pessoas eram chatas".
Após levarem-na à psicóloga, os pais decidiram tirá-la da escola particular de orientação luterana onde Danann estudava e onde, segundo a família, sofria bullying por querer usar peças de roupa mais femininas ("tops sob a camiseta, pulseirinhas; não vestidos", detalha Sarah). Na escola nova, um colégio público da região, ela se apresenta como menina sob consentimento da direção. Ali, ela tem amigos e, se lhe perguntamos se está feliz, consente com a cabeça, sorrindo, antes de desconversar.
De todos os pertences que tomam seu quarto, o preferido é o pôster com dedicatória de Ricki Lake, uma humorista que tem um "talk show" matutino e com quem, conta a mãe, a menina mantém contato. Danann e Sarah foram duas vezes ao programa. "Eu adoro a Ricki", confirma a criança.
Ela também esteve no programa vespertino do jornalista Anderson Cooper, no ano passado. A aparição rendeu críticas e mensagens agressivas para Sarah, acusando-a de "fazer" aquilo com o filho.
DIVAZINHA A professora de ioga diz que nunca quis ter uma menina. "Queria ser a rainha da minha casa, sozinha. E hoje tenho essa divazinha aí", brinca. "Mas é claro que nenhum pai pode fazer isso com um filho. Você não faz uma pessoa mudar de gênero, não dá. Isso é ela. É Danann."
De nome, aliás, ela não precisará trocar. O que os pais escolheram antes de ela nascer, de origem gaélica, em consonância com a ascendência irlandesa da família, é unissex. Remete ao "Tuatha dé Danann", povo da divindade Danu, espécie de mãe dos deuses e da terra na mitologia celta. O nome, conta Sarah, "pode ser traduzido também como criança de Deus' ou criança das fadas', conforme a versão". "Combina mais com ela do que eu poderia imaginar."
Sarah e Bill têm outro filho, William James, dois anos mais velho que Danann. Mais reservado, o adolescente conhecido como Jamie quando pequeno passou a pedir para ser chamado de James, nome mais másculo, quando a irmã fez a transição. Hoje ele se apresenta como Will e parece entediado com a atenção dispensada a Danann. "Mas ele a defende, e os dois se dão bem", avalia a mãe.
Com o resto da família, a relação não é tão natural. A mãe e a avó de Sarah, que a criaram, aceitaram a transição de pronto. Seu pai e sua avó paterna nunca entenderam o processo, e a família rompeu. Os pais de Bill mantêm contato, mas evitam encontrar a neta.
Danann está sendo monitorada pela endocrinologista pediátrica Susan Clark, do Hospital Infantil de Orange County, para detectar o início da puberdade.
Por decisão da família, dos médicos e sobretudo da própria criança, Clark vai usar inibidores hormonais para "frear" o desenvolvimento das características sexuais secundárias --voz grossa, pelos, pomo-de-adão. É como apertar um botão de pausa, para atenuar o dimorfismo sexual (a diferença de características físicas básicas, como altura) e permitir que, aos 15 ou 16 anos, Danann possa decidir se quer continuar a transição ou manter o sexo com o qual nasceu.
REVERSÍVEL "Tudo feito nessa idade tem de ser reversível; isso é fundamental", enfatiza a psicóloga Paxton. O processo, diz, só pode ser iniciado depois do diagnóstico, e o diagnóstico implica descartar todas as possibilidades de transtornos psiquiátricos. "A criança, por exemplo, não pode ter delírios; tem de ter conexão com a realidade." A terapeuta explica que a conclusão apontada deve ser de que se trata de uma criança típica, cuja única incongruência é estar no corpo errado.
Depois dos supressores, que Danann tomará por toda a vida caso se mantenha na sua decisão, ela poderá, já adolescente, receber hormônios femininos --estrógeno, essencialmente-- para desenvolver seios e outras características das mulheres. Não se fala ainda na eventual cirurgia de mudança de sexo --ou de confirmação de sexo, no jargão dos ativistas (eles também preferem os termos "disforia de gênero" e "variância de gênero" em vez de "incongruência", embora a WPath, maior associação médica de saúde transexual, tenha visto a recente mudança no DSM como um progresso).
Em mais de quatro horas de conversa, apenas uma vez --ao falar das contas da casa-- Sarah mencionou um "fundo de cirurgia de Danann", encadeando-o com um "fundo para a faculdade".
Nos EUA, a legislação quanto à questão cirúrgica e o custo das operações variam conforme o Estado; há casos de adolescentes de 16 anos que passaram pelo processo. Os valores sobem segundo o grau de intervenção; mas, em geral, a retirada do pênis, com a criação de uma vagina revestida com partes do órgão masculino e mais algumas cirurgias plásticas complementares, é estimada em US$ 50 mil (R$ 107 mil), parcialmente cobertos por alguns seguros-saúde.
Em março, a administração do Medicaid --o programa de assistência médica para a população mais pobre mantido pelo governo federal norte-americano-- chegou a anunciar que abriria um debate público sobre a cobertura da cirurgia, mas recuou após 24 horas, preferindo examinar a questão em um procedimento interno sem participação popular.
No Brasil, o SUS cobre a operação, que há dois meses passou a poder ser realizada a partir dos 18 anos, em vez de 21 --o tratamento hormonal pode ser iniciado aos 16.
Sarah especula sobre como será, no futuro, a aparência de Danann, sua aceitação e sua integração à sociedade.
Apesar de haver uma tradição de respeito e admiração por pessoas como Danann em algumas comunidades indígenas dos EUA --à semelhança do que acontece na Tailândia, onde transexuais são vistos como uma alma elevada que alia ambos os sexos (e onde as cirurgias de mudanças de sexo são oferecidas em panfletos distribuídos nas ruas)--, a sociedade americana ainda as vê, em geral, como estranhas, mesmo na comunidade ativista gay e lésbica. A própria Sarah perdeu o emprego em uma proeminente academia de ioga após levar os filhos ao trabalho, em um dia sem babá, e uma das alunas incomodar-se com a criança transexual.
Casos em que a pessoa transgênero é proibida de usar o banheiro destinado ao sexo com o qual se identifica têm proliferado, mas a expectativa dos envolvidos é que a exposição leve à informação e à aceitação. Danann não tem tido esse problema, mas foi expulsa do grupo de bandeirantes após descobrirem que ela nascera menino.
Nos momentos em que visualiza o futuro de Danann com mais otimismo, Sarah cita o exemplo de Christine McGinn. Hoje cirurgiã plástica especializada em mudança de sexo, McGinn, nascida homem, foi membro da Marinha americana e cirurgião de bordo em duas missões da Nasa. "A dra. McGinn, você precisa ver, é linda. Nós a conhecemos na gravação do documentário Trans', e ela disse que, se Danann quiser, fará todo o possível por ela [em termos de cirurgia] no futuro."
Entre seus planos para a Broadway, suas certezas espantosamente maduras para a idade e o que conseguiu até agora, Danann não se enxerga de outra forma, no futuro, que não como mulher.
Sua sexualidade ainda não se manifestou, e não é possível saber, ainda, qual a sua orientação. Paxton e outros estudiosos explicam que o vasto espectro da orientação sexual nem sempre está ligado à identidade de gênero (no passado, chegou-se a descrever os transexuais como homofóbicos radicais: pessoas que sentiam atração sexual e afetiva pelo mesmo sexo, mas não aceitavam esse sentimento e, por isso, achavam que seu sexo biológico estava "errado").
Neste momento, Danann não se interessa por meninos. Para ela, garotos "são muito chatos". Por causa do ativismo, tem duas amiguinhas trans, de sete e nove anos. Sarah, porém, diz que transexualismo nunca é um assunto mencionado entre elas. "Quando se encontram, são apenas menininhas brincando." (Ilustríssima/FSP)
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