Não é novidade que o Brasil está entre os grandes produtores de cacau como commoditie e por anos ostentou o título de maior produtor mundial, no entanto, o beneficiamento sempre foi feito "lá fora" e agora, a proposta é tornar o país uma referência mundial na produção de chocolate. A Bahia sai na frente na produção de cacau e chocolate fino. Para driblar a crise instalada na região, os produtores decidiram investir em uma produção refinada, com cuidados específicos para encontrar uma qualidade superior. É o caso do produtor João Tavares, que há oito anos decidiu mudar a realidade de sua propriedade produzindo o cacau gourmet. O produtor conta que, no princípio, outros tantos não acreditavam na possibilidade de produzir um cacau que atraísse o olhar de chefs estrangeiros, tão pouco, fosse agregar valor que suprisse tamanho investimento, uma vez que, para alcançar um cacau fino, é preciso cuidados diferenciados desde a escolha dos frutos, passando pela colheita, quebra, fermentação, secagem e até o armazenamento necessita de atenção especial. Tavares buscou conhecimento, pesquisou e começou a tarefa de andar na contra mão da realidade regional.
“Passamos três anos entre pesquisas e estudos. E há cinco anos a produção de cacau tomou uma proporção diferente e ganhou velocidade”, conta o produtor. Os primeiros resultados chegaram há quatro anos, quando ganhou dois prêmios no Salon du Chocolat de Paris – maior evento destinado ao cacau e chocolate do mundo, com as amêndoas especiais, em 2010 conquistou a categoria “cacau/chocolate” e em 2011 “frutas secas”. Hoje, a João Tavares assina uma linha especial de chocolate produzido pela Harald com amêndoas de sua propriedade e coleciona clientes especiais, a exemplo da chef Samanta Aquim que produziu uma caixa especial tão inédita em seu sabor que recebeu interpretação e designer de Oscar Niemeyer. Outros produtores seguem os passos e já conquistaram títulos por qualidade das amêndoas nos anos seguintes no mesmo evento. O grande desafio do setor atualmente é a reputação no mercado, que está sendo construída passo a passo. Nos estados da Bahia e Pará (que também tem produção de cacau fino e chocolate de qualidade) o setor investe na conscientização do mercado, promovendo, por exemplo, o Festival Internacional do Chocolate e cacau, uma oportunidade de reunir toda a cadeia produtiva para ampliar as discussões e encontrar soluções de mercado. Em Ilhéus, a sexta edição do evento, que teve fim no último domingo, 27 de julho, o ponto alto, foi a realização do II Fórum do Cacau que uniu indústria, chefs, críticos gastronômicos e produtores de cacau em uma tarde de difusão de informações em torno dessa produção nacional, a fim de, também, entender o comportamento de mercado e melhorar a produção nacional. Para Ernesto Neugebauer, presidente da Harald, que já utiliza as amêndoas da Bahia e Pará, e produz o chocolate 100% brasileiro, a qualidade do chocolate é o diferencial para conquistar o mercado. "Temos de fazer um produto 10% melhor do que o normal para os europeus, para que eles achem o nosso chocolate minimamente igual ao deles". A rentabilidade da produção, que chegou a ser dúvida entre os produtores, hoje mostra que é ainda mais viável que o esperado, chegando a um diferencial de até 80% a mais que a produção do cacau tradicional comercializada em bolsa. (Mercado do Cacau)
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